Um ponto importante a favor dos nórdicos é a estabilidade. O lendário e super-popular
Morten Olsen lidera a selecção desde 2000 e a sua liderança é incontestável. Olsen deve o seu estatuto, diga-se, muito mais à carreira que construiu como jogador do que como treinador. Considerado o melhor jogador dinamarquês de sempre, marcou uma era como líbero ou médio defensivo nos anos 70 e sobretudo nos
eighties, com 102 internacionalizações, 50 das quais como capitão. A nível de clubes jogou no obscuro B 1901 na Dinamarca antes de ir para o futebol belga: Brugge, Molenbeek e sobretudo o então fortíssimo Anderlecht (estava na equipa que em 1983 derrotou em duas mãos o SL Benfica na final da Taça UEFA) beneficiaram do seu talento, classe e capacidade de liderança. Como Petit e Maniche, não quis pendurar as botas antes de fazer uma perninha no Colónia, com a diferença de que esta era na altura uma equipa muito mais poderosa do que é hoje (fez 2º e 3º na
Bundesliga nas duas épocas que lá esteve).
Mas o que conta é o presente e Morten Olsen anunciou ontem os 23 eleitos para a África do Sul. Na baliza, sem surpresa temos o veterano
Thomas Sorensen - guarda-redes que sempre apreciei pela boa carreira na
Premier League e que permitiu uma sucessão de qualidade depois do abandono do monstro Schmeichel -, secundado por dois guardiões de equipas locais,
Stephen Andersen (Brondby) e
Jesper Christiansen (Copenhagen). Outro guarda-redes a jogar no futebol nórdico,
Kim Christensen (Goteborg), conseguiu entrar na lista de 26 pré-convocados mas foi, como esperado, descartado na última triagem.

Na defesa, provavelmente o sector mais forte desta selecção (apenas 5 golos sofridos em 10 jogos no grupo 1 de qualificação, onde estava também Portugal),
Lars Jacobsen, jogador com experiência internacional sólida (Hamburgo, Nuremberga, Everton, hoje no Blackburn Rovers), embora nem sempre com grande utilização, deve ocupar a lateral direita, com o polivalente
William Kvist (Copenhaga), que até é de raiz um médio, à espreita de um lugar ao sol. A defesa esquerdo,
Simon Poulsen, campeão holandês pelo AZ Alkmaar em 2009, será o escolhido, a não ser que a boa época de
Patrick Mtiliga no Málaga chegue para ser titular.
No centro da defesa, a dúvida instala-se.
Daniel Agger, do Liverpool, um central com um pé esquerdo notável (que o diga o Benfica), é o mais cotado e jogará naturalmente. Ao seu lado, perfila-se
Simon Kjaer, que no Palermo assinou uma época de grande qualidade. 35 jogos na
Serie A (2 golos), pátria de centrais experientes e normalmente veteranos, é fantástico para um jovem estrangeiro de apenas 21 anos. Construiu uma excelente dupla com Cesare Bovo, pela qual passou, em parte, o excelente 5º lugar da equipa de Miccoli no campeonato. Há também, no entanto, outro bom central a alinhar no futebol italiano.
Per Kroldrup (Fiorentina) alinhou em 25 jogos este ano - também com 2 golos - mais 5 na Champions, o que, aliado aos seus 30 anos, lhe confere grande experiência. Não sei até que ponto, por forma a ter uma defesa fortíssima, Olsen não pensará em desviar Agger para a lateral esquerda, que conhece bem, formando então Kjaer e Kroldrup a dupla de centrais.

