CAN'2010 Angola

Nota: Para além de dizer que condeno o atentado e lamento a desistência (mais que justificada) da selecção do Togo, não farei mais referências ao sucedido apenas por se tratar dum tema extra-futebol.



Peço desculpa pelo atraso no lançamento do post de antevisão desta emocionante e imprevisível competição de selecções que, de edição para edição, parece ganhar cada vez mais motivos de interesse.

É realmente notável e enriquecedor para o Desporto Rei ter jogos em que a indefinição do resultado perdura até aos momentos finais, em que táctica não é o mais importante e em que a falta de cultura futebolística de alguns jogadores se vê completamente afastada para segundo plano pela vontade e crer dos executantes, sustentados, quase na totalidade, pela sua potência física.


Na Europa, há cada vez mais a cultura de ir buscar o jogador africano em “bruto” e “lapidá-lo” de forma a potenciar todas as suas características inatas.

Quem muito contribuiu para que essa tendência seja hoje em dia uma realidade foram, a meu ver, José Mourinho e Arsène Wenger. Souberam arriscar e puseram em prática as prováveis ideias de quem já ia ao continente africano buscar jovens com um potencial fabuloso que apenas necessitavam de ser educados, tacticamente falando.

No Chelsea e no Arsenal, respectivamente, construíram equipas de topo em que muitos dos jogadores mais importantes eram africanos. Falo de jogadores na “calha” (ou mesmo dentro) do top ten mundial, como Didier Drogba, Michael Essien, Emmanuel Adebayor, Kolo Touré, entre muitos outros.

Acredito que, dentro de alguns anos, já não será possível ir buscar um jogador africano sem posição ou sem cultura. A evolução está a chegar ao futebol africano.


No que diz respeito à competição em si, temos 4 grupos bastante competitivos e, como os três dias de competição já se encarregaram de mostrar, mais equilibrados que o esperado.

Destaco, à partida, o Grupo B. Embora apenas conte com três equipas, põe frente-a-frente a Costa do Marfim, o Gana e o Burkina Faso (que já roubou dois preciosos pontos aos elefantes de Drogba e companhia). As duas primeiras selecções são, para mim, as duas melhores selecções africanas da actualidade.

Os jogos deste grupo, para além de irem pôr à prova a competência (ou falta dela) do jovem treinador português Paulo Duarte, vão opor jogadores como Touré Yaya, Zokora, Kalou, Eboué, Dindane, Muntari, Mensah, Addo, entre muitos outros, e fora os craques acima mencionados no parágrafo de introdução.



Em relação ao grupo (A) da selecção anfitriã, o equilíbrio já está a ser provado dentro de campo pela Argélia, pelo Mali, pelo Malawi e pelos Palancas Negras, orientados pelo mediático Manuel José. Neste grupo, a vinda de jogadores de topo a Angola deve-se, maioritariamente, ao Mali. Mahamadou Diarra, Seydou Keita, Frédéric Kanouté, Mohamed Sissoko são os mais sonantes jogadores deste grupo e estão todos concentrados numa só selecção.

Ainda assim, o jogo de abertura mostrou que passar este grupo não será uma questão fácil para o Mali. Muito longe disso aliás! O contraste entre a qualidade dos nomes mencionados (mais alguns outros) e o fraco valor dos restantes jogadores que também jogam com a mesma camisola é enorme, e isso tira muita qualidade ao futebol praticado por este emblema.

Quem quase surpreendeu foi precisamente a Angola de Carlos, Stélvio, Manucho e Mantorras. Praticamente sem se aperceber, apanhou-se a ganhar 4-0 a 15 minutos do fim e não conseguiu ganhar o jogo! Só mesmo na CAN, incrível... É preciso ver para crer.

Quanto ao Malawi, surpreendeu a Argélia de Ziani por uns concludentes três golos sem resposta e lidera agora o grupo.


Passando ao Grupo C, encontramos a Nigéria, o Egipto, o Benin e Moçambique. Com algum favoritismo a ter que ser dado, ainda que teoricamente, ao Egipto de Zidan e à Nigéria de Mikel, Kanu, Taiwo, Obasi, Uche, etc. (que hoje se defrontaram, com a vitória por 3-1 a sorrir aos egípcios), Moçambique conta com um ex-leão e um “recém-leão” – Paíto e Mexer -, e isso pode dar um certo interesse aos seus jogos (pelo menos para os adeptos portugueses).

