Na Figueira Manda a Tradição

Foi à 3ª jornada que vimos o melhor Sporting desta nova época. Para a maioria das equipas portuguesas jogar na Figueira da Foz é sempre complicado, mas parece que para o Sporting não é. Foi a sétima vitória em outras tantas deslocações e o Sporting já é 3º classificado com apenas FC Porto e Sp.Braga pela frente.

Paulo Sérgio, lançou a dupla chilena – Matías e Valdés – como titulares e manteve a aposta em Abel na lateral direita apesar da convocatória do novo menino-bonito de Alvalade, João Pereira. Foi sem surpresa que Vukcevic e Hélder Postiga voltaram ao banco de suplentes.

O Sporting começou o jogo num 4-2-3-1 com Yannick a extremo-esquerdo, Valdés sobre a direita e Matias como nº10. Também não foram poucas as vezes que Yannick surgiu a fazer companhia a Liedson na frente de ataque, tal como não foram poucas as vezes que vimos Valdés em terrenos mais interiores, dando assim a ideia de um 4-4-2 losango.

Do lado da Naval, as minhas atenções recaíram sobre a titularidade de Hugo Machado, um antigo nº10 da equipa de B leonina que chegou a fazer e
a pré-temporada com Fernando Santos em 2003/2004. Também estava curioso para saber como se iria comportar o João Pedro, campeão europeu sub-17 em 2003.

O Sporting imprimiu um ritmo muito forte no início do jogo fazendo prever o golo a qualquer momento e logo aos 2’ já Liedson estava a disparar à baliza do francês Salin.

A Naval apresentava muitas dificuldades em sair com a bola controlada do seu meio-campo defensivo. Era sem surpresa que o Sporting rematava a “torto e a direito”. Valdés aos 4’, Evaldo aos 6’, Liedson aos 8’ por aí adiante…um massacre!

Aos 14’, após boa jogada individual de Valdés do lado direito, Yannick acerta na barra com um excelente cabeceamento. Na recarga Liedson falhou o golo iminente, mas o árbitro já tinha interrompido a partida por fora de jogo.

Foi sem surpresa que o Sporting chegou ao golo aos 39’. Matias viu muito bem Abel a entrar pela área e fez um passe de morte, o lateral domina mal a bola (como é costume) e remata (terá sido um passe?) para Liedson que resolve de calcanhar. Foi o primeiro golo de Liedson esta época, ele que estava a demorar a marcar.

Aos 43’ Matias quase marcou o golo da noite com um forte disparo de longe, Salin (bom guarda-redes ex Tours) defendeu para canto!

Na 2ª parte o Sporting baixou o ritmo e foi aí que entrou em acção Lupède, o jovem defesa francês da Naval parecia não querer deixar o Sporting sair da Figueira sem marcar mais uns golos.

Aos 58’ Lupéde travou em falta Liedson dentro da área e Elmano Santos assinalou penalty. Matias (que nunca falhou um penalty na sua carreira) não deu qualquer hipótese e voltou a marcar neste campeonato.

Aos 70’, Lupéde (quem mais haveria de ser?) isolou Yannick com uma assistência “à Secretário” e este não descurou a oportunidade. Segundo golo de Yannick esta época. Parece compensar as exibições paupérrimas com golos, já não é mau!

Aos 75’, João Pedro reduziu para 1-3 através dum lance confuso em que os jogadores leoninos não conseguiram aliviar a bola da área.

Ao 79’ Valdés esteve muito perto de marcar um golaço “à Dembelé” mas faltou-lhe discernimento na hora de rematar de pé esquerdo!

Aos 90’+4, novo brinde de Lupéde para Yannick, só que desta vez Yannick achou que poderia dar-se ao luxo de oferecer o golo a Saleiro. Achou mal!

O Sporting venceu com justiça na Figueira apresentando o seu melhor futebol desta época. Deixo a análise dos lances polémicos (ainda são alguns) para a rubrica semanal do Pedro Veloso.

No Sporting destaque para:

Valdés: não é nenhum extremo virtuoso como Quaresma ou Nani, mas não perde uma bola estupidamente, parece-me ser um jogador inteligente.
Dupla de centrais: Nuno André Coelho atravessa um bom momento de forma que culminou com a chamada à Selecção AA (precipitada na minha opinião) e Daniel Carriço tem-se revelado um líder (nenhuma surpresa) neste início de época.
Liedson: já não tem a genica de outros tempos mas mesmo assim dá trabalho a qualquer defesa.

Yannick: goste-se ou não (eu tenho dias), Yannick tem sido decisivo com as suas correrias desenfreadas. É com agrado que o vejo de volta à Selecção Nacional dois anos depois (vendo bem só temos Nani, Danny e Quaresma melhores que ele de entre os extremos desiquilibradores que poderiam ser convocados)

Na Naval destaque para:

Lupède pela negativa por todos os disparates que andou a fazer em campo.

