Os Vikings de Olsen



Longe de ser um peso-pesado do futebol mundial, ou sequer do europeu, a verdade é que a simpática Dinamarca tem, desde os anos 80, melhorado a sua performance enquanto selecção nacional - desastrosa até aí, sem nenhuma presença em Mundiais - e construído grupos razoavelmente fortes, nomeadamente a geração de ouro que em 1992 ganhou o Europeu da Suécia (Schmeichel, o génio Michael Laudrup, seu irmão Brian, Kim Vilfort, Jens Jensen, Povlsen...) e em 1995 a 1ª edição da Taça das Confederações.

No que toca a classificações no maior certame futebolístico internacional, em 1986 e 2002 conseguiu chegar aos 1/8 de final e em 1998, na sua melhor prestação, perder apenas nos 1/4 para o depois finalista vencido Brasil, por 3-2. Como se vê, está longe de ser uma história rica, mas também quando se qualificam não envergonham o país e passam a fase de grupos. Este ano, num grupo com Holanda, Camarões e Japão, há boas possibilidades de isso acontecer, embora eu pessoalmente - mais ainda depois de ler a crónica abaixo do meu colega Tomás Pipa - creia que Etoo & Cia. têm mais futebol e que por isso deverão garantir a 2ª vaga atrás da Holanda.


Um ponto importante a favor dos nórdicos é a estabilidade. O lendário e super-popular Morten Olsen lidera a selecção desde 2000 e a sua liderança é incontestável. Olsen deve o seu estatuto, diga-se, muito mais à carreira que construiu como jogador do que como treinador. Considerado o melhor jogador dinamarquês de sempre, marcou uma era como líbero ou médio defensivo nos anos 70 e sobretudo nos eighties, com 102 internacionalizações, 50 das quais como capitão. A nível de clubes jogou no obscuro B 1901 na Dinamarca antes de ir para o futebol belga: Brugge, Molenbeek e sobretudo o então fortíssimo Anderlecht (estava na equipa que em 1983 derrotou em duas mãos o SL Benfica na final da Taça UEFA) beneficiaram do seu talento, classe e capacidade de liderança. Como Petit e Maniche, não quis pendurar as botas antes de fazer uma perninha no Colónia, com a diferença de que esta era na altura uma equipa muito mais poderosa do que é hoje (fez 2º e 3º na Bundesliga nas duas épocas que lá esteve).

Mas o que conta é o presente e Morten Olsen anunciou ontem os 23 eleitos para a África do Sul. Na baliza, sem surpresa temos o veterano Thomas Sorensen - guarda-redes que sempre apreciei pela boa carreira na Premier League e que permitiu uma sucessão de qualidade depois do abandono do monstro Schmeichel -, secundado por dois guardiões de equipas locais, Stephen Andersen (Brondby) e Jesper Christiansen (Copenhagen). Outro guarda-redes a jogar no futebol nórdico, Kim Christensen (Goteborg), conseguiu entrar na lista de 26 pré-convocados mas foi, como esperado, descartado na última triagem.

Na defesa, provavelmente o sector mais forte desta selecção (apenas 5 golos sofridos em 10 jogos no grupo 1 de qualificação, onde estava também Portugal), Lars Jacobsen, jogador com experiência internacional sólida (Hamburgo, Nuremberga, Everton, hoje no Blackburn Rovers), embora nem sempre com grande utilização, deve ocupar a lateral direita, com o polivalente William Kvist (Copenhaga), que até é de raiz um médio, à espreita de um lugar ao sol. A defesa esquerdo, Simon Poulsen, campeão holandês pelo AZ Alkmaar em 2009, será o escolhido, a não ser que a boa época de Patrick Mtiliga no Málaga chegue para ser titular.

No centro da defesa, a dúvida instala-se. Daniel Agger, do Liverpool, um central com um pé esquerdo notável (que o diga o Benfica), é o mais cotado e jogará naturalmente. Ao seu lado, perfila-se Simon Kjaer, que no Palermo assinou uma época de grande qualidade. 35 jogos na Serie A (2 golos), pátria de centrais experientes e normalmente veteranos, é fantástico para um jovem estrangeiro de apenas 21 anos. Construiu uma excelente dupla com Cesare Bovo, pela qual passou, em parte, o excelente 5º lugar da equipa de Miccoli no campeonato. Há também, no entanto, outro bom central a alinhar no futebol italiano. Per Kroldrup (Fiorentina) alinhou em 25 jogos este ano - também com 2 golos - mais 5 na Champions, o que, aliado aos seus 30 anos, lhe confere grande experiência. Não sei até que ponto, por forma a ter uma defesa fortíssima, Olsen não pensará em desviar Agger para a lateral esquerda, que conhece bem, formando então Kjaer e Kroldrup a dupla de centrais.


