Recordando...Dani

Um dia, Nuno Gomes disse sobre ele " foi o jogador mais talentoso com quem alguma vez joguei".
Daniel da Cruz Carvalho, mais conhecido no universo do futebol como Dani, nasceu em Lisboa a 2/11/1976, no seio de uma família da classe média, um contexto pouco comum para um jogador de futebol. Ao pé esquerdo de craveira mundial, do qual saíam passes, remates e fintas ao nível dos melhores, e à muito boa visão de jogo, Dani juntava ainda uma capacidade de discurso bastante superior à de um jogador de futebol comum.

Dani deu os seus primeiros passos no futebol na famosa cantera do Sporting C.P. ainda antes de completar 10 anos, sendo descoberto durante umas férias de Verão por Aurélio Pereira. Nos primeiros anos de formação foi utilizado como lateral esquerdo, devido à qualidade fora de série do seu pé canhoto. Contudo, o tempo levou-o à posição de nº 10, onde se haveria de fixar. Paralelamente ao seu caminho na formação leonina, fez também parte de todas as selecções jovens, sendo inclusivé campeão europeu sub-18 (com apenas 17 anos) em 1994 (Espanha), o que motivou a sua chamada ao plantel principal do Sporting pelo então treinador, o Prof. Carlos Queiroz. Já nesta altura Dani começava a evidenciar a sua atitude pouco profissional face ao futebol, dando tanto importância à sua vida como futebolista como à sua vida nocturna.

Em 1994/1995, o Sporting tinha provavelmente um dos seus melhores plantéis de sempre, que só não se tinha sagrado campeão em 1994, porque encontrou pela sua frente o célebre Benfica de João V. Pinto, Rui Costa, Isaías e Paneira. Este era o Sporting de Naybet, Valckx, Vujacic, Marco Aurélio, Oceano, Balakov, Luís Figo, Emílio Peixe, Juskowiak, Amunike, Cadete, Iordanov, Capucho e Sá Pinto. No meio desta constelação de estrelas, Dani fez apenas 10 jogos na sua primeira época na equipa sénior, ajudando a equipa na conquista da Taça de Portugal frente ao Marítimo (bis de Iordanov).

No Verão de 1995, Dani fez parte da fantástica equipa portuguesa que participou no Campeonato do Mundo sub-20 no Qatar, alcançando um excelente 3º lugar. Brilhou ao lado de Quim, Beto, Mário Silva, Bruno Caires, Edgar e Nuno Gomes, o jovem 10 português foi considerado o segundo melhor jogador da competição e foi também o segundo melhor marcador (o artilheiro foi Etxeberria). Para a história fica uma exibição fenomenal na vitória por 3-0 frente à Holanda, onde apontou um golo de canto directo e protagonizou um dos golos mais originais já alguma vez vistos: "canto de mangas arregaçadas" na direita, Dani envolve-se numa suposta discussão com Bruno Caires sobre quem marcaria o livre e, no meio de empurrões, centra para o segundo poste onde Agostinho, face à perplexidade da equipa contrária, cabeceia para o fundo da baliza.


Dani era agora considerado como um dos melhores jogadores da sua geração, mas o jovem jogador não digeriu bem a fama. Na época de 1996, a sua falta de profissionalismo leva o ainda técnico do Sporting Carlos Queiroz (que nesta altura dizia que Afonso Martins ia ser um dos melhores jogadores do Mundo) a devolvê-lo à equipa de juniores. Sem espaço no plantel, é emprestado em Janeiro ao West Ham de Harry Redknapp. Na Premier League, Dani foi companheiro de Rio Ferdinand, Frank Lampard, Dumitrescu e Slaven Bilic. Começou da melhor forma, marcando um golo na sua estreia frente ao Tottenham e fazendo algumas boas exibições. Porém, mais uma vez a noite (desta vez londrina) falou mais alto e após 9 jogos (e 2 golos) Redknapp devolveu-o ao seu clube de origem, sugerindo até que mudasse de profissão pois o seu estilo de vida não se adequava ao de um futebolista profissional. Sobre Dani, o actual treinador dos Spurs disse ainda: "Dani is so good-looking I don't know whether to play him or fuck him" .

