Qualidade em Quantidade

Face ao que se tem passado no futebol europeu esta época, ocorreu-me chamar a atenção para uma selecção que me parece que as pessoas se têm andado a esquecer e que, para além de hoje em dia ser uma crónica candidata a todas as competições em que entre (em quase todos os desportos), tem um vasto leque de jogadores que, para mim, podem formar o plantel mais completo e mais poderoso do Mundial da África do Sul. Falo da Selecção Francesa.

Tendo passado por várias dificuldades na fase de apuramento (claramente manchado e determinado pela mão ilegal de Henry), a verdade é que a França está de novo presente na maior prova de futebol do Mundo.

Mesmo contra toda a contestação após a triste figura feita no Euro’08, a Federação Francesa de Futebol optou por dar continuidade ao projecto e continuar a confiar no polémico e pouco (ou nada) consensual treinador Raymond Domenech.
Quanto a mim, com todos os defeitos e teimosias que lhe reconheço, Domenech tem demonstrado saber fazer a renovação que os Gauleses precisavam após o envelhecimento da mítica geração de Barthez, Blanc, Lizarazu, Thuram, Vieira, Petit, Djourkaeff, Dugarry, Zidane, etc.
É um processo de grande dificuldade tendo em conta que se está ao leme duma “equipa” que não treina junta todos os dias e que representa uma grande pressão para jovens jogadores.

A boa forma de muitos jogadores franceses a jogar fora do seu país, a grande competitividade no campeonato francês e a boa campanha europeia das equipas francesas representarão, sem dúvida, uma saudável dor de cabeça para o seleccionador, tal será a quantidade de jogadores de grande qualidade na sua melhor forma.

Começando pela baliza, Hugo Lloris parece reunir consenso em França actualmente. As suas boas exibições, nomeadamente na Champions, parecem não ter fim e a concorrência já deve estar conformada com a ideia de que a camisola 1 é de Hugo. Porém há mais duas vagas e a qualidade não está toda concentrada nas luvas do guarda-redes do Lyon.
Steve Mandanda (Marselha), Cédric Carrasso (Bordéus), Mickaël Landreau (Lille) e Sebastien Frey (Fiorentina) são todos opções de grande qualidade, pelo que haverá várias selecções que não se importariam de recrutar os que não fizerem parte dos eleitos de Domenech. Grégory Coupet do PSG, se não tivesse partido a perna, também seria um nome a ter em conta certamente.

Em relação ao quarteto defensivo, e começando pelo galáctico lado esquerdo da defesa, as opções são todas se altíssimo nível. Eric Abidal e Patrice Evra parecem ser os preferidos do treinador, mas Aly Cissokho e Gaël Clichy estão ambos em grande forma e na calha para uma eventual chamada. Benoît Trémoulinas do Bordéus parece ser o que menos probabilidades tem de ser convocado, ainda que seja de salientar a sua consistente época ao serviço do seu clube.
Do lado direito, Bakary Sagna, tendo sido o jogador com mais minutos na fase de apuramento, parece ser dono e senhor do lugar, embora Rod Fanni do Rennes, François Clerc e Anthony Réveillère do Lyon, Bernard Mendy do Hull, Lassana Diarra e Mathieu Flamini sejam opções credíveis para o seu lugar (ainda que os dois últimos não sejam defesas direitos de raíz). Laurent Bonnart (Marselha) e Mathieu Chalmé (Bordéus), apesar da boa época que têm vindo a desempenhar, parecem não reunir condições para uma chamada.
No centro da defesa também há qualidade em quantidade. Dando como certo na equipa titular o experiente “herói” do apuramento William Gallas, a vaga a seu lado será preenchida por Philippe Mexes (Roma), Julien Escude, Sebastien Squillaci (Sevilha) ou Jean-Alain Boumsong (Lyon). Michaël Ciani do Bordéus e Mathieu Bodmer (este que também alinha – e bem – a trinco), fruto das importantes presenças nas suas equipas tanto na Liga Francesa como na Champions, admito que sejam nomes que estejam a ser equacionados pelo seleccionador (principalmente o primeiro, que tem rubricado uma época de nível mundial). Eric Abidal também pode ser opção nesta posição, caso Domenech opte por levar outros dois defesas esquerdos.

Avançando para o meio campo, e começando pelo concorrido centro do terreno, Abou Diaby, Jeremy Toulalan, Alou Diarra, Lassana Diarra, Mathieu Flamini, Samir Nasri, Yoann Gourcuff são os mais poderosos nomes que discutirão os 3/4 lugares disponíveis na equipa inicial. Quanto a mim, Patrick Vieira não está totalmente fora de hipótese, tendo em conta a sua (ainda) enorme qualidade e a ajuda que a sua experiência e mística dariam na integração de novos valores.
Moussa Sissoko do Toulouse, o talentoso e emergente jovem Maxime Gonalons (Lyon), o irreverente Hatem Ben Arfa e o experiente Benoit Cheyrou (Marselha) são todos nomes em cima da mesa para colmatar eventuais vagas que se possam abrir na convocatória.
No que a médios-ala (extremos) diz respeito, as cabeças de cartaz são sem qualquer sombra de dúvida Florent Malouda e Frank Ribéry. A época de nível mundial do primeiro e a qualidade e influência do segundo serão razões mais que suficientes para justificar um lugar na equipa titular. A experiência e qualidade de Sidney Govou serão também armas com que Domenech poderá certamente contar. Gabriel Obertan do Man Utd, Yoan Gouffran do Bordéus e Mathieu Valbuena do Marselha são também hipóteses credíveis, ainda que o último esteja uns furos abaixo.

No ataque o capitão Thierry Henry tem lugar cativo. A acompanhá-lo estarão certamente Nicolas Anelka, Andre Pierre Gignac e Karim Benzema. Bafetimbi Gomis (Lyon) e Peguy Luyindula (PSG) são nomes na calha caso haja algum contratempo. O gigante Guillaume Hoarau, ainda que com menos hipóteses que os anteriores, seria uma opção acima da média como último avançado.

Aliando esta diversidade de opções de extrema qualidade, o favorável grupo que o sorteio ditou e a esperança que o seu futebol jogado melhore na fase final, a França tem tudo para fazer um Mundial de grande nível. Resta esperar para ver o que acontece, mas para mim são candidatos.

Na minha opinião, o onze inicial mais forte seria: Lloris; Sagna, Mexes, Gallas, Evra; L. Diarra, Diaby, Gourcuff; Malouda, Ribery, Henry.

Aceitam-se sugestões.