O Benin, que está recheado de jogadores do campeonato gaulês, tem como cabeça de cartaz o talentoso médio do Paris SG, que, para os mais distraídos, actuará com a camisola 19 ao longo desta competição, Stephane Sessegnon. Já o vi jogar algumas vezes e a sua criatividade e qualidade têm tudo para dar cartas nesta CAN.



Finalmente, o Grupo D. Começará a competir amanha e oporá os Camarões (de Eto’o, Alex Song e Bynia) ao Gabão (dos irmãos (?) Aubameyang e Daniel Cousin) e a Tunísia à Zâmbia.

Prevejo um “passeio” da formação orientada por Paul Le Guen e um equilíbrio entre as outras três selecções pela conquista do segundo lugar (com menos possibilidades para a equipa zambiana, do “bracarense” Kalaba). Contudo, não ponho de parte, e espero, que, mais uma vez, esta competição mostre porque é aquela em que as previsões menos estão de acordo com a realidade.



Concluindo, espero (e estou certo que serei correspondido) mais jogos ao nível do primeiro, que continue tudo a correr como tem corrido nestes primeiros três dias de competição e que Angola consiga limpar (tanto como possível) a imagem à qual, infeliz mas justificadamente, ficará ligada sempre que se falar nesta CAN’2010 – o atentado.

29 Passes de rotura:

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 00:30  

Manel excelente post em todos os aspectos.

"É realmente notável e enriquecedor para o Desporto Rei ter jogos em que a indefinição do resultado perdura até aos momentos finais, em que táctica não é o mais importante e em que a falta de cultura futebolística de alguns jogadores se vê completamente afastada para segundo plano pela vontade e crer dos executantes, sustentados, quase na totalidade, pela sua potência física."

Isto é verdade, faz bem de vez em quando ver um jogo quase "de rua", em que os jogadores se divertem e espalham a magia africana. Por outro lado, às vezes tenho vergonha de tão impreparados que alguns jogadores e equipas são, táctica creio mesmo que é palavra desconhecida para muitos. Por isso, com todo o respeito acho que o dizes aqui

"Acredito que, dentro de alguns anos, já não será possível ir buscar um jogador africano sem posição ou sem cultura. A evolução está a chegar ao futebol africano."

é completamente utópico. Vai demorar décadas, pelo menos.

Carlos, que ridiculamente andou a mandar postas de pescada sobre o Hilário poder ir à selecção nacional portuguesa, esteve ao nível que uma vez levou o presidente do Steaua a querer pagar para se ver livre dele.

Paulo Duarte não sei se repararam que ultimamente conseguiu transformar o seu despedimento do Le Mans num "optou por se dedicar ao Burkina Faso" na CS portuguesa. Por artes mágicas, certamente.

Ao Manuel José apetece-me perguntar se eram só os jogadores do Benfica que se iam borrar com o Porto? Perdeu uma boa oportunidade para não dizer disparates.

Sempre que vejo o nome do Dindane tremo, lembro-me sempre de o ver dizimar o Benfica pelo Anderlecht...

Sessegnon é aquele que marcou de calcanhar ao Porto há uns anos não é?

Uma coisa que gosto de ver na CAN é as diferenças de estilo, desde o Magrebe quase "branco", por exemplo com uma Tunísia muito europeizada, à África profunda, onde vemos a verdadeira força da Natureza e os melhores atletas do mundo.

Manú 13 de janeiro de 2010 às 00:41  

veloso, tive o cuidado de escrever "alguns anos" para dar aso a varias interpretaçoes lol

o golo que estas a falar ao porto foi do coridon

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 00:44  

Ah pois é, mas rima;)

João S. Barreto 13 de janeiro de 2010 às 01:12  

Tens razao veloso, o egipto não tendo tantas estrelas fez-se valer de uma otima organizaçao e foi superior logo a partir dos 12 mintuos (golo da nigeria). Para mim a grande surpresa foi o Malawi, penso que os jogadores que mais tocaram na bola foram os seus centrais a tricar a bola de um para o otro e depois sempre que la iam a frente maracavam. so nos ultimos 10 min a argelia conseguyiu criar perigo. grande desilusao desta equipa que vai estar na africa do sul

Alfredo Barbosa 13 de janeiro de 2010 às 01:14  

Não foi o Adebayor que falou a um órgão de comunicação televisivo sobre os ataques... com uma t-shirt do Arsenal?

