Os Aztecas

A quinze dias do início do Campeonato do Mundo, a selecção Azteca apresenta-se como a habitual equipa a ter em conta. Nunca foi uma candidata ao título, nem uma possível outsider. No entanto, sempre foi uma equipa capaz de complicar as contas aos favoritos e fazer uma ou outra gracinha.

O México é uma das selecções que mais vezes participou na fase final de um Mundial, nada mais nada menos que 13 (esta será a 14ª) participações em fases finais (para se ter uma noção, Portugal tem 4). Mais participações que o México só a Itália, Brasil, Alemanha e a Argentina. O estranho é que com tanta participação em Campeonatos do Mundo, o México apenas alcançou os ¼ Final por duas vezes (1970 e 1986) e os 1/8 Final por quatro vezes (1994,1998,2002 e 2006). Ou seja, sempre que jogou o Mundial em casa o México chegou aos ¼ Final e a última vez que não passou a fase de grupos foi há 20 anos. São registos que o Uruguai e África do Sul devem ter em conta.

O México sempre foi a selecção mais forte da zona CONCACAF (América Central e do Norte) e costuma ser uma das primeiras selecções a carimbar o passaporte para os Mundiais. Contudo, este ano foi diferente. O México teve um arranque muito tímido, perdendo contra os seus maiores rivais, os EUA, por 2-1 em Washington, por 3-1 contra as Honduras (também presente neste Mundial) e 2-1 contra El Salvador (!). Os fracos resultados iniciais custaram o cargo do seleccionador da altura, Sven Goran Eriksson e foi aí que Javier Aguirre voltou ao cargo de seleccionador. Aguirre pegou na selecção e desde aí não mais perdeu, carimbando o passaporte para África já nas últimas jornadas da fase de qualificação.


Javier Aguirre é um técnico a ter em conta neste Mundial. É o treinador mais popular do México e é conhecido como El Vasco (O Basco), por ter sido jogador e treinador do Osasuna. Treinou a selecção mexicana entre 2001 e 2002, tendo sido o responsável por esta no Mundial de 2002, onde chegou aos 1/8 Final perdendo na altura contra os seus eternos rivais, os EUA de Brian McBride, Donovan e Beasley. Depois da sua boa campanha como seleccionador do México, Aguirre voltou a Pamplona (já lá tinha jogado como avançado), para assumir o comando do Osasuna, onde fez um trabalho memorável. Aguirre consolidou o Osasuna no escalão maior do futebol espanhol (até então era um sobe-e-desce) e conseguiu um honroso 4º lugar (que deu acesso a uma histórica pré-eliminatória para a Liga dos Campeões) em 2005/2006. Em 2006 assinou pelo maior cemitério de treinadores e jogadores do campeonato espanhol, o Atlético de Madrid. Em Madrid ganhou uma Taça Intertoto em 2007 e foi despedido em 2009. Além da Taça Intertoto ganha em 2007, Aguirre conta com mais dois títulos no seu currículo, um campeonato mexicano em 1999 pelo Pachuca e uma Gold Cup em 2009 com a selecção do México.

Os jogadores mexicanos mais conhecidos que passaram nos Mundiais além de Marquez e Blanco que vão estar presentes na África do Sul, são sem dúvida alguma o guarda-redes Jorge Campos, o guarda-redes anão que também jogava a avançado quando era preciso e que se vestia sempre de fluorescente e os temíveis avançados Hugo Sánchez, Jared Borgetti, Luis Hernández e Omar Bravo. Veremos quem conseguirá neste grupo de jogadores!

Aguirre tem neste momento 26 jogadores em estágio, sendo que muitos deles foram campeões do Mundo sub-17 em 2005.

Na portería, as três vagas já estão decididas. Ochoa (América) será o titular. Ochoa é um excelente guarda-redes de 24 anos que já merecia estar na Europa.

O experiente Óscar El Conejo Pérez (Jaguares) será um dos suplentes. Pérez é um típico guarda-redes mexicano, muito baixo, com apenas 1,72m (!) (a fazer lembrar Jorge Campos). Foi suplente no Mundial de 98 e titular no de 2002. Será aos 37 anos, a sua 3ª presença numa fase final de um Mundial. O 3º guarda-redes será Míchel (Chivas).

