
Sempre fui um defensor de
Carlos Queiroz como Seleccionador Nacional. Depois de 6 anos em que Scolari se fez rodear de um grupo restrito de jogadores, a tão mediatizada "família Scolari", o estado de podridão e pobreza em que foi deixada a formação a nível de Selecções, goste-se ou não de Felipão, obrigava a mudanças e a uma re-estruturação drástica. Precisava-se de alguém conhecedor da "casa" e com créditos firmados na importante (e em Portugal extremamente problemática) fase de transição de um jogador de futebol de júnior para sénior, para o futebol "a sério". E para tal tarefa, penso eu, ninguém melhor que o Prof. Queiroz, bi-campeão mundial sub-20 e campeão europeu de sub-17. É nessa perspectiva que compreendo o contracto de 4 anos que foi celebrado entre Federação e técnico. Eram necessários tempo (provavelmente nem 4 anos seriam suficientes) e condições para re-organizar a estrutura da formação, de forma a suavizar o processo de transição para a Selecção AA.
Sejamos claros. O (relativo) sucesso que Portugal teve em Europeus e Mundiais na primeira década do Século XXI não se deve a Scolari, António Oliveira ou Gilberto Madaíl. Deve-se sim a uma geração única no nosso futebol, que nos deu a conhecer génios e, acima de tudo homens, como João Vieira Pinto, Rui Costa, Luís Figo, Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, Sérgio Conceição, Paulo Sousa, Nuno Gomes, Pauleta, Jorge Andrade, entre outros. Uma geração que mais tarde foi complementada pelo Super-Porto de Mourinho (que considero ter mais mérito no segundo lugar de Portugal no Euro 2004 do que o Seleccionador brasileiro), com Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Maniche e Deco, aos quais se juntou ainda Cristiano Ronaldo. Porém, agora, tudo isto (quase tudo) acabou. Resta uma mescla de jogadores que apesar de se terem destacado a nível de clubes, viveram muitos anos na sombra da "família Scolari". À maioria não lhes falta qualidade, falta cultura de Selecção e experiência internacional.
Foi neste contexto, de uma transição difícil mas urgentemente necessária, que se jogaram a Fase de Apuramento e a Fase Final do Mundial da África do Sul. Portugal não deslumbrou, é verdade, mas na minha opinião é falso, é irrealista, dizer-se que os objectivos mínimos não foram cumpridos. Como diz Mourinho "No eggs, no omlets!". Faltou certamente garra e audácia, como faltou também uma estrutura federativa competente e bem organizada, capaz de fechar o grupo de jogadores do assédio por parte da comunicação social. Foi nessa vulnerabilidade que começou o processo de linchamento público do qual Carlos Queiroz tem sido vítima. Foi também através da comunicação social que o maior responsável por todo este processo, o Secretário de Estado Laurentino Dias, se começou a intrometer nos assuntos da Selecção, mandando os jogadores "falarem menos e jogarem mais".
Após o afastamento de Portugal do Mundial e com o vasto número de declarações infelizes de jogadores, responsáveis e equipa técnica, a comunicação social iniciou um ataque cerrado ao Seleccionador. Vendo-se pressionado pela opinião pública, Laurentino Dias decidiu que era politicamente necessário afastar a equipa técnica, encabeçada por Carlos Queiroz. Não havendo razões de mérito desportivo para o fazer, desenterrou-se então o incidente com o ADop, onde se transformou um insulto numa grave tentativa de bloquear um controlo anti-dopagem. Onde estavam estes moralistas quando Scolari tentou agredir Dragutinovic em pleno relvado? Alguém tem dúvidas que se Portugal tivesse atingido as Meias-Finais ou a Final do Mundial não se tinha desenterrado a "c*** da mãe do Luís Horta" do baú? O resto do processo é do conhecimento público e sobre isso não me vou alongar mais.