Manú 13 de janeiro de 2010 às 01:50  

alfredo nao sei se vimos as mesmas imagens, mas as que vi ele estava com a t-shirt de fato-de-treino do togo que é encarnada. nao tera sido essa que viste?

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 02:20  

lol se isso é verdade o Mancini não perdoa, especialmente agora que o Tevez anda a marcar como se não houvesse amanhã.

Manú 13 de janeiro de 2010 às 02:24  

veloso agora é q li isso do carlos. lol lembro-me dele a dizer que era preciso padrinhos para ir a selecçao portuguesa e n sei q. dps enterra da maneira q enterra na primeira vez q é posto a prova numa competiçao de selecçoes aserio.
mais uma prova que queiroz nao é parvo nenhum e nao cedo a qualquer pressao.

pela boca morre o peixe. (ou "pelo peixe morre a boca", segundo luis filipe vieira)

Duarte 13 de janeiro de 2010 às 03:11  

Nenhuma equipa do mundo pode estar a vencer por 4 e acabar o jogo empatada. Claro que, do ponto de vista futebolístico, é fantástico, mas isso é inacreditável e incomcebível do ponto de vista do conjunto que sofre os golos em 13 minutos.

Eu, à semelhança do Pedro pelos vistos, também não suporto o Manuel José (e pensar que há gente a criticar ferozmente o Pinto da Costa por ele não gostar da ideia de o ver como seleccionador nacional). A ver vamos que faz ele nos dois próximos jogos. Não acho que tenha feito nada de tão relevante para ter a notoriedade que ele não tem, mas quer ter e se acha no pleno direito de possuir.

Uma vez Manuel José, mais uma vez, disse que não seria nunca treinador do FCP enquanto o actual presidente lá estivesse. A vida dá muitas voltas, porém espero que ele não seja treinador no meu clube, não apenas enquanto Pinto da Costa lá estiver. Espero que ele nunca chegue a ser técnico do Porto.

LMC 13 de janeiro de 2010 às 03:47  

Eu até não desgosto do Manuel José,não podemos esquecer que é dos treinadores Portugueses que ganha mais títulos,está habituado a ganhar.E não me digam que é por lá ser fácil,porque ganhar como ele ganha não é fácil nunca.
Não tinha desgostado de o ver no Sporting,secalhar até preferia ele ao Carvalhal.
Estar a ganhar 4-0 e em tão pouco tempo empatar o jogo,é como o Duarte diz inconcebível para qualquer equipa.Obviamente é um péssimo cartão de visita!

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 10:10  

Pois, quanto ao Manuel José realmente não tenho simpatia pela figura (também era o treinados dos 7-1 o que só agrava a situação lol), é daqueles que, como diz o Duarte, tem sempre a mania da perseguição e mete sempre a culpa nos outros. Mas reconheço-lhe competência e não me admirava se tivesse sucesso num grande clube (no Sporting não teve mas isso foi há mais de 20 anos).

Alfredo Barbosa 13 de janeiro de 2010 às 12:42  

Cá está: http://www.youtube.com/watch?v=uGfU5nnvdnc&feature=related

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 12:51  

LOL incrível. Vou tentar não ser indelicado, mas há gajos que não têm noção de nada! Imaginem em Portugal por exemplo o Rodriguez agora aparecer em Montevideu um dia a dar uma entrevista com a camisola do SLB.

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 12:52  

em Portugal não, no Uruguai*

LMC 13 de janeiro de 2010 às 14:10  

Pá,o homem é poupadinho...Deixa lá...

LMC 13 de janeiro de 2010 às 14:26  

Esta CAN realmente é um espetáculo.
Depois do Adebayor ter dado uma entrevista com uma camisola do Ex Clube ( do qual até saiu em litígio),depois do Gilberto ter tentando dar um beijinho ao árbitro,vejam me por favor este artista http://www.youtube.com/watch?v=yV2rvhJe13I&feature=player_embedded

A brincadeira desta vez ia correndo mal!O Higuita quando tentou (e conseguiu) foi mais prudente,pois o jogo já estava interrompido!

