Raça de Campeão


Tal como nas duas épocas anteriores, vitória por 2-0 do Benfica no derby eterno da Luz. Um triunfo justíssimo (menos para o Paulo Sérgio, claro, que com a sua incrível contagem de oportunidades de golo conseguiu ser menos lúcido do que qualquer dos jogadores leoninos que falaram no final), numa partida em que a equipa da casa jogava o tudo ou nada - e agora vai ser sempre assim, jogo após jogo, se ainda queremos lutar pelo título...


Como muitas vezes acontece, creio que o facto de apenas uma das equipas (o Benfica), por estar mais pressionada em termos pontuais, ter completamente interiorizado que só um resultado lhe interessava - ao contrário do SCP, envolvido no dilema de jogar para ganhar, uma vez que já estava a 5 pontos do Porto, ou de defender a vantagem pontual sobre o arqui-rival da 2ª Circular - foi decisivo. Tirando os primeiros 3 minutos, o Benfica jogou sempre com mais intensidade, garra, determinação e...qualidade. É, em condições normais, mais forte, e a subida gradual dos níveis físicos para patamares superiores já permitiu demonstrar ontem a sua superioridade, sobretudo na pressão que colocou quase sempre sobre o portador da bola. Para além disso, outros factores revelaram-se a meu ver decisivos para a supremacia encarnada, não necessariamente por esta ordem:

- A esmagadora diferença de alturas entre as equipas: o Sporting continua a não resolver este problema, e ontem o técnico fez até um mea culpa no final da partida por não ter tentado contrariar essa lacuna. Paulo Sérgio apresentou um onze com sete jogadores com menos de 1,80m (e o próprio Carriço tem apenas precisamente essa altura), frente a um Benfica que continua a contar com um eixo (D.Luiz e Luisão; Javi; Cardozo) que lhe permite dominar o jogo aéreo no centro do terreno e ser também muito forte nas bolas paradas defensivas (e aqui a maior tranquilidade de Roberto está a permitir melhorar também) e ofensivas;

- A excelente leitura táctica de Jorge Jesus, indiferente às opiniões dos adeptos que não podem ver o Peixoto nem pintado, colocando o ex-Braga a lateral e Coentrão à sua frente, por forma a poder travar o muito jogo que João Pereira habitualmente carrila pelo flanco. Para além disso, o mister mostrou ontem uma alma que parecia algo apagada com os resultados menos positivos, longe da garra e paixão habituais do JJ que nos empolga a todos na Luz, a vibrar no banco, gritar com todos, dando instruções sem parar quieto;


- A força do meio-campo encarnado, ontem muito acertado, desde Javi (excelente na recuperação e entrega de bola jogável, com passe curto, ao companheiro mais perto, como tão bem sabe fazer quando em boa forma) a Carlos Martins, desta vez até mais destacado pelo trabalho de sapa do que por grandes rasgos. A propósito, estou ansioso pela convocatória da selecção: apesar das divergências que tiveram no passado, como homem sério que é estou convicto que Paulo Bento vai chamar o melhor (único? Estou a descartar o Deco) organizador de jogo português da actualidade. Agora já nem podem alegar que não é titular. Também gostei muito do Ruben Amorim, descontando o disparate que ia dando o golo a Liedson; o ex-Belenenses disse na pré-época que queria arriscar mais este ano, e com efeito temos-lhe visto slaloms e assistências muito interessantes. Já se sabe que não sabe jogar mal, mas o carácter excessivamente low-profile do seu jogo, bem como a polivalência (no caso dele, é óptima para a equipa mas acho que o prejudica), acabam por lhe retirar algum brilho individual que um sócio desde o berço como ele é merecia;

- O grande jogo de Cardozo, um dos melhores da sua carreira de águia ao peito (a este nível, talvez só um na Champions de 2007/2008, frente ao Celtic na Luz, em que marcou o golo da vitória a acabar depois de ter enviado duas bolas nos ferros). Reconciliou-se com os adeptos, sobretudo pelo bis mas também pela atitude completamente renovada; correu, lutou, chutou, fartou-se de ganhar bolas de cabeça aos centrais, e podia ter conseguido o hat-trick (devia ter feito golo naquele cabeceamento, nas outras oportunidades fez o que lhe competia mas não teve sorte);

