1ª Jornada do Mundial 2010 - Rescaldo (Parte II)

Grupo E (Holanda, Dinamarca, Japão, Camarões)



O primeiro jogo 100% europeu deste Mundial, que opunha Holanda e Dinamarca, era considerado como o primeiro jogo "grande" da competição. Numa partida em que o som das vuvuzelas foi claramente inferior ao verificado em jogos com menor afluência (onde muitos lugares são ocupados por sul-africanos), a Holanda fez uma primeira parte muito pobre, mostrando-se incapaz de levar perigo à baliza de Sorensen. Foram então da Dinamarca as situações de maior perigo, especialmente por intermédio de Bendtner, recuperado à última da hora para este jogo. Na segunda parte, porém, tudo correu conforme as ambições holandesas, desde logo com o auto-golo de Agger, logo a abrir. A entrada em campo de Elia, para o lugar de um desinspirado Van der Vaart, acabou por ser determinante, com o jovem extremo a partir por completo a defesa contrária, com alguns pormenores de fantasia e brilhantismo. Sneijder aproveitou também este período de maior espaço para aparecer no jogo com os seus passes característicos. No fim, a vitória por 2-0 (Agger p.b., Kuyt) acaba por premiar o futebol ofensivo da Holanda na segunda parte, onde se destacaram Sneijder, Kuyt e (principalmente) Elia. A Dinamarca tem uma boa organização, mas a idade avançada de alguns dos seus elementos ameaça hipotecar as ambições da equipa de Morten Olsen.



Já os Camarões encontraram uma equipa nipónica extremamente bem organizada no sector deffensivo. Os "leões indomáveis" procuraram fazer uso do seu maior poder físico para se superiorizarem ao seu adversário, mas o Japão foi sempre mais inteligente, gerindo bem os ritmos do jogo. Keisuke Honda (recentemente considerado como uma das 5 melhores contratações da época que acabou) marcou o golo da vitória japonesa e é um dos jogadores a ter em conta neste Torneio. Le Guen tentou imitar Mourinho, encostando Eto'o à direita, o que impediu o melhor jogador camaronês de aparecer no seu melhor neste jogo. Parece que o segundo lugar será decidido entre Dinamarca e Japão.




Grupo F (Itália, Paraguai, Eslováquia, Nova Zelândia)
Os Campeões do Mundo chegaram a este Mundial sob uma chuva de críticas, não só pelas opções algo controversas de Lippi, mas também pelas fracas exibições nos jogos de preparação. O Paraguai demonstrou ser uma boa equipa e o jogo foi (nem sempre bem) disputado com grande intensidade. O forte dispositvo defensivo montado por Tata Martino resultou quase na perfeição e só perto do final é que De Rossi salvou a honra dos italianos, impedindo a vitória dos guaraníes, após uma falha do guarda-redes Justo Villar. Se antes do Mundial, muitos destacavam o ataque paraguaio como um dos melhores, deve também ser dada uma palavra elogiosa ao seu meio-campo, sempre disponível para "vestir o fato-de-macaco" e dar luta ao adversário. No empate a uma bola (Alzaraz, De Rossi), surge mais uma má notícia para a Squadra Azzurra, pois Buffon corre o risco de falhar o que resta deste Mundial. Apesar do empate, nunca se sabe o que esperar da formação italiana.
A Eslováquia esperava vencer com relativa facilidade a Nova Zelândia na sua estreia em Mundiais, mas encontrou pela frente uma equipa bem organizada a meio-campo, que foi procurando surpreender, especialmente através de bolas bombeadas para a área. Vittek e Weiss (filho do Seleccionador eslovaco) foram sempre os elementos mais perigosos em campo e Hamsik ficou um pouco aquém das expectativas. O defesa-central Durica também esteve bem, sendo sempre ele a iniciar o processo de construção de jogo eslovaco. A equipa da Oceania aproveitou os sucessivos falhanços dos eslovacos para, no último minuto dos descontos, empatar por intermédio do defesa central Reid. O 1-1 (Vittek, Reid) final causa alguma surpresa e coloca a Eslováquia numa posição desconfortável, ficando muito dependente do jogo com o Paraguai.