Tomás Pipa 13 de janeiro de 2010 às 14:55  

Vi Moçambique e de facto é para rir.

Paíto de rastas,Fumo loiro,guarda-redes gordo e franco,Mexer uma nódoa.

Sorte deles é que o g.redes do Benim é outra andorinha!

Tomás Pipa 13 de janeiro de 2010 às 14:56  

Gostava só parabenizar o Manú pela última foto!Genial!

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 14:59  

Haha o que eu me ri com este guarda-redes. E pa luis é como dizes, um espectáculo!

Fumo outro que pra aí o unico golo na 1a liga foi ao SLB!

João 13 de janeiro de 2010 às 16:16  

LOL ainda era do Sporting em 99/00, foi um golo sentimental;)

LMC 13 de janeiro de 2010 às 16:33  

Ele estreou-se frente ao SLB num jogo para a taça,onde o Acosta fez um hat trick (há um golo que é entre ele,andré cruz e enke?)
Mas não marcou

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 16:40  

Isso não me lembro Luis. Estava a falar é do golo que o Fumo marcou pelo Varzim na Póvoa na 1a jornada de 01/02, o jogo do "deixem jogar o jogador Pedro Mantorras", como dizia o Malheiro

Tomás Pipa 13 de janeiro de 2010 às 16:47  

Só para lembrar que o gajo que se fartou de dar porrada ao Mantorras era Alexandre,capitão poveiro,que joga de lábios pintados de preto e umas olheiras valentes!

Alexandre que ainda hj está no Varzim e que diz que não saiu para um grande por amor ao Varzim.Está-se mesmo a ver.

Pedro Veloso 13 de janeiro de 2010 às 16:53  

Tenho pesadelos com esse gajo. E com o Isidoro Rodrigues, que arbitrou esse jogo. E com o Cabral que marcou auto-golo nos descontos. Era o 1º jogo da "equipa-maravilha", se bem se recordam, maravilha do meio-campo para a frente, porque defesa a quatro era Cabral, Argel, Júlio César e Pesaresi...

Manú 13 de janeiro de 2010 às 17:07  

http://www.miragens.abola.pt/videosdetalhe.aspx?id=7791

quem nao viu veja isto, vale a pena!
secalhar podia vir para o sporting atrelado ao mexer.

LMC 13 de janeiro de 2010 às 18:45  

O Júlio Cesár não era mau...
Nessa jornada o Sporting varreu o Porto em Alvalade,com um grande golo de Marius Niculae.Outro que tinha ido muito longe a meu ver,não fosse a lesão.No jogo de estreia de Ricardo Quaresma na 1Liga.Entrou aos 10 minutos para o lugar do Sá Pinto.

João S. Barreto 13 de janeiro de 2010 às 20:13  

foi também o jogo em que Mantorras disse a Alexandre "Bate que é de borracha!". parece que a borracha nao era de boa qualidade...

Duarte 14 de janeiro de 2010 às 03:22  

Independentemente dos bons espectáculos, esta CAN já está manchada pelos inconcebíveis ataques dos rebeldes angolanos. A desistência do Togo é mais do que compreensível. Só não percebi porque é que fizeram aquela viagem de autocarro e não de avião.

Lembro-me de uma Copa América disputada, salvo erro em 2002, na Colômbia. Uma competição cuja realização esteve ameaçada e em que Argentina e Canadá optaram por não marcar presença e o Brasil levou a "equipa C", sendo eliminado pelas Honduras. Tudo por também aí a segurança esteve posta em causa, devido aos ataques e raptos das FARC.

Por curiosidade, nessa edição da Copa América, foram os anfitriões a ganhar, levando a melhor na final sobre o México com um golo de cabeça de Iván Córdoba.

Tomás Pipa 17 de janeiro de 2010 às 13:20  

Duarte,e agora vi que o selecção do Togo foi de autocarro do Togo até Cabinda, mais ou menos a mesma distância que separar Lisboa a Helsinquia.

Estes gajos...