Resta agora olhar para o futuro após a mais que provável saída de Queiroz, a qual deverá ser anunciada na reunião de hoje (quinta-feira) dos mais altos quadros federativos. O que acontecerá aos verdadeiros responsáveis pelo estado amorfo em que o futebol português se encontra? Nada! Laurentino Dias continuará no seu cadeirão pronto a apontar o dedo sempre que se levantar uma onda negativa na opinião pública em relação ao futebol e Gilberto Madaíl, que demonstrou, uma vez mais, não estar disponível para defender os interesses do futebol português, vai-se continuar a perpetuar no topo da estrutura federativa, tal como Amândio de Carvalho, por muitos considerado como o maior responsável pelo "Caso Saltillo".
A única mudança resumir-se-á então à ponta do iceberg, o lugar de Seleccionador Nacional. Olhando para as hipóteses possíveis, vislumbram-se poucas alternativas viáveis. Em cima da mesa, segundo a imprensa, estão alguns técnicos estrangeiros de créditos provados, com Luis Aragonés e Javier Aguirre à cabeça, sendo que Paulo Bento também vem sendo falado. Espero que nem uns nem outro. Os primeiros (sobre quem severá recaír a escolha) porque não são portugueses, algo que deveria ser condição necessária para se sentar no banco de suplentes. O segundo porque é mau treinador. Na maneira como olho para este problema, penso que a escolha deveria recaír sobre alguém que, tal como Queiroz, conheça o futebol português desde as bases e que tenha a tal "cultura de Selecção". Jesualdo Ferreira (não gosto do estilo, mas reconheço-lhe mérito) seria uma escolha óbvia e, para mim, a mais acertada. Conhece a "casa", onde trabalhou durante muitos anos, está numa fase madura da carreira e identifica-se com o esquema táctico primordialmente utilizado pela Selecção, o 4-3-3, que tão bem soube trabalhar no FC Porto. No entanto, o contrato recentemente assinado com o Málaga, iria provavelmente inviabilizar esta escolha. Além de Jesualdo, não encontro nenhum treinador português experiente que preencha os requisitos necessários para ser Seleccionador (Manuel Cajuda e Manuel José não me parecem boas opções). Porque não então apostar em alguém mais novo, alguém conhecedor do futebol moderno? Paulo Sousa vem fazendo um trabalho interessante em Inglaterra e passou pelas várias etapas da formação até se formar como um grande jogador nos AA's. Conhece a "casa" e tem, como poucos, "cultura de Selecção". Não seria certamente uma escolha consensual e não estará nesta altura nos planos da Federação, mas se há momento para arriscar, é agora, quando nada pode correr pior do que já está. Portugal não tem nada a perder.
No entanto, infelizmente, o escolhido vai muito provavelmente ser estrangeiro. Quem quer que seja vai encontrar uma Selecção triste, amorfa e desmotivada. Porém, encontrará também uma Selecção onde começam a aparecer soluções para os lugares habitualmente vistos como problemáticos. Na baliza, e apesar dos recentes erros, há Eduardo (não podemos esquecer o fantástico Mundial que "adormeceu" dois meses o "fantasma" que existe na baliza portuguesa), sendo que Daniel Fernandes e Rui Patrício, com tempo, também lá poderão chegar; nas laterais surgem opções de futuro, mas que já dão garantias no imediato, Coentrão e Sílvio; No meio-campo, Meireles e Tiago ganharam maturidade e experiência internacional, são opções válidas. Manuel Fernandes necessitará de maior regularidade e utilização para atingir os patamares desejados. Veloso e Amorim oferecem confiança e polivalência. Hugo Almeida (muito criticado ao início), é agora um jogador importante na manobra ofensiva da Selecção. Quaresma parece ressuscitado, Varela e Danny são boas opções, Nani tem muito para oferecer à Selecção. Resta encontrar um verdadeiro líder dentro de campo (Bruno Alves?) e enquadrar Cristiano Ronaldo neste necessário que, em termos de recursos humanos, me parece bem mais favorável do que aquele que existia há dois anos. Portugal tem tudo para dar certo. Falta, no entanto, uma estrutura federativa que crie as condições necessárias ao sucesso da equipa, e isso, infelizmente, parece que ainda vai demorar muito tempo a acontecer...
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