Grupo G (Portugal, Costa do Marfim, Brasil, Coreia do Norte)


Já se sabia que os "Navegadores" iriam encontrar muitas dificuldades perante uma Costa do Marfim cheia de boas individualidades. Durante toda a partida Portugal usou e abusou do passe directo a partir de um bloco baixo, nunca sendo capaz de controlar a posse de bola e os ritmos do jogo. Deco passou ao lado do jogo e quando isso acontece, pela importância da sua posição, a qualidade exibicional do colectivo português cai a pique. Liedson não pode jogar como único ponta-de-lança e Danny esteve muito abaixo do esperado. Cristiano Ronaldo ameaçou mas não explodiu. Ou CR7 e Danny (ou Simão) jogam mais próximos do avançado brasileiro ou então Liedson terá que dar lugar a Hugo Almeida. Os melhores acabaram por ser Fábio Coentrão e Raúl Meireles, ambos no capítulo defensivo. Também preocupante é a total falta de coordenação fora de campo, com diversos exemplos de jogadores a proferirem declarações infelizes, como são (mau) exemplo Nani e Deco. A Costa do Marfim surpreendeu pela forma como se soube organizar defensivamente, algo que ainda não havia demonstrado, nomeadamente na CAN 2010. Mérito para Eriksson. Gervinho foi o melhor elemento dos "elefantes", mas Zokorá e Yaya Touré também estiveram muito bem na contenção do meio-campo português. O nulo no fim do jogo é o resultado mais justo e, ao contrário do que possa parecer, o empate não é necessariamente um mau resultado, pois na segunda jornada Portugal terá provavelmente a oportunidade de colocar maior pressão sobre os africanos que defrontam o Brasil.
O Brasil também ficou aquém das expectativas, com uma primeira parte marcada pela lentidão de processos e pela desinspiração de alguns dos mais importantes elementos da "canarinha". A Coreia do Norte, como se esperava, foi sempre uma equipa muito combativa na defesa, procurando adiar ou evitar o golo brasileiro. Jong Tae-Se, a "vedeta" do futebol norte-coreano foi deixado sozinho na frente de ataque, sendo impotente perante Lúcio e Juan. Só na segunda parte, após o bonito golo de Maicon, num movimento de má memória para a nossa Selecção, é que o Brasil se conseguiu soltar, sobrassaíndo nesta fase Elano e Robinho. Michel Bastos não jogou especialmente bem, mas o seu remate é sempre um perigo para as balizas contrárias. Até ao segundo golo, o Brasil conseguiu mesmo mostrar alguns movimentos de qualidade, mas acabou por ser uma exibição pálida e pouco convincente. Kaká parece estar longe da sua melhor forma e Luís Fabiano continua longe dos golos. O 2-1 final (Maicon, Elano, Ji Yun Nam) imprime justiça no resultado e o golo norte-coreano premeia o esforço dos seus jogadores. Apesar da vitória, o Brasil não foi suficientemente forte para se dizer com certezas que será o primeiro classificado do grupo.

Grupo H (Chile, Honduras, Espanha, Suiça)