Depois deste falhanço, Dani não é convocado para o Europeu desse ano, disputado em Inglaterra. Procura então relançar a sua carreira nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, cuja medalha de ouro foi para a Nigéria (mais tarde provou-se que muitos dos seus jogadores tinham nesta altura mais do que 23 anos). Mais uma vez a comitiva portuguesa tem um desempenho muito positivo (manchado apenas pela derrota por 5-0 com o Brasil) e mais uma vez Dani aproveita a oportunidade para brilhar junto aos melhores da sua geração (Nestes Jogos estiveram jogadores como Ortega, Simeone, Verón, Zanetti, Crespo, Cláudio Lopez, Ronaldo "fenómeno", Roberto Carlos, Rivaldo, Bebeto, Taribo West, Okocha, Kanu, Bossio, etc.). A equipa portuguesa era composta por jogadores de grande qualidade. Ao lado de vários que, com Dani, haviam estado no Mundial sub-20, estavam também Rui Bento, Peixe, Capucho, Rui Jorge, Litos, Luís Vidigal, Calado, Sérgio Conceição, Kenedy, José Dominguez, Paulo Alves, Nuno "Golos" e Porfírio.

A boa prestação nesta competição de grande projecção, leva o poderoso Ajax dos anos 90 a contratar a jovem promessa portuguesa. O lendário clube de Amsterdão havia ganho a Champions no ano de 1995 e perdido a final em 1996 para a Juventus na marcação de grandes penalidades. A ArenA de Amesterdão tinha acabado de ser construída. O clube era orientado por Louis Van Gaal e tinha nesta altura jogadores como Van der Sar, Bogarde, Blind, Franck e Ronald de Boer, Litmanen, Kluivert e Overmars. Mais uma vez, Dani não podia esperar melhor estreia, ao bisar num jogo frente ao Rangers para a Champions. Também nesta época, o jogador português marca um importante e bonito golo nos quartos de final desta competição frente ao Atlético de Madrid. Na sua passagem pela Eridivisie, Dani deixou algumas boas recordações no aspecto futebolístico, ostentando por diversas vezes na camisola o lendário 14 de Cruyff (hoje em dia retirado de circulação). Foi um jogador muito acarinhado pelos adeptos, sobretudo as do sexo feminino. Contudo, nunca atingiu a regularidade necessária para ser um indiscutível no "onze" holandês e para se afirmar como o craque de nível mundial que poderia ter sido. Época após época foi-se perdendo na noite daquela cidade e o seu futebol foi piorando, já sob o comando de Morten Olson. Foi campeão holandês por uma vez (1998) e venceu também a Taça por duas vezes (98 e 99). Fez um total de 72 jogos (12 golos para o campeonato). Foi ainda colega de Michael Laudrup, Arveladze, Oliseh, Gronkjaer, McCarthy, Chivu, Winter, Van der Vaart, Brian Laudrup e Machlas. O Ajax nunca mais viria a ser o mesmo, pois a Lei Bosman acabou por desmantelar a equipa de sonho de 1995.

Em 2000/2001, com muitos quilos a mais e sem lugar no Ajax de Co Adriaanse, Dani ingressa no S.L. Benfica, nessa altura treinado por José Mourinho. Faz apenas 5 jogos para o campeonato onde não deslumbrou, mas também não fez má figura. Quando começava a ganhar espaço na equipa é dispensado por, adivinhe-se, má conduta disciplinar e Paulo Futre leva-o para o Atlético de Madrid.

Por esta altura, O Atleti jogava a primeira de duas épocas na segunda divisão espanhola. Na segunda época em Madrid, Dani faz uma das suas melhores épocas de sempre (10 golos em 32 jogos), ajudando a equipa a regressar à La Liga. Parecia que Dani ia viver uma segunda juventude, sem noite nem copos. Como nem tudo o que parece é, na terceira época ao serviço do clube, Aragonés afasta o jogador português, que volta aos velhos e maus hábitos, da equipa principal. Dani acaba por rescindir contrato no final dessa época. No clube da capital espanhola jogou com Antonio Lopez, Santi, Aguilera, Hugo Leal, Kiko, o "recém-nascido" Fernando Torres, Carcia Calvo, Coloccini, Contra, Albertini, Emerson, Luis Garcia, Javi Moreno e José Mari. Ironicamente, Hugo Leal também acabou por passar ao lado de uma grande carreira. Tanto um como o outro poderiam ter sido o tão desejado substituto de Rui Costa na Selecção Nacional e não precisariamos de recorrer aos serviços de um brasileiro frustrado para essa posição.