No meio-campo - e recordo que a Dinamarca joga há anos em 4-4-2 clássico - a dupla de pivots no centro deverá ser ocupada pelo indiscutível Christian Poulsen (fez os 10 jogos da qualificação e 25 partidas na Serie A apesar de uma época globalmente fraquinha), 30 anos, jogador com traquejo internacional ao serviço de Schalke, Sevilha e Juventus, tendo ao seu lado, expectavelmente, Daniel Jensen. No entanto, a época pobre deste médio do Werder Bremen, não muito utilizado na Bundesliga e competições europeias, pode levar a que haja outra opção. Jakob Poulsen (Aarhus) jogou tanto (6 desafios) como Jensen na qualificação e aparenta ser uma alternativa viável.

Há também outras soluções. Desde logo, Thomas Kahlenberg, 27 anos, outrora uma grande esperança do futebol local. Trata-se de um médio de características mais ofensivas que os referidos acima e que, depois de 4 épocas bastante positivas no Auxerre, se transferiu esta época por €4 M para o Wolfsburgo, onde no entanto, dada a concorrência do bósnio Misimovic e uma arreliadora lesão, pouco tem podido jogar. A nível de selecção, foi nos sub-21 eleito para a equipa ideal do Euro-2006 e jogou, na selecção sénior, o Euro-2004 em Portugal. Depois de uma longa ausência, voltou para a selecção durante a qualificação para o Mundial 2010, fazendo 3 jogos e um golo fundamental, o da vitória fora sobre a Suécia há cerca de um ano. Outro Thomas, Enevoldsen (Groningen), é um miúdo de 22 anos que, como tantos dinamarqueses ao longo da história, foi jogar para a Holanda este ano e teve uma época razoável, marcando 6 golos em 19 partidas na Eredivisie. E por falar em ir jogar para a Holanda, apresento-vos aquele que é actualmente considerado a maior esperança do futebol dinamarquês: Christian Eriksen, 18 anos feitos em Fevereiro, assinou por € 1 M no início deste ano pelo Ajax de Martin Jol, o qual, tal como Van Basten, já o comparou aos dois últimos grandes nº 10 a sair da cantera do clube de Amesterdão: Sneijder e Van der Vaart. Eriksen jogou pouco mas já renovou até 2014. A sua convocatória deve ser um pouco como Ronaldo no Brasil de Parreira em 1994, ganhar experiência nas grandes competições mas sem jogar ainda.


Relativamente a uma posição com grande tradição no futebol deste país, a de extremo, apresentam-se como sempre várias opções. Dennis Rommedahl, apesar de ouvirmos falar dele desde os anos 90, "ainda" só tem 31 anos e voltou a assinar uma boa época, contribuindo com 8 golos para a maior máquina atacante que a Europa conheceu este ano, o Ajax - que curiosamente nem conseguiu ser campeão, perdendo para o Twente de Steve McLaren. Jogará à direita certamente. Do lado esquerdo, uma luta entre 2 veteranos: Jesper Gronkjaer (Copenhaga) e Martin Jorgensen (Fiorentina). Ambos excelentes jogadores mas a caminho da reforma, aposto no segundo, pois foi mais utilizado na qualificação e por ainda jogar com alguma regularidade na Fiorentina (fez 18 jogos entre liga e Champions). Uma quarta opção, algo surpreendente, foi a chamada de Mikkel Beckmann, 26 anos, cuja boa época na liga doméstica ao serviço do Randers lhe garantiu o passaporte para o Mundial. Ganhou a corrida a Silberbauer (Utrecht) e Michael Krohn-Dehli (Brondby), que estavam também nos pré-convocados.

