Que Sporting?

Disseram-me há uns tempos que o jornalista João Gobern tinha dito na RTPN que o FC Porto tinha 55% de hipóteses de se sagrar campeão, o Benfica 45% e o Sporting 0%. Por norma não sou tão definitivo nem peremptório nas minhas análises, ainda para mais nesta altura do ano. Isto não faz, no entanto, com que seja impossível ter uma visão estritamente pessoal daquilo que tem acontecido até aqui com os três grandes clubes nacionais.

No que ao Sporting diz respeito, é sobre este clube que recai o meu post, não vejo grandes melhorias relativamente ao que tem sido feito desde que Paulo Bento tomou as rédeas do clube de Alvalade. Sou sincero, não tenho a menor simpatia pelo actual treinador leonino. Não gosto do estilo, da forma de comunicar, da maneira como dirige o plantel dentro e fora de campo. Reconheço-lhe o mérito de ter erguido, em 2005, um grupo de jogadores que estava de rastos, depois de uma época em que estiveram à beira de ganhar tudo e, no fim de contas, nem um título, para as vitrinas do eclético museu dos leões, conseguiram. Só que, ao fim de quatro épocas de trabalho, é exigível pela própria massa adepta que Bento, mais do que tentar, consiga o título. O plantel não sofreu grandes mudanças. Se é certo que as principais figuras se mantiveram, também é um facto que não houve entradas de relevo se exceptuarmos os nomes de Matias