Recordando...Ion Timofte

No início da década de 90, a queda do Muro de Berlim provocou enormes alterações a todos os níveis na organização da sociedade europeia e mundial. Uma delas, e talvez a mais interessante do ponto de vista deste espaço, é a chegada ao Campeonato Português de grandes jogadores vindos da Roménia, Bulgária, Polónia, Ex-Jugoslávia e Ex-União Soviética, pois o mercado do Leste europeu tornou-se bastante aliciante em termos financeiros. Iordanov, Cherbakov, Balakov, Vujacic, Lemajic, Juskowiak e Ivkovic (Sporting); Kostadinov (Porto); Stanic (Benfica); Kulkov, Yuran, Drulovic e Zahovic (Porto e Benfica); Karoglan (Sp. Braga), entre outros, chegaram então a Portugal nos primeiros anos desta década, inscrevendo os seus nomes nas páginas mais recentes da história do futebol português. Em 1991/1992 chegou ao F.C. Porto, vindo do Poli Timisoara, um jovem médio atacante "desconhecido" chamado Ion Timofte, que viria a deixar a sua marca nas memórias do nosso campeonato.

Ion Timofte (16 Dezembro 1967) iniciou a sua carreira como futebolista no clube da sua terra natal, o Minerul Anina, em 1988/1989. Na época seguinte foi contratado para o CSM Resina, onde esteve meia época, transferindo-se depois para o Poli Timisoara, clube da primeira divisão romena. Brilhou durante as duas épocas que lá passou, o que proporcionou a sua transferência para o F.C. Porto na época de 91/92. Timofte era preferencialmente um "número 10", mas também alinhou várias vezes encostado à linha, tanto à esquerda como à direita, onde aproveitava o seu potente pé canhoto para ensaiar um dos seus movimentos preferidos, agarrando a bola junto à linha direita puxando para o vértice da área de onde disparava, não poucas vezes com sucesso. Dono de um pé esquerdo invejável, possuia um remate fortíssimo, temido por qualquer defesa, e um passe que garantia grandes quantidades de golos aos avançados da sua equipa. Executava livres e cantos (muitas vezes directos) com grande mestria, garantindo pontos importantes para as equipas por onde passou. Era no entanto fraco fisicamente e defendia pouco.

Embora seja hoje em dia lembrado como uma referência do Boavista, também foi feliz no F.C. Porto. Nas 3 épocas que passou nas antigas Antas, foi campeão por duas vezes (92 e 93), ganhou a Taça de Portugal em 94, ano do "super-Benfica" de João Vieira Pinto e duas Supertaças (93 e 94). Ainda durante a sua estadia no Porto, casou-se com uma portuguesa, de modo a não ser considerado jogador estrangeiro (na altura o número de jogadores estrangeiros no "onze" era limitado), práctica comum nesta altura no futebol português. Estas 3 épocas de sucesso foram no entanto marcadas por algumas lesões, fruto da sua fraca condição física e por alguma irregularidade exibicional, pois a rigidez táctica portista não criava as condições necessárias para a existência de um elemento puramente fantasista, um "free role" como era Timofte. Ainda assim, marcou 25 golos em 3 épocas, uma boa marca. Apontou, no mínimo, dois golos decisivos ao Benfica (vitórias por 1-0 e 3-2). Foi colega de Vítor Baía, João Pinto, Fernando Couto, Aloísio, Jorge Couto (que viria a re-encontrar no Boavista), Kostadinov, Domingos (Paciência), Folha, Jorge Costa, Paulinho Santos, Rui Jorge e Drulovic.

É assim na época de 94/95 que pela mão do Major Valentim se transfere para o rival da "invicta", o Boavista, onde se viria a tornar uma lenda. Inexplicavelmente, a partir daqui desenvolve uma "aversão" especial em relação ao seu antigo clube, que se tornou num dos seus alvos preferenciais. O esquema táctico dos "axadrezados", preferencialmente com dois trincos com grande capacidade defensiva e a utilização de um bloco mais baixo, procurando o contra-ataque, foram propícios ao seu futebol, tornando-o uma arma letal quer como goleador (total de 37 golos), quer como assistente. Durante as 6 épocas que passou no Bessa foi o "playmaker" de eleição, conquistou uma Supertaça e uma Taça de Portugal. Foi também pedra basilar na conquista do segundo lugar em 1998/1999, ajudando o Boavista de Jaime Pacheco a qualificar-se pela primeira vez para a Liga dos Campeões (passe fantástico para golo, por cima da defesa na pré-eliminatória ganha ao Brondby). Partilhou o balneário com Fernando Mendes, Rui Bento, o outro bombardeiro de serviço Erwin Sanchez, Artur, Martelinho, o jovem Nuno Gomes, Ricardo, Litos, Mário Silva, Tavares, Nelo, Delfim, Pedro Emanuel, Hasselbaink, Latapy, William, Quevedo (aquele que estranhamente fazia vários sprints de campo inteiro aos 90' como se o jogo tivesse acabado de começar, com 30 e tal anos...), Ayew, Pedro Martins, Douala e Demétrios. Jóia da corôa do reinado Loureiro, retirou-se em 2000, não chegando a ser campeão. Regressou à Roménia onde tem um restaurante chamado "Boavista".

Foi internacional romeno apenas por 10 vezes (um golo), pois apesar da sua inegável genialidade, teve o "azar" de jogar na mesma década e na mesma posição que o maior génio romeno de todos os tempos, George Hagi, o "Maradona dos Cárpatos". Há também que referir que a selecção romena dos anos 90 era fortíssima, chegando mesmo aos quartos de final do Campeonato do Mundo de 1994 nos E.U.A e do Europeu 2000 (onde jogou o mesmo grupo de Portugal).