- Deserto de ideias no meio-campo ofensivo do SCP: entre Valdés, Matías e Yannick, foi quase o zero absoluto. Apesar de tudo, o reforço que veio da Atalanta foi o único que se mostrou, embora sempre invariavelmente com a mesma jogada "à Nuno Assis": fintar sempre para dentro, sendo que depois ou metia no João Pereira à direita, ou tentava um centro. Vinha rotulado de extremo desiquilibrador, mas apesar dos bons pés não é nada desse género; Matías continua um autêntico calvário, a léguas do que o talento promete; Yannick, que de vez em quando faz boas partidas, passa depois jogos e jogos desaparecido. Obviamente há mérito do Benfica na anulação da criação de jogo por parte do SCP, mas estes problemas são já recorrentes. A defesa, nomeadamente no que toca aos erros de posicionamento (Nuno André Coelho muito mal), também comprometeu.

Numa noite em que demonstrou força e subida de forma, já com alguns momentos (mais nas transições do que em ataque organizado) ao nível do melhor da época passada (como a jogada de Cardozo ao poste ou a do quase-golo de Coentrão), o Benfica encurtou distâncias face a Braga e SCP. Agora é tentar ganhar o mais possível à espera que o Porto, sempre consistente, e também amparado nos momentos difíceis por quem de direito (já não é a primeira vez esta época...ontem o penalty do Rolando, com o árbitro perto e de frente para o lance, é um bocado descarado demais e em princípio, tal estava o jogo, o FCP nem ia precisar disso para ganhar), escorregue .

Relativamente ao árbitro do clássico, Carlos Xistra deu um autêntico concerto de apito e distribuiu mais seis amarelos (incrivelmente, somos a equipa da Liga com mais cartões, mais que uma qualquer Naval ou Setúbal, e seguidos do Marítimo, vá-se lá saber porquê...) quando podia facilmente segurar o jogo sem o fazer. Pelo menos não houve casos.

P.S. Desde a época passada que tenho o belíssimo equipamento suplente do SLB (o do ano transacto) a negro, mas, por preguiça ou indecisão quanto ao jogador que devia "honrar" (gosto de todos!), nunca cheguei a pôr número e nome nas costas...Mas ontem decidi. Não, nem vai ser o Tacuara, mas sim o Luisão. É a única coisa em que o posso homenagear;) Mais uma exibição notável de um grande capitão, o líder que aparece sempre nos grandes momentos. Um senhor. Pelo ar, pelo chão, sempre imperial, e mais uma vez interveio num golo. Como a maior parte dos benfiquistas, não gostei das declarações (deviam ter sido proferidas internamente) no Verão sobre a proposta do A.Madrid que alegadamente não lhe foi comunicada , mas, esteja contente ou não, o nº4 é exemplar dentro de campo. E já são 7 anos a comandar com categoria a defesa do meu Benfica, não é para todos.


8 Passes de rotura:

Vasco 21 de setembro de 2010 às 12:25  

Veloso,

foi um bom post e, no meu entender de quem observa do 3º anel, verdadeiro.

Gostava só de acrescentar 3 pormenores.

Creio que Carlos Martins, na 1ª parte, com Aimar em campo, teve um papel semelhante ao de Fábio Coentrão ao tentar anular João Pereira. Esteve incansável, não deu espaço uma única vez a Evaldo. Todos sabemos que em termos de caudal ofensivo Evaldo não é um João Pereira, mas foi também por aqui que passou a incapacidade do Sporting de construir jogo desde trás.

Acho que este jogo, na segunda parte, prova o que referes sobre Carlos Martins na selecção. É um organizador de jogo de muito bom nível que tem, esperemos nós e ele, lugar na selecção. Selecção esta que esperemos que o novo mister renove em vez de manter as tradições "Merdoz" de convocar Dudas e Zé Castros...

Sobre Cardozo, não vou falar dele, a sua qualidade é inegável e não faz sentido discutir óbvios, vou falar do sócio com lugar cativo que se senta atrás de mim no estádio. Como já disse inúmeras vezes, "o pior inimigo do benfica, muitas vezes são os adeptos", aplica-se perfeitamente a este senhor! Resumindo, é daqueles que passou a época inteira a dizer muito mal de Óscar Cardozo, Di Magia, David Luiz, etc... a equipa é má, ele é que sabe como é que é tudo! Ora como podem imaginar até já houve quem o mandasse sentar quando festejou o segundo golo de Cardozo contra o Rio Ave na época passada fomos campeões! No Domingo este sócio rendeu-se, finalmente e disse pela primeira vez na vida "Cardozo até joga bem com o pé esquerdo"!!!! lol

Sobre Carlos Xistra, porque creio também que este ano arbitragem vai ser tema até ao fim do campeontao, esteve mal. Mal porque parou o jogo vezes sem conta quando devia dar leia da vantagem, porque não deu cartões vermelhos a Valdez, Postiga e Saleiro por agressões, por ter visto Liedson a atirar-se para o chão e como o Coentrão andava ali à volta, toma lá um amarelo. Enfim, para que não venha ninguém dizer que o fora de jogo, mal assinalado a Liedson, mudava o jogo, lembrem-se de duas coisas. Este Liedson não é o mesmo que marcava a torta e a direito, aliás Ruben Amorim com o seu erro infantil ofereceu um golo a Liedson que não o quis. Também acabaram com 11 jogadores em campo quando não era justo! Quero referir que as agressões que aqui refiro não são fruto de ter ido ao estádio, mas sim de ter visto resumos na televisão.

Para terminar, creio que o campeão voltou, jogámos mais, melhor, marcámos e não sofremos. Vimos rasgos do Benfica do ano passado em duas ou três jogadas depois do segundo golo. Jorge Jesus aparece mais interveniente. A moral subiu e daqui para a frente só pode melhorar!

P.S. Se alguém me conseguir explicar porque razão o Aimar foi titular na primeira parte agradecia. Pode ser que com a lesão Carlos Martins se mostre contra o Marítimo e ganhe a titularidade!

Abraço

Vasco SF

João 21 de setembro de 2010 às 12:50  

Bom post Pedro. Eu pude ver com toda atenção o jogo mas do que observei realço que o Benfica apesar de não ter dominado sempre o jogo, controlou-o constantemente.

O SCP não teve fio de jogo, esteve desorganizado, nunca criou muito perigo com excepção do falhanço do Liedson que foi oferecido. Todas as restantes oportunidades nunca foram muito perigosas, ficou a ideia de que o Benfica esteve sempre relativamente seguro.

No SCP Matias, Yannick e Valdés pouco fizeram realmente. Se Matias é um jogador mais fácil de controlar, Valdés continua a mostrar pouco do que era em Itália, até porque tem tido mais oportunidades para o mostrar que o compatriota e é um driblador.

Esta época o SCP tem jogado melhor num 4-4-2 clássico, sempre que o P. Sérgio o altera o SCP não se deu bem. Consequentemente, acho que o Postiga deveria ter sido titular em detrimento do yannick,está em boa forma e motivado pela excelente exibição em Lille.

Pedro Veloso 21 de setembro de 2010 às 15:42  

Obrigado Vasco.

Quanto a isso que dizes do Cardozo, também lá conheço uns adeptos assim...acho que apesar de tudo a maioria (os que percebem alguma coisa de bola claro, porque há aqueles que por eles ainda jogávamos com o Nuno Gomes como único avançado) sabe perfeitamente quão bom goleador é o Tacuara e quão importante é para a equipa. Mas quando está menos bem, como não é um jogador com "estilo", tem muito menos crédito do que outros (mas isso é a sina dos matadores, quando não marcam ninguém lhes perdoa...).

Relativamente à pergunta que deixas no fim, já aqui abordámos essa possibilidade(creio que foi o Mac que introduziu o tópico) de o Aimar, que inegavelmente com o seu talento transporta o futebol ofensivo do SLB para outra dimensão, poder perder a titularidade nesta fase em que precisamos de muita solidez para não perder pontos. Ele que até se tem esforçado imenso para superar os seus pontos menos bons, a pressão e a capacidade defensiva. O João Barreto por exemplo é contra tirar-se o Aimar, eu não sei bem o que sou lol, etc. Mas acho que o que vai acontecer, mais jornada menos jornada e também com a Champions, é introduzirmos a rotatividade, muito bem feita o ano passado, para as posições de lateral direito, médio direito e nº10, entre Maxi, Ruben, Aimar, Carlão e...Salvio? A trinco será sempre o Javi ou por vezes Airton, à esquerda do meio-campo Gaitán ou Coentrão. Idealmente gostava de ter sempre Aimar e Martins em campo, são os dois cérebros da equipa e combinam bem, mas às vezes é demasiado arriscado, até porque depois também temos sempre dois avançados.

Por falar em Barreto, sei que não és propriamente apreciador dele, mas diz lá que a raça do Maxi não te empolgou neste jogo!!;)

João Veloso, acho que no ataque o SCP tem aí um problema complicado e pergunto-me se não deveria abdicar de um extremo, uma vez que não tem avançados (o "pinheiro"...) para jogar em centros para a área. Podia assim combinar no mesmo onze um organizador, Matias (Tales talvez?), e dois avançados no eixo do ataque. É que da forma como tem jogado tem sempre problemas: 4-2-3-1 não mete quase gente suficiente na área adversária, no 4-4-2 clássico há ali um buracão no meio-campo e ninguém a organizar...

João S. Barreto 21 de setembro de 2010 às 17:37  

lol Veloso (Pedro) eu não desgosto especialmente do Maxi, simplesmente acho que é o nosso jogador titular mais fraco (menos forte) e que temos melhor no plantel, Ruben Amorim. Mas há uma coisa que nunca apontei o dedo ao Maxi, até porque não podia, tem uma raça enorme que muitas vezes contagia os colegas e para ele a palavra motivação faz parte do jogo, de todos os jogos! Nisso é um jogador exemplar, só é pena não ter tanta qualidade noutros aspectos.

Quanto ao Aimar-Carlos Martins é como dizes, vão rodar com a quantidade de jogos que temos. Mas acho que sempre que der tem de jogar o Aimar que é, a par do Saviola, o melhor jogador da nossa equipa (não vou mais longe para não chocar ninguém). Se o Ruben jogar a defesa direito não me importo que jogue o Carlão no meio-campo, porque o Ruben é excelente a decidir quando e como participar no ataque, algo que o Maxi não faz, adiantando-se sempre que a bola passa o meio-campo.

Anónimo 21 de setembro de 2010 às 18:59  

O que dizer da entrada assasina do Javi logo no início do jogo?O João Pereira por atitude semelhante levou um vermelho.
E depois o Coentrão ainda dá um valente empurrão à frente do árbitro, e nada acontece.
O que dizer?

Anónimo 21 de setembro de 2010 às 21:23  

dizer vai po caralho

Pedro Veloso 22 de setembro de 2010 às 10:37  

Anónimo bem-vindo, vê aqui aos 41 segundos o lance do João Pereira com o Ramires.

http://www.youtube.com/watch?v=Rvd-8wx-fOs

Há alguma comparação com o lance do Javi? No do Javi ele vai disputar a bola para cortar um contra-ataque perigoso do SCP, faz o carrinho para a cortar, mas chega atrasado e há a falta inevitável; na do João Pereira é um lance a meio-campo sem qualquer perigo, chega lá o João e entra a pés juntos sem qualquer intenção de jogar a bola, mesmo só para ceifar o Ramires.

Não atirem poeira para os olhos das pessoas. E já agora tenta ser um bocadinho mais bem-educado...

Na do Coentrão ele devia ter visto amarelo, sem dúvida, empurra o A.Santos nas barbas do árbitro.

Anónimo 22 de setembro de 2010 às 13:05  

Quem não te deu edsucação a ti, foi quem te fez, não foi o teu pai, correcto? oh Pedro Veloso.