O Chile de Marcelo Bielsa fez uma exibição agradável e consistente, confirmando a boa impressão deixada na Qualificação na zona CONMEBOL. Os chilenos foram sempre a melhor equipa e as Honduras, sem a sua maior estrela - David Suazo, foram sempre uma presa fácil nas raras vezes que procuraram atacar. Incrível também a forma como o Chile foi capaz de, ao longo do jogo, alternar entre o 4-3-3 e o 3-4-3 (táctica de eleição de Bielsa) sem perda de qualidade. Reflecte trabalho. Assim, o 1-0 (golo de Beausejour) final foi conseguido com alguma naturalidade, ficando ainda alguns golos por marcar. O Chile tem um conjunto de jogadores muito interessantes (muitos deles Campeões do Mundo sub-20). Alexis Sanchez é um desequilibrador nato e foi um dos melhores em campo, apesar de por vezes ser demasiado individualista. Não faltará muito para se transferir para um grande europeu. Matias Fernandez foi provavelmente o melhor jogador em campo, jogando com uma liberdade que não tem no Sporting CP. Ao seu lado, também em grande plano, esteve Valdivia. Isla e Vidal, apesar de hoje com pouco trabalho, também são craques. Do lado hondurenho, o veterano Guevara foi um dos mais trabalhadores e o guarda-redes Valladares evitou males maiores.
No último jogo desta 1ª jornada esperava-se uma vitória, mais ou menos fácil, da super-favorita Espanha. Porém, do outro lado esteve uma equipa suiça muito determinada e sem medo dos Campeões Europeus. Como era esperado, a Espanha assumiu as despesas do jogo, mantendo sempre a bola sob o seu controlo. Contudo, das poucas vezes que conseguiu chegar à área contrária, faltou alguma frieza e objectividade aos atacantes espanhóis. A Suiça acabou por surpreender num lance de contra-ataque muito confuso, conduzido por Derdiyok, o mais perigoso dos helvéticos, e finalizado pelo cabo-verdiano Gelson Fernandes. A chave da vitória suiça esteve na forma como Hitzfeld, uma verdadeira "Velha Raposa" do futebol europeu, organizou o seu meio-campo. Inler, Gelson, Huggel e Barnetta impediram que a bola chegasse nas melhores condições à linha mais avançada espanhola e "secaram" Xavi e David Silva, ambos num nível exibicional muito abaixo do esperado. Assim sendo, as grandes ocasiões de perigo para a Espanha foram criadas através de remates de fora da área. Busquets também não deu apoio suficiente aos centrais na transição defensiva e Torres fez muita falta durante a primeira parte ao lado de Villa. Do lado suiço, Reto Ziegler também teve especialmente bem. Do lado espanhol, Iniesta foi claramente o melhor jogador, com uma classe acessível a poucos. Não sabe jogar mal e raramente falha um passe (e faz muitos de difícil execução). A Suiça fica assim numa posição priveligiada para lutar pelo primeiro lugar do grupo, caso não perca com o Chile. Embora longe de eliminada, a Espanha fica com a tarefa mais dificultada e pode encontrar o Brasil nos oitavos-de-final (a confirmar-se o primeiro lugar brasileiro e segundo espanhol), o que para muitos será como uma final antecipada.

4 Passes de rotura:

Tomás Pipa 18 de junho de 2010 às 20:36  

Os Camarões foi provavelmente a pior selecção que jogou neste Mundial, e o Japão a segunda! Foi o verdadeiro jogo da tanga! Os Camarões assim não ganham a ninguém! Esse Honda é mesmo muito bom por sinal!

Parece que vai ser a sorte grande a CQ. Vai ganhar 1-0 à Coreia do Norte, empatar 0-0 com o Brasil num jogo combinado e depois nos 1/8 vai apanhar a Suiça e não a Espanha como estava previsto.

A Suiça foi meia-surpresa. Já estava à espera que se apresentassem bastante fortes, só não estava à espera é que ganhassem mesmo à Espanha.

Em relação ao Chile, não sei se dá para ver se são fortes contra as Honduras. Tenho que ver mais jogos!

Pedro Veloso 19 de junho de 2010 às 01:39  

Grande análise João

Tomás discordo completamente sobre a Alemanha! Hoje gostei imenso deles, com 10 só não ganharam porque se fartaram de falhar, inclusive um penalty. Durante largos períodos não se notava nada que tinham menos um jogador e não estavam a jogar contra uma má selecção. Depois sim nos últimos 20anos a Sérvia podia ter aumentado o resultado.

João S. Barreto 19 de junho de 2010 às 02:56  

concordo com o Veloso, a Alemanha jogou bem, contra uma equipa dificil, a "verdadeira" Sérvia que eu considerava como potencial surpresa do Mundial mas que desiludiu muito com o Gana. Vamos ver o que faz na ultima jornada. Hoje também vimos o "outro" Podolski.

Pedro Veloso 19 de junho de 2010 às 21:55  

Queria dizer nos últimos 20 minutos obviamente. João na Sérvia ontem finalmente Krasic a aparecer, bem que lá podíamos (o SLB) ter ido antes da Juve lol