Na defesa, destaque para os três centrais holandeses: Salcido (ou Salcita) e Francisco Rodríguez (ou Maza) do PSV e o campeão do mundo sub-17 em 2005, Héctor Moreno (Az Alkmaar). Marquez (Barcelona) é aos 31 anos o jogador mais conhecido desta equipa e o mais experiente, por isso será o capitão de equipa e deve mesmo jogar no meio-campo, para que Aguirre actue com todos os seus jogadores mais experientes. Osório (Estugarda), campeão alemão em 2007, é o lateral-direito titular, mas a sua titularidade tem sido muito contestada, uma vez que o povo mexicano prefere ver Magallón (Chivas) no seu lugar. Será uma dor de cabeça para Aguirre. O jovem lateral-esquerdo Jorge Torres (Atlas), o El Pechu, os laterais-direitos Israel Castro (Pumas) e Paul Aguilar (Pachuca) lutarão por um lugar entre os 23. De fora dos 26, ficou a jovem promessa Patrício Araújo (Chivas), o patrão da defesa Campeã do Mundo sub-17 em 2005.

No meio-campo, a qualidade não abunda como na defesa, mas mesmo assim há alguns nomes a ter em conta. Começando por Guardado (Deportivo) que é um extremo-esquerda à antiga, um verdeiro desiquilibrador que joga muito colado à linha. É uma das estrelas desta equipa. O trinco Torrado (Cruz Azul), que esteve à experiência no Benfica em 1999, já não é o jogador que era. No entanto, há que dizer que Torrado é um especialista em bolas paradas (no estilo do Barroso ex-Braga). Jonathan dos Santos (Barcelona), é um jovem médio-ofensivo que também pode cair nas alas. A sua imprevisibilidade pode servir de abre-latas contra algumas defesas mais fechadas. Medina (Chivas), é um trinco que prometeu muito quando era mais novo, mas o Chivas nunca quis negociá-lo para um clube europeu e Medina nunca chegou a mostrar o seu verdadeiro potencial. El Topo Valenzuela (América) é mais um trinco desta equipa. O seu lugar nos 23 não está totalmente seguro, terá cerca de uma semana para convencer Aguirre a levá-lo. O também Campeão do Mundo sub-17 em 2005, Efraín Juárez é outro jogador em dúvida. Juárez é um jovem polivalente, faz toda a lateral-direita. Tem muita concorrência para o seu lugar, na defesa tem Osório, Magallón, Israel Castro e Aguilar. A extremo-direito tem também concorrência forte: Israel Castro, e os irmãos Jonathan e Giovani dos Santos. Aldrete (Morelia), também ele um Campeão do Mundo, fará concorrência a Guardado na ala-esquerda. Aldrete pode também actuar como defesa esquerdo se for necessário.

No ataque, há muito potencial. Desde logo, há que falar nos grandes obreiros da conquista do Mundial sub-17 em 2005. Giovani dos Santos (Galatasaray) e Carlos Vela (Arsenal). Giovani é um irrequieto canhoto e uma das maiores promessas do país. Giovani jogou bastantes vezes na equipa principal do Barça e até marcou alguns golos. Será um nome a ter em conta neste Mundial apesar do seu crescimento como jogador tenha estagnado um pouco nestes últimos anos. Carlos Vela (Arsenal), é um avançado que faz todas as posições do ataque, na minha opinião é a par de Marquez e Guardado, o melhor jogador deste México. É um jogador muito veloz e com grande potencial. Blanco (Veracruz) é aos 37 anos uma lenda do futebol mexicano. Quem não se lembra da finta inovadora, a Cuauhtemiña, no Mundial 98? Blanco joga como segundo avançado, e a maior dúvida que se coloca é se terá andamento para acompanhar dos Santos e Vela no ataque Azteca. Outro nome que os adeptos do futebol querem ver neste mundial é Javier El Chicarito Hernandéz (Chivas) que recentemente foi contratado pelo Man Utd. Hernandez é um 9,5 que marca muitos golos, mas que terá com certeza dificuldades para ganhar a titularidade nesta equipa. Guille Franco (West Ham), é um ponta-de-lança puro. Franco nasceu na Argentina, mas naturalizou-se mexicano em 2005. Celebrizou-se por marcar golos em grande quantidade no Monterrey até se transferir para o Villarreal. Desde aí que é raro vê-lo festejar um golo. Bofo Bautista (Chivas) e Barrera (Puma) devem lutar pela última vaga no ataque.

O México está inserido no Grupo A juntamente com a finalista-vencida do último Mundial, a França, com a selecção anfitriã da África do Sul e com o Uruguai. À primeira vista, diríamos que o grupo seria dominado pela França e que México e Uruguai lutariam pelo 2º lugar, mas presumo que as contas não serão bem assim.Há que lembrar que a França, tal como a Argentina, tem um louco no comando, Domenech. Portanto, não sabemos que França aparecerá na África do Sul, uma equipa realmente forte como em 2006, ou o flop que foi em 2008? A selecção da África do Sul é outra incógnita. Pelo que vi da última Taça das Confederações, a selecção da África do Sul não joga nada, mas é a selecção da casa, e isso tem sempre peso, tantas nas arbitragens como no apoio dos adeptos. O Uruguai é outra incógnita, tal como a maioria das equipas hispânicas da América do Sul, o Uruguai é uma equipa selvagem que se tiver um pouco de disciplina e auto-controlo, poderá fazer um bom Mundial. Creio que desta vez o México ficará pela fase de grupos.

Os prováveis 23: Ochoa, Michel e Pérez; Osório e Magallón, Marquez, Moreno, Salcido e Rodríguez, Jorge Torres; Torrado e Medina, Guardado e Aldrete, Jonathan dos Santos, Juárez e Israel Castro; Giovani dos Santos, Vela, Bautista, Javi Hernández, Franco e Blanco.

6 Passes de rotura:

Manú 27 de maio de 2010 às 17:33  

bom post, sem duvida ha potencial neste mexico!

note-se que blanco fez a finta a zambrotta e cannavaro (?) ?
há gajos com lata mas esse blanco abusa.

guille ochoa é mesmo ganda guarda-redes, nao sei como ainda está fora da europa.
virá para o benfica?

Tomás Pipa 27 de maio de 2010 às 17:44  

É mm grande redes Manú.

O problema dos mexicanos (não sei se será problema..) é que eles recebem bem no campeonato deles. Ou seja, eles têm poucos interesses financeiros em vir para a Europa. Quando vêm para a Europa, vêm mais aos 27/28 anos para se provarem a si mesmos que são capazes. Vêm mais pelo desafio do que pelo dinheiro. A não ser que sejam jovens promessas como Hernandez, Vela, dos Santos etc..

Sá Pinto 27 de maio de 2010 às 20:45  

Desde há muito tempo que tenho dito que o Sporting está a ter uma gestão ruinosa, concentrados na mediocridade de produzir para pagar os custos e pouco mais, há altura em que se tem de investir e essas alturas foi quando o Benfica investiu, aumentou as despesas mas disparou as receitas, pediu emprestado para investir quando ainda havia para investir, e comprou bem, foi campeão e rentabilizou os seus jogadores que caso o mercado o permita vão ser vendidos e vão traduzir num encaixe financeiro brutal.
Esta foi uma estratégia arriscada e que deu (ou dará) grandes frutos, foi algo pensado para se desse resultado tudo iria valorizar.
Nós precisamos de uma estratégia deste género, o problema é que perdemos o timing para o fazer, os empréstimos estão altíssimos e as torneiras estão fechadas, o Pais está em recessão e a única saída é investimento estrangeiro de capitais de risco a juros altíssimos.
O Sporting dificilmente conseguirá assegurar nomes sonantes neste defeso a não ser que algum possa vir incluindo nas nossas vendas, ou em acordos com grandes clubes europeus que queiram garantir preferência sobre os frutos das nossas escolas.

João S. Barreto 28 de maio de 2010 às 03:25  

Grande post Tomás! Esta base de dados das selecções pode ser muito util durante o Mundial.

Li há pouco tempo que Aguirre vai apostar no Perez a titular por ter mais experiencia, espero que não! Ochoa era muito bem vindo no meu Benfica, um guarda-redes de classe mundial e ainda novo. Uma elasicidade impressionante.

Concordo também nos jogadores que destacas como peças mais importantes, mas tenho muita curiosidade em observar melhor o Javier Hernandez, novo reforço do United. Deve ser craque.

Tenho pena que Vela não seja um indiscutivel no Arsenal, é muito bom, bem melhor que o Giovani dos Santos (apesar do potencial que apresentava nos primeiros anos de carreira).

Lembro-me do Hernandez (o louro) fazer também a finta do Blanco, na altura pegou moda. Muito bem lembrado!

De resto estou como tu, vejo o Uruguai neste momento mais forte que o Mexico, mas nunca se sabe. A Africa do Sul também parece estar a subir de forma recentemente.

Pedro Veloso 28 de maio de 2010 às 12:39  

Tomás grande post. Destaco a história do México nos Mundiais, não sabia que era tão rica. Repara que as duas melhores performances (70 e 86) foram quando organizou...é por isso que a A.Sul vai passar desta vez...

Eu adorava o Hernandez, esse wannabe Caniggia!

Vi ontem aquele vídeo do Ochoa que está no MaisFutebol, de facto tem defesas do outro mundo...mas não sei, desconfio sempre destes guarda-redes exóticos.

Tomás Pipa 28 de maio de 2010 às 18:24  

Ok, um gajo pode desconfiar do Ochoa...mas vai confiar num guarda-redes com 1,72? Estes americanos são todos malucos!

Hernandez era mítico!um autêntico índio na frente mexicana!