Godomèche: o verdadeiro pulmão do meio-campo da equipa da Naval, também ele um líder!
João Pedro: o ex Sp.Braga deu boas indicações neste jogo, revelando uma excelente técnica com ambos os pés.

Na próxima jornada o Sporting tem tudo para subir na tabela classificativa uma vez que o Sp.Braga (2º) vai ao Dragão (1º) e o Sporting recebe o Olhanense num jogo que tem que ganhar obrigatoriamente!

12 Passes de rotura:

Mac 1 de setembro de 2010 às 10:34  

Vi o jogo a espaços e pelo que vi até concordo com a crónica!

No que diz respeito a extremos Varela é bem melhor que o Yannick! Deves ter-te esquecido dele porque não acredito que achas o Yanick tão bom ou igual ao Varela!

Mac 1 de setembro de 2010 às 10:35  

Ah esquece... "que poderiam ser convocados"!

Tomás Pipa 1 de setembro de 2010 às 10:39  

Varela e Ronaldo lesionados
Simão retirado

Depois para disputar o lugar havia: Ukra que não joga, Boa Morte que está velho e já nem joga a extremo, Vieirinha que joga num clube pior e marca bem menos golos e depois o resto nem conta

Pedro Veloso 1 de setembro de 2010 às 12:29  

O Vieirinha foi o melhor jogador do campeonato grego, aposto que neste momento é bem melhor que o Yannick! E até vejo que marca uns golos de vez em quando.

Por falar em bons jogadores esquecidos no estrangeiro, que é que o Paulo Machado tem de fazer mais para ser convocado?

Pa o Valdés de facto parece bom jogador, nos jogos em Paços e com o Brondby em casa tinha sido péssimo, com muitas perdas de bola, mas agora está nitidamente a subir de forma. Embora sinceramente o P.Sérgio disse que queria extremos desequilibradores e ainda não vi o Valdés partir defesas.

Acho que o SCP tem um problema para resolver, porque não acredito que este 4-2-3-1 seja ameaçador contra equipas fortes, há pouca presença na área e sem Lupedes e Jonatas (sim, é verdade que há para aí 8 equipas na Liga que têm uns parecidos), tudo se complica. Por outro lado, quando jogaram em 4-4-2 clássico como na 1ª parte na Dinamarca notou-se ali um buracão no meio-campo. Para mim seria melhor um falso losango tipo SLB do ano passado, com P. Mendes a trinco, Maniche mais sobre a direira (como no Porto), Yannick do lado esquerdo (mas mais ala que o Maniche), Matias no apoio a 2 avançados. Ou então Vuk a ala esquerdo e o Yannick ser um dos dois avançados. É que vais ver que o Liedson sozinho, tirando estes golos mais em esforço que só maus defesas concedem, não vai conseguir grande coisa. Por alguma razão durante anos o SCP nunca jogou só com um ponta-de-lança.

Vitória, como dizes, sem qualquer discussão. A Naval desiludiu-me porque jogou completamente para não perder, e o SCP fez, e bem, pagá-los por isso. Já agora, o Marinho não percebo porque não é titular, fez mais em meia-hora do que os colegas no jogo todo.

Tomás Pipa 1 de setembro de 2010 às 13:32  

Sim Veloso, por isso toquei no Vieirinha comos sendo o único que poderia estar em vez do Yannick, mas é sempre duvidoso. Vieirinha já tem 2 golos esta época, tantos como o Yannick e a época passada marcou 7, tantos também como o Yannick. O Vieirinha tem a vantagem de ter jogado 34 dos 36 jogos do campeonato grego e todos eles a titular só que o PAOK é o PAOK e o Sporting é o Sporting.

O Marinho é um dos bons jogadores da Naval e para mim, a par do Godomeche, um dos jogadores-bandeira da equipa. Claro que tem que jogar...mas sabes como são estes treinadores, gostam de ter alguém no banco para dizerem q eles mexem bem no jogo!

Também concordo, Liedson sózinho na frente não dá. Contra equipas fortes duvido que faça alguma coisa, ele é bom é a aproveitar estes brindes deste género de defesas e nisso aproveita como ninguém.

Paulo Machado deveria ir à selecção como é óbvio. Pq raio é convocado o M.Fernandes?

Tomás Pipa 1 de setembro de 2010 às 13:32  
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo 2 de setembro de 2010 às 04:41  

Boa análise Tomás.
O pormenor do Matías a partir o defesa com uma finta de letra e o potente remate de seguida quase me fizeram esquecer o 4 para 1 contra o Brondby em que ele conseguiu perder a bola.
Foi pena no 1º golo o Liedson estar adiantado na altura do primeiro passe, mas espero pela crónica do grande Veloso para comentar.
Este Sporting com Pedro Mendes pode ser ameaçador, mas não estou a gostar do discurso do Paulo Sérgio. Não tem de dizer publicamente que precisa de um avançado alto, pois só tira credibilidade aos que lá temos. Porque não joga Torsiglieri?
Há algumas coisas estranhas.

lchampalimaud

Pedro Veloso 2 de setembro de 2010 às 15:11  

Champal bem lembrado, quase que saltei do sofá com esse pormenor do Matias!