Na frente de ataque, três galos para dois poleiros. A referência principal é hoje Niklas Bendtner, o gigante do Arsenal que continua sem convencer os críticos - entre os quais o autor deste artigo - da sua qualidade. Ou melhor, qualidade ele tem alguma, mas não para um dos big-four de Inglaterra; podia compensar o facto de ser trapalhão (nem é propriamente tosco) se marcasse muitos golos, mas esta época voltou a fazer apenas 11 tentos na Premier e LC. Reconheço que melhorou muito, contudo, na influência na equipa, e tem um remate de pé direito muito forte. Ao seu lado deve alinhar Jon-Dahl Tomasson. O homem que um dia esteve a um passo da Luz construiu uma carreira de sucesso em clubes como Feyenoord (Taça Uefa ao lado de Van Hooijdonk), Milan, Estugarda ou Villareal, e voltou a Roterdão em 2008 para assinar duas épocas regulares no principal clube da cidade, tendo agora sido mais uma vez chamado a emprestar a sua classe à selecção. Finalmente, há ainda Soren Larsen, avançado de bons recursos, com 11 golos em 17 jogos pela selecção. Depois de boas épocas no Schalke entre 2005 e 2008, foi para o Toulouse onde quase não jogou e este ano foi emprestado ao Duisburgo da Alemanha.

Em suma, Morten Olsen parece apresentar, à partida, uma selecção equilibrada, com vários jogadores para cada posição, sendo que a veterania de algumas das maiores referências poderá ser um óbice; da minha parte, espero o futebol agradável habitual, resta saber se com poder ofensivo suficiente para incomodar as selecções mais fortes.

3 Passes de rotura:

Tomás Pipa 31 de maio de 2010 às 13:22  

A defesa da Dinamarca é fantástica.

Sorensen é um excelente guarda-redes. Há anos que é um dos melhores guarda-redes da Premier (um pouco como o Friedel).

Kjaer é craque, é mesmo um excelente central e é muito novo. Deve dar o salto este ano para um grande da europa, possivelmente Juventus.

Agger é bom jogador, bom pé esquerdo e dispara bem de longe (um pouco como o Vermaelen). Veloso, acho que vai mesmo acontecer o que tu dizes, Agger vai jogar à esquerda e Kjaer/Kroldrup serão os centrais.

O meio-campo é que me parece pouco dinâmico, primeiro dizer que também acho que jogará Jorgensen porque o Gronkjaer já não é o que era.

Rommedahl é o típico "carrilero". Encosta-se à linha e a sua corrida só tem dois sentidos: correr para frente com bola e correr para trás para a ir buscar, se chegar ao fim da linha centra. Faz poucas diagonais, aparece pouco na zona do ponta-de-lança e muito menos no lado contrário.

Poulsen é tipo o Tymoschuk. Muito preso de movimentos, trapalhão, não transporta a bola, não faz passes a rasgar...apenas é bom para defender!

No ataque, Bendtner é um tema antigo deste blog. Flop ou Craque? O que eu acho é que um gajo que é titular do Arsenal a ponta-de-lança se arrisca a marcar muitos golos, e o Bendtner não marca, o que é estranho. Mas depois ele marcou golos importantes (portugal por exemplo). É um avançado com muita escola, mas está longe de ter jeito!

Não tinha ideia que o Soren Larsen tinha batido no fundo! Ele era bom e marcava muitos golos. Vi agora, Duisburgo é 2ªBundesliga e ele só marcou 5 golos, números muito fracos!

Manú 31 de maio de 2010 às 13:58  

veloso bom trabalho que temos aqui.

realmente tem uma excelente defesa a dinamarca vendo bem.

bendtner já era altura de ter explodido, nao acho que a constante escassez de numeros que apresenta justifique ser do plantel do arsenal.

o wenger deve querer um prato de gambas. teve henry, adebayor, bergkamp e aí obvio que os resultados eram bons. agora continua a dizer que joga um bom futebol e que se o futebol fosse justo era ele que ganhava e mais nao sei que mas a verdade é que usar bendtner para medir forças num campeonato de equipas com rooney, drogba, etc, nao podia dar melhor resultado do que tem dado.

sob pena de estar enganado, tambem nao me parece que va ser chamakh a resolver esta lacuna na sua equipa!

Sá Pinto 1 de junho de 2010 às 13:49  

arreliadora lesão. ahah mto bom