Para recordação ficam os "tiros" do seu pontapé-canhão, os golos, os livres, as assistências e a classe que espalhou pelos relvados portugueses. O mercado de Leste (um dos que eu mais gosto) tornou-se caro e hoje em dia observamos o movimento contrário ao que se viveu nos anos 90, com vários bons valores portugueses a rumarem aos emergentes campeonatos romeno, búlgaro e russo, em busca de condições financeiras que não encontram no nosso país.

15 Passes de rotura:

Anónimo 12 de abril de 2010 às 10:02  

http://4.bp.blogspot.com/_R62Bujl8OFs/S75XHlhRYqI/AAAAAAAAAsg/0xsPAKd_JII/s1600/tr%C3%AAs+para+quatro.jpg

Anónimo 12 de abril de 2010 às 10:05  

No Rio Ave x FC Porto, com o resultado em 0-0, houve cinco situações de possível penalty a favor dos dragões e em todas elas o árbitro Vasco Santos (um dos que quer ser profissional...) mandou seguir.

7': Jeferson carrega Falcao pelas costas. O empurrão é nítido, como também é nítido o facto da falta ter sido cometida dentro da área da equipa vila-condense.
Penalty claro por assinalar.

36’: André Vilas Boas disputa uma bola com Falcao. Cortou a bola antes de tocar em Falcao? As várias repetições que vi não esclarecem.
Benefício da dúvida para o árbitro.

39': Gaspar empurrou e derrubou Falcao na área do Rio Ave. Falta merecedora de grande penalidade? É a velha questão da intensidade.
Benefício da dúvida para o árbitro.

53’: Zé Gomes tenta o corte em carrinho e, depois, joga a bola deliberadamente com a mão.
Penalty por assinalar.

62':Ao tentar cortar a bola, Jeferson pontapeou Farías na perna esquerda. Falta mais do que evidente (nem os comentadores da RTP que vieram propositadamente de Lisboa tiveram dúvidas).
Penalty clarissimo por assinalar.

Pedro Veloso 12 de abril de 2010 às 11:45  

João crónica excelente a todos os níveis.

Ion Timofte era muito bom, acho que talvez hoje em dia tivesse dificuldades porque era um organizador de jogo à antiga, daqueles que só joga para a frente, mas era um regalo ver aquele pé esquerdo.

" Regressou à Roménia onde tem um restaurante chamado "Boavista". " Que pérola lol!

Linda essa foto com ele a festejar um golo e o João Loureiro com uma grande popa a celebrar lá atrás.

Salvador Mathias 12 de abril de 2010 às 12:58  

demétrios, que saudades.

João S. Barreto 12 de abril de 2010 às 13:06  

Veloso o João Loureiro aqui ainda devia ser recém-saído dos Ban lol

Eu ainda sou daqueles que acredito que numa equipa bem organizada defensivamente há espaço para um "romântico" como Riquelme, Timofte, etc. Tem é de haver alguém excepcionalmente bom a cobrir as suas costas.

Tomás Pipa 12 de abril de 2010 às 18:27  

lolol um romântico!!

Adorei o post, tal como gosto de todos os desta rúbrica.

Gostei bastante por termos começado com uma introdução história e uma alusão à guerra fria.

Gostei tmb da alusão que fazes ao Quevedo,que também se pode usar para o Paulo Sousa (lateral direito) e para o Zé Nando do Paços de Ferreira.

Adorei tb o facto de teres descoberto o nome do restaurante do senhor.

Só para acrescentar, o Timofte jogou contra o Sporting antes de ir para o FC Porto nas competições Europeias com a camisola do Poli Timissoara. Julgo que foi 7-0. Pelo menos o meu pai sempre que falava do Timofte, vinha sempre com a conversa de q o viu nesse jogo e nc mais se esqueceu do nome dele (está-se mesmo a ver lol..)

Pedro Veloso 12 de abril de 2010 às 18:56  

Lolol isso é aquelas tangas que os pais gostam sempre de mandar Tomás, também dizem sempre que eram craques de ping-pong na juventude!

Pedro Veloso 12 de abril de 2010 às 18:59  

Reparem como o João Barreto fala de românticos e omite Rui Costa ou Aimar para não parecer faccioso

João S. Barreto 12 de abril de 2010 às 22:18  

Haha bem reparado Veloso. Já sabia que me cairíam todos em cima se dissesse esses nomes, mas para bom entendedor meia palavra basta...;)

Robin dos Bosques 12 de abril de 2010 às 23:23  

Assim sim, dá gosto ouvir deste música; ninguém se zanga.

Tomás Pipa 13 de abril de 2010 às 11:15  

Lol o meu pai por acaso diz q era uma máquina de ping pong,mas já joguei com ele e é mesmo

JOAQUIM SANTOS 13 de abril de 2010 às 15:06  

CA GRANDE JOGADOR!!!!
GRANDA TIMOFTE!!!!

Tomás Pipa 13 de abril de 2010 às 19:51  

O maior romântico deles todos jogou no meu clube...Pedro Barbosa!!se estivessemos a perder 1-0 ou estivesse empatado, mas se a bola viesse no ar, Barbosa chutava sempre de primeira à procura do golo monumental!

João 16 de abril de 2010 às 15:48  

Post delicioso! Ainda continua casado com a portuguesa?
O homem fazia grandes jogos e marcou muito ao Porto!
Tomás lembras-te quando o P.Barbosa entrou em Alkmaar à chuva e fazia jogadas em que coma simples condução da bola tirava os holandeses do caminho. Fantástico e tens razão, tentava sempre o golo impossível! Recordo também saudosista os seus remates em arco!

João S. Barreto 16 de abril de 2010 às 15:52  

João não tendo a certeza penso que não. Até porque o casamento foi só uma formalidade. Era um casamento meramente contratual.