Os 24 de Queiroz

Numa cerimónia que teve tanto de sui generis como de inovador, Carlos Queiroz – bem ao seu jeito, diga-se – apresentou ontem o lote de 24 jogadores de onde sairão os 23 escolhidos para representar Portugal na África do Sul.

Parafraseando um colega meu aqui do Settore, devo dizer que apenas “quem não está habituado estranha”. É verdade, apenas quem não está habituado às convocatórias dos nossos seleccionadores (de nacionalidade portuguesa) é que ainda pode ficar surpreendido por estas contarem com pelo menos uma ou outra surpresa.

Antes de começar a analisar as escolhas do professor, queria deixar bem claro que, apesar de estranhar algumas das suas opções, a partir de hoje estes jogadores são também as minhas escolhas.
Mais do que não concordar com algumas das escolhas que foram feitas, fiquei surpreendido por Queiroz deixar de fora da sua lista jogadores dos quais eu nunca pensei que ele abdicasse.

Começando pela baliza, o titular indiscutível Eduardo foi chamado sem qualquer tipo de surpresa. Mas a falta de surpresas acaba aqui, pois as outras duas escolhas recaíram sobre jogadores que já quase ninguém considerava possível a sua chamada. Beto e Daniel Fernandes acabaram por ser os contemplados com esta prestigiante chamada.
Devo dizer que, embora me tenham surpreendido na altura, estas escolhas não me chocam.
Beto sempre que foi chamado a intervir no seu clube esteve à altura e já tinha sido chamado pelo seleccionador várias vezes. A sua qualidade é indiscutível e não considero que fizesse pior que Quim ou Hilário (as duas outras hipóteses para primeira opção a Eduardo) se fosse ele o guarda-redes do Benfica ou o suplente (pouco utilizado) do Chelsea este ano.
Já Daniel Fernandes é uma escolha um pouco mais duvidosa para mim. Não acompanhei a sua época na Grécia ao serviço do Iraklis, pelo que remeto para os observadores ao serviço da Federação a responsabilidade desta chamada. Na minha opinião, a escolha mais óbvia para 3º guarda-redes (o tal "jovem" que apenas vai para começar a ganhar experiência nestas andanças) seria Rui Patrício, mas Queiroz já tinha mostrado que Daniel Fernandes estava nas suas contas pelo que não era impossível esta convocatória. Pensando friamente, considero que não é de todo uma estupidez que o seleccionador português tente apostar num guardião de 1,94m (altura ideal para um guarda-redes, coisa escassa em Portugal) que ainda tem 26 anos e uma boa margem de progressão certamente.No lado direito da defesa as surpresas não existiram. Com a lesão de Bosingwa, Miguel e Paulo Ferreira já estavam com os dois pés na África do Sul, pelo que a sua aparição no filme da convocatória não foi mais que uma mera formalidade.
Do lado esquerdo Queiroz mostrou que continua a contar com Duda para fazer o lugar e chamou também a revelação da Liga Sagres 2009/2010 Fábio Coentrão. São também as escolhas óbvias para esta posição, uma vez que, não havendo laterais esquerdos de raiz à altura da responsabilidade, a opção recaiu sobre duas adaptações bastante credíveis.

No eixo da defesa houve também uma grande surpresa. Ricardo Costa nem devia estar a ver a convocatória em directo e deve ter sido com grande surpresa que recebeu a notícia da sua chamada. Embora não tenha acompanhado a época do central do Lille (2º classificado em França), penso que a sua chamada em detrimento de Daniel Carriço se deveu à sua maior experiência e polivalência na defesa (faz aceitavelmente todas a 3 posições na defesa).
As outras 3 escolhas foram as óbvias (tendo em conta que Pepe foi escolhido para trinco). Ricardo Carvalho, Bruno Alves e Rolando também estavam praticamente certos mesmo antes de sair a convocatória.

Para a posição de trinco os escolhidos foram Pedro Mendes e Pepe. José Castro penso que apenas foi chamado “à condição” para o caso do defesa/trinco do Real Madrid não recuperar.
As restantes vagas no miolo foram preenchidas por Tiago, Miguel Veloso, Raúl Meireles e Deco.

Quanto a mim é surpreendente a não chamada de João Moutinho, uma vez que Queiroz sempre deu a ideia de ele ser um dos intocáveis nas suas convocatórias. Apesar de tudo, a qualidade de todos os outros médios não se discute e, tendo sido Pepe chamado como trinco, um médio mais ofensivo teria que sair das contas e qualquer um que ficasse de fora seria uma surpresa.
No ataque os escolhidos não surpreenderam. Apesar de na minha opinião se justificar a chamada de mais um jogador de características ofensivas, aqui o problema reside no facto de não haver nenhuma outra escolha óbvia e da mesma qualidade.
Todas as selecções candidatas têm uma vasta panóplia de jogadores de ataque e Portugal apenas leva 6 jogadores de pendor exclusivamente ofensivo. Esperemos que estas 6 escolhas (todos jogadores em boa forma) cobrem à qualidade o que devem à quantidade.
Cristiano Ronaldo e Nani fizeram ambos épocas de nível mundial; Liedson é um “perigo público” quando bem servido (e quando não é também!); Simão e Danny são jogadores experientes e habituados a jogos ao mais alto nível que podem, inclusivé, jogar na posição 10 caso Deco esteja indisponível; e, por fim, Hugo Almeida é dono de um portentoso pé esquerdo, tem bastante presença na área e, quando bem servido, pode também ser um avançado bastante perigoso.

Uma convocatória bastante diferente do que aquela que os portugueses esperavam - como se pode constatar pelo resultado da sondagem "Os 23 do Settore" - mas que não deixa de fora nenhum jogador em grande forma e mostra que Queiroz esteve atento às prestações de todos os jogadores portugueses susceptíveis de ser convocados.

Resta agora agradecer a não convocatória de Edinho, apoiar incondicionalemnte e, acima de tudo, acreditar que tendo o melhor jogador do Mundo no plantel tudo é possível.
Uma vitória no primeiro jogo do grupo é essencial e penso que se conseguirmos começar bem e formos bafejados por alguma sorte podemos chegar bastante longe.