"Foi pena no 1º golo o Liedson estar adiantado" Lol...pena para os outros!

O P.Sérgio disse que está a gostar do Torsi mas que ele ainda não está adaptado à equipa e ao esquema, porque na Argentina pelos vistos jogava numa defesa de 3 centrais.

Tomás Pipa 2 de setembro de 2010 às 19:42  

Porra, já nem me lembrava do partimento do Matías!É verdade, partiu completamente o outro gajo que até caíu no chão,mas depois não deu golo (para variar)..

O P. Sérgio disse que o Torsi era um defesa que ganhava bem nas alturas, era tranquilo com a bola nos pés, agressivo e rápido (a mim não me pareceu nada disso). Se o Paulo acha isso porque é que o gajo não joga? Também agora não há porque mudar o centro da defesa..

João 5 de setembro de 2010 às 17:25  

Boa crónica Tomás!Não vi grande parte do jogo e tentei encontrar a jogada do Valdés, mas sem sucesso!O gajo em itália marcava vários golos assim e vê-se que às vezes gosta de fuçar;) Acho muito estranho o Torsi, tanta adaptação para um gajo que custou 3,5 Milhoes?Com o Pongolle faz 10. Enfim, situações estranhas, mas para à frente há-de jogar.Estou a gostar do NAC mas ainda comete alguns erros de marcação frequentes.

Anónimo 6 de setembro de 2010 às 18:21  

Crónicas de Bobby Robson (traduzido):

"Eu já devia saber o que esperar de Sousa Sintra (…). Numa semana, íamos jogar contra o Benfica no Estádio de Alvalade. Não lhes ganhávamos em casa nem fora há anos e a rivalidade é tão intensa que o presidente tentou impedir-me de ir vê-los jogar. “Não vais. Nós odiamos os gajos. Tu és o treinador e não podes ser visto no estádio do Benfica. Proíbo-te de ires”, disse-me ele.

“Estás a falar a sério?”, respondi. Imagine-se um treinador do Liverpool não ir ver um jogo em Manchester. Portugal tem uma cultura totalmente diferente.
O presidente ofereceu-me a oportunidade de levar os jogadores para um ilha pequena onde costumávamos treinar e relaxar. Na sexta-feira antes do jogo, o José [Mourinho] informou-me: “Bobby, o presidente quer vir ver os jogadores”. Quando chegou fez um discurso, cheio de paixão, sempre a gesticular. Não percebi uma única palavra do que ele estava a dizer aos jogadores. Depois, bebeu um café e foi-se embora. “O que é que ele disse?”, perguntei ao José. “Bem, ele prometeu aos jogadores um prémio de jogo especial”.

O Sintra tinha duplicado o prémio de jogo habitual contra o Benfica ou Porto. Os jogadores estavam, naturalmente, satisfeitos. Nos primeiros 12 segundos, o Balakov, que era um grande jogador – tão bom como o Figo - marcou um golo a 30 metros. 12 segundos contra o Benfica e já estávamos a ganhar um zero.

Pouco depois, Stan Valckx, o meu defesa central de confiança, levou uma cotovelada na cara. Eu percebi que ele tinha um osso partido. No intervalo, enquanto pensávamos o que fazer em relação a isto, o presidente apareceu no balneário, a gritar, a gesticular, a incentivar os jogadores a espetarem a espada no nosso velho rival. Os jogadores respondiam na mesma moeda “Yeah, Yeah”, gritavam. Nunca tinha tido um presidente no meu balneário, não gostava. Neste intervalo de 15 minutos, eu acredito que deve haver calma e método. Neste caos, com um louco à solta, não conseguia passar uma palavra sensata aos jogadores. “Ele duplicou o prémio de jogo outra vez”, explicou-me o José. “Outra vez?”
Ganhámos o jogo 2-0 e o Valckx jogou até ao fim"

Eram tão bons tempos

Pedro Veloso 8 de setembro de 2010 às 10:45  

Haha obrigado anónimo por estes pedaços deliciosos.
Sousa Cintra era uma autêntica personagem, fartava-se de fazer disparates (como despedir o Robson) mas tinha uma paixão enorme pelo SCP. Construía grandes equipas que depois perdiam, umas vezes por demérito, outras porque chegava o fantasma do Natal, outras porque SLB e FCP eram muito fortes na época. Eu que sou do SLB admiro a "militância" leonina da época, quando tudo corria mal mas continuavam a meter 50 ou 60 mil em Alvalade. E acho que o Sousa Cintra conseguia alimentar isso bem, porque ele próprio era e é doente pelo SCP. Presumo que fosse bom gestor mas em vez de privilegiar a "sustentabilidade financeira", investia até não poder mais no futebol, o que é música para os ouvidos dos sócios.

Acho que este vídeo mostra bem o que era o Sousa Cintra:

http://www.youtube.com/watch?v=yz4hQYFEBFA