Após testes falhados no Celtic Glasgow, Dani decide pendurar precocemente as botas, com apenas 27 anos...
Internacional A por 9 vezes, foi um jogador de altos e baixos. Via o futebol como um hobby e não como uma paixão, muito menos como uma profissão. Jogou com e contra alguns dos melhores jogadores do seu tempo, foi treinado por grandes treinadores, mas nem os melhores exemplos foram suficientes para encaminhar a sua carreira. Dividiu a sua curta vida como futebolista entre trabalhos como modelo, discotecas, maus hábitos e muitos relacionamentos mediáticos (entre os quais Dj Poppy). Após terminar a carreira foi ainda apresentador de televisão.

A nós, adeptos de futebol, resta-nos rever os vídeos de momentos mágicos protagonizados por um "génio da bola", um dos mais talentosos jogadores portugueses pós-"geração de ouro" e imaginar como poderia ter sido a sua carreira.

11 Passes de rotura:

Tomás Pipa 23 de abril de 2010 às 13:02  

Estou maravilhado com os vídeos. Que classe! O golo de canto de mangas arregaçadas é mm à CQ!!Ele fez o mesmo no Man Utd com Giggs e Scholes.

É mesmo uma pena. Até tinha 1,82!Tinha tudo para ser enorme.

Pedro Veloso 23 de abril de 2010 às 13:37  

Lol delicioso o pormenor da família da classe média lol, na linha de Kaká.

Pa o velho Redknapp passou-se quando disse isso!! lolol

Está excelente o posto e de facto demonstra bem o que era este jogador. Nessa equipa de sub-20também jogava o Alfredo Bóia acho eu.

O Dani vi só uma vez ao vivo e gostei imenso. Foi na Luz pelo SLB contra o Braga, 1º jogo do Mourinho na Luz, para a Liga, como técnico do SLB

Pedro Veloso 23 de abril de 2010 às 13:38  

post e não posto, queria eu dizer*

Tomás Pipa 23 de abril de 2010 às 13:44  

O Dani morava ao pé de mim, às vezes vejo-o a jogar futebol com os amigos num campo ao pé de minha casa e ainda joga muito.

Diz-se que ele com 14 anos roubava o carro aos pais para ir aos treinos em alvalade. Também se diz que um dia, num jogo pela equipa B do ajax(onde estava de castigo) ng o encontrava, e quando o encontraram estava a arrochar-se todinho nos 5 bancos de trás do autocarro lol

João S. Barreto 23 de abril de 2010 às 14:45  

Lol veloso e ainda podemos acrescentar Aimar que também vem duma família abastada da Argentina

Sá Pinto 23 de abril de 2010 às 17:20  

q saudades! ja o apnhei muita vez todo bebado na noite, coitado. via mesmo o futebol como um hobby.

esqueceste-te de referi q jogou com wooter, esse magico do futebol holandes, q jogou no braga. lol

http://en.wikipedia.org/wiki/Nordin_Wooter

João 24 de abril de 2010 às 11:53  

Grande post!E o Rednkapp bateu ocumulo da javardice! Grandes jogadas, lembro-me de falhanço incrível da luz que isolado atirou ao poste mas cheio de classe!Jogou com o Roger não foi? Tomás se adoraste as jogadas recorda o Dominguez, também partia tudo e até andou no West Ham salvo erro!

João 24 de abril de 2010 às 11:53  

ps-Domínguez, a "arma secreta do Sporting"!

Tomás Pipa 24 de abril de 2010 às 23:13  

Dominguez lol!!um pirralho que partia tudo!é verdade!

Pedro Veloso 25 de abril de 2010 às 01:34  

No outro dia vi o Dominguez na rua, acabado de vir do ginásio ou de um jogo com uns amigos. Às vezes tenho-o visto na RTP Memória e digo que a nível de partir rins com simulações de corpo só JVP estava ao seu nível.

João S. Barreto 25 de abril de 2010 às 12:57  

O dominguez nesses Jogos Olímpicos fartou-se de sentar adversários, só que em termos de objectividade valia 0! andava ali às voltas e ninguém lhe tirava a bola.