No meio-campo - e recordo que a Dinamarca joga há anos em 4-4-2 clássico - a dupla de
pivots no centro deverá ser ocupada pelo indiscutível
Christian Poulsen (fez os 10 jogos da qualificação e 25 partidas na
Serie A apesar de uma época globalmente fraquinha), 30 anos, jogador com traquejo internacional ao serviço
de Schalke, Sevilha e Juventus, tendo ao seu lado, expectavelmente,
Daniel Jensen. No entanto, a época pobre deste médio do Werder Bremen, não muito utilizado na
Bundesliga e competições europeias, pode levar a que haja outra opção.
Jakob Poulsen (Aarhus) jogou tanto (6 desafios) como Jensen na qualificação e aparenta ser uma alternativa viável.
Há também outras soluções. Desde logo,
Thomas Kahlenberg, 27
anos, outrora uma grande esperança do futebol local. Trata-se de um médio de características mais ofensivas que os referidos acima e que, depois de 4 épocas bastante positivas no Auxerre, se transferiu esta época por €4 M para o Wolfsburgo, onde no entanto, dada a concorrência do bósnio Misimovic e uma arreliadora lesão, pouco tem podido jogar. A nível de selecção, foi nos sub-21 eleito para a equipa ideal do Euro-2006 e jogou, na selecção sénior, o Euro-2004 em Portugal. Depois de uma longa ausência, voltou para a selecção durante a qualificação para o Mundial 2010, fazendo 3 jogos e um golo fundamental, o da vitória fora sobre a Suécia há cerca de um ano. Outro Thomas,
Enevoldsen (Groningen), é um miúdo de 22 anos que, como tantos dinamarqueses ao longo da história, foi jogar para a Holanda este ano e teve uma época razoável, marcando 6 golos em 19 partidas na
Eredivisie. E por falar em ir jogar para a Holanda, apresento-vos aquele que é actualmente considerado a maior esperança do futebol dinamarquês:
Christian Eriksen, 18 anos feitos em Fevereiro, assinou por € 1 M no início deste ano pelo Ajax de Martin Jol, o qual, tal como Van Basten, já o comparou aos dois últimos grandes nº 10 a sair da
cantera do clube de Amesterdão: Sneijder e Van der Vaart. Eriksen jogou pouco mas já renovou até 2014. A sua convocatória deve ser um pouco como Ronaldo no Brasil de Parreira em 1994, ganhar experiência nas grandes competições mas sem jogar ainda.

Relativamente a uma posição com grande tradição no futebol deste país, a de extremo, apresentam-se como sempre várias opções.
Dennis Rommedahl, apesar de ouvirmos falar dele desde os anos 90, "ainda" só tem 31 anos e voltou a assinar uma boa época, contribuindo com 8 golos para a maior máquina atacante que a Europa conheceu este ano, o Ajax - que curiosamente nem conseguiu ser campeão, perdendo para o Twente de Steve McLaren. Jogará à direita certamente. Do lado esquerdo, uma luta entre 2 veteranos:
Jesper Gronkjaer (Copenhaga) e
Martin Jorgensen (Fiorentina). Ambos excelentes jogadores mas a caminho da reforma, aposto no segundo, pois foi mais utilizado na qualificação e por ainda jogar com alguma regularidade na Fiorentina (fez 18 jogos entre liga e
Champions). Uma quarta opção, algo surpreendente, foi a chamada de
Mikkel Beckmann, 26 anos, cuja boa época na liga doméstica ao serviço do Randers lhe garantiu o passaporte para o Mundial. Ganhou a corrida a
Silberbauer (Utrecht) e
Michael Krohn-Dehli (Brondby), que estavam também nos pré-convocados.

Na frente de ataque, três galos para dois poleiros. A referência principal é hoje
Niklas Bendtner, o gigante do Arsenal que continua sem convencer os críticos - entre os quais o autor deste artigo - da sua qualidade. Ou melhor, qualidade ele tem alguma, mas não para um dos
big-four de Inglaterra; podia compensar o facto de ser trapalhão (nem é propriamente tosco) se marcasse muitos golos, mas esta época voltou a fazer apenas 11 tentos na
Premier e LC. Reconheço que melhorou muito, contudo, na influência na equipa, e tem um remate de pé direito muito forte. Ao seu lado deve alinhar
Jon-Dahl Tomasson. O homem que um dia esteve a um passo da Luz construiu uma carreira de sucesso em clubes como Feyenoord (Taça Uefa ao lado de Van Hooijdonk), Milan, Estugarda ou Villareal, e voltou a Roterdão em 2008 para assinar duas épocas regulares no principal clube da cidade, tendo agora sido mais uma vez chamado a emprestar a sua classe à selecção. Finalmente, há ainda
Soren Larsen, avançado de bons recursos, com 11 golos em 17 jogos pela selecção. Depois de boas épocas no Schalke entre 2005 e 2008, foi para o Toulouse onde quase não jogou e este ano foi emprestado ao Duisburgo da Alemanha.
Em suma, Morten Olsen parece apresentar, à partida, uma selecção equilibrada, com vários jogadores para cada posição, sendo que a veterania de algumas das maiores referências poderá ser um óbice; da minha parte, espero o futebol agradável habitual, resta saber se com poder ofensivo suficiente para incomodar as selecções mais fortes.