1ª Jornada do Mundial 2010 - Rescaldo (Parte I)

A 1ª jornada da Fase de Grupos do Mundial 2010 foi a pior de sempre em termos de média de golos por jogo. Com apenas dois jogos em que foram marcados mais de dois golos, esta jornada fica também marcada pelos 6 (!) empates em 16 jogos. As equipas têm apresentado um futebol muito cauteloso, priveligiando a posse de bola ou o posicionamento defensivo, o que se reflecte naturalmente no número de golos marcados. Como Queiroz disse, este pode mesmo vir a ser um dos mais competitivos Mundiais de sempre, uma vez que os jogos vão sendo resolvidos em detalhes e o equilíbrio é imenso. Passemos então a analisar de forma sucinta o que cada equipa demonstrou até aqui.


Grupo A (África do Sul, México, Uruguai, França)

O primeiro jogo deste Campeonato do Mundo colocou frente a frente os anfitriões, a África do Sul, e o México. Do empate a uma bola (golos de Tchabalala e Rafa Marquez) fica a ideia de um México com um sistema táctico já muito bem trabalhado, com algumas nuances que reflectem bem os dois meses que Aguirre teve para preparar este Mundial. Os Aztecas acabaram por ser traídos pelo contra-ataque mortífero dos Bafana Bafana, onde se destacaram Tchabalala, autor de um grande golo, e Mphela. O guarda-redes Khune também demonstrou segurança e reflexos assinaláveis. Estes três jogadores ainda actuam no campeonato do seu país e são os elementos desta Selecção que poderão aspirar a voos mais altos após o certame. Do lado mexicano, o destaque vai para Giovani dos Santos, que parece querer regressar de forma definitiva ao futebol de mais alto nível, com uma exibição consistente e mais madura em relação àquilo que nos vem habituando.

Do França - Uruguai esperava-se um jogo de grande qualidade, sendo que ambas as equipas apresentam individualidades de classe Mundial, principalmente nos respectivos ataques. Porém, o jogo acabou por ser bastante enfadonho, com o Uruguai a fechar as portas da sua baliza. Forlan não marcou mas jogou muito bem, Arevalo Rios (referenciado pelo Sporting CP) mostrou grande competência defensiva e Lodeiro, um dos jogadores que mais expectativas gerava à partida para este Mundial, foi expulso infantilmente, estando em campo apenas durante 18 minutos. No final, o empate sem golos deixa tudo em aberto neste Grupo A, onde a a favorita França terá que mostrar muito mais para se superiorizar a México e Uruguai.


Grupo B (Argentina, Nigéria, Coreia do Sul, Grécia)

A Argentina de Maradona surpreendeu pela positiva na forma como se organizou em campo, criando condições para o aparecimento do seu maior valor individual, Lionel Messi. Apesar do razoável caudal ofensivo que conseguiu criar, a equipa das Pampas nunca esteve completamente segura, uma vez que a ala esquerda nigeriana foi criando algumas situações de maior perigo junto da baliza de Romero, especialmente por intermédio de Obasi. Após a vitória por 1-0 (golo de Heinze), Maradona terá que corrigir o posicionamento dos jogadores que compoem a sua ala direita, não sendo de afastar a possibilidade de Jonas Gutierrez perder a titularidade. Higuain esteve também muito perdulário e tem Milito a Aguero a espreitarem o "onze". Do lado nigeriano, o destaque vai obviamente para Enyeama. O "Gato" negou vários golos a Messi e Higuain, sendo considerado o melhor em campo nesta partida. Poderá dar o salto (actua no Hapoel Tel-Aviv) após o Mundial. Maradona continua a dar espectáculo e promete ser o centro das atenções durante toda a competição.

No outro jogo deste grupo, a Coreia do Sul deu uma lição de contra-ataque à...Grécia de Rehhagel. Os helénicos apresentaram um 4-3-3 excessivamente estático, com 3 avançados practicamente imóveis (Samaras, Gekas e Charisteas), limitando-se a bombear bolas para a grande área sul-coreana. Desta vez o feitiço virou-se contra o feiticeiro e Rehhagel, que se servira de um mortífero contra-ataque para conquistar o Euro 2004, viu Park Ji-Sung rasgar a defesa grega por diversas vezes, servindo o sempre combativo e disponível Park Chu-Young, que só por falta de sorte não marcou neste jogo. O resultado de 2-0 (golos de Lee Jung-Soo e Park Ji-Sung) é inteiramente justo para a melhor equipa asiática da actualidade, que neste jogo demonstrou uma grande solidariedade no capítulo defensivo e muita acutilância na forma como atacou.

Grupo C (Inglaterra, EUA, Argélia, Eslovénia)

Os ingleses chegaram a este Mundial com a moral em alta, mas o empate frente aos EUA coloca a equipa de Capello numa situação compremetedora. Sem Gareth Barry, o treinador italiano colocou os "gémeos" Lampard e Gerrard lado-a-lado no meio-campo. O capitão do Liverpool até começou bem o jogo, com um golo logo a abrir, mas os dois médios criativos acabaram por se anular, não sendo capazes de criar um fio condutor de jogo para a sua equipa. Surpreendentemente, Heskey (provavelmente o elemento menos cotado do "onze" inglês) acabou por ser o melhor da sua equipa. Rooney esteve muito abaixo das expectativas e Green pôs a nú o grande ponto fraco da formação inglesa, a baliza. Os EUA de Bob Bradley mostraram ter a lição bem estudada e não se deixaram abater pelo golo inicial do seu adversário. Donovan conseguiu sempre desequilibrar nas alas e Clint Dempsey é um jogador acima da média, que acabou por ser bafejado pela sorte no golo do empate. Destaque ainda para Jozy Altidore que deu muito trabalho a Terry, King e Carragher.

O Argélia - Eslovénia foi um jogo com pouca história, com duas equipas à procura do erro adversário. Sabendo que quem perdesse dificilmente passaria à próxima fase, ambas as formações foram enrolando o jogo, esperando por algum lance fortuito, que acabou por acontecer já perto do final, com o golo de Koren, um dos melhores em campo, que beneficiou de uma grande falha do guarda-redes Chaouchi. Na Eslovénia, Handanovic é um dos melhores guarda-redes da competição, transmitindo sempre grande confiança ao seu sector defensivo e Birsa é um desequilibrador, partindo das alas para o centro do terreno. Do lado (franco)argelino, destacou-se, pela positiva, Belhadj, um lateral esquerdo de cariz ofensivo que poderá ser atraído este Verão para algum clube de maior dimensão, após a descida de divisão do Portsmouth, onde vinha actuando. Pela negativa, o destaque vai obviamente para o guarda-redes e para Ghezzal, que entrou aos 58 minutos para ser expulso pouco antes do golo esloveno.

Grupo D (Alemanha, Austrália, Sérvia, Gana)

A Alemanha fez a exibição mais conseguida desta primeira jornada. Se é verdade que a Austrália nunca foi ameaça no ataque (jogou sem avançados) e que a veterania dos seus defesas é tabém um handicap para a equipa de Pim Verbeek, também é verdade que Joachim Low trabalhou bem a sua equipa, jogando em 4-3-3. Esta parece-me ser a melhor Alemanha desde 1996 e pode mesmo ser uma real candidata ao título. Lahm é um lateral extraordinário, que não sabe jogar mal, Schweinsteiger ganhou com a sua mudança para o centro do meio-campo (onde foi bem acompanhado por Khedira), Podolski na Selecção é enorme, Muller marca e dá a marcar, Klose é simplesmente letal (já leva 11 golos em 3 Fases Finais de Campeonatos do Mundo). Na vitória por 4-0 (Podolski, Klose, Muller, Cacau), o maior destaque vai para Mesut Ozil, que fez aquela que é até agora a melhor exibição individual deste Mundial. As suas mudanças de velocidade e os seus passes de ruptura partiram ao meio a defesa australiana por diversas vezes e as melhores ocasiões de perigo da Alemanha saíram invariavelmente dos seus pés. Para seguir com atenção. Pela negativa regista-se a expulsão de Cahill, que provavelmente não participará mais neste Mundial. Ridículo.

Sérvia e Gana eram vistos como os principais candidatos ao segundo lugar do Grupo D, sendo que a equipa sérvia era vista como favorita, principalmente face à ausência do "motor" da equipa ganesa, Essien. A primeira parte foi marcada por um grande equilíbrio, com ambas as formações a apostarem preferencialmente nas bolas paradas. Porém, na segunda parte o Gana, comandado por Asamoah Gyan, foi sempre mais perigoso e após uma expulsão (discutível) de Lukovic e um erro infantil e incompreensível de Kuzmanovic (numa altura em que a Sérvia até ía criando perigo junto à baliza de Kingson), o jogador do Rennes acabou mesmo por marcar o golo da vitória na marcação de uma grande penalidade. Gyan foi indiscutivelmente o melhor em campo, com Ayew e Tagoe também em bom plano do lado dos africanos. Na equipa balcânica, Jovanovic foi sempre o elemento mais inconformado. Krasic, Kolarov e Vidic estiveram muitos furos abaixo do esperado. Ficou difícil a tarefa da equipa de Antic e o "fantasma de 2006" já paira sobre a formação sérvia.

2 Passes de rotura:

Tomás Pipa 18 de junho de 2010 às 20:28  

Já tenho estado a acompanhar mais o Mundial.

Achei Kolarov, Krasic e Birsa jogadores muito interessantes!Provavelmente também muito caros!

Nestes 4 primeiros grupos, creio que já dá para ver umas coisas:

É lógico que México e Uruguai vão combinar o empate no último jogo e deixar A.Sul e França de fora.

No Grupo B, fiquei desiludido com a Grécia no 1º jogo, mas agradado no 2º jogo. Veremos se conseguem passar o grupo no 3º jogo com a Argentina.

No C, acho que a Inglaterra vai passar com a Eslovénia!!se bem que parece estar dificil a Inglaterra marcar a Argélia! Gostei bastante da Eslovénia e dos EUA.

No D, a Alemanha mostrou hoje a "outra Alemanha". Exibição terrível. Por sua vez a Sérvia mostrou "a outra Sérvia". Acho que passam as duas. Duvido que o Gana ganhe a Austrália!

João S. Barreto 19 de junho de 2010 às 02:57  

Também gostei do Birsa Tomás. Se bem que na segunda parte com os EUA desapareceu para se começar a ver Donovan, que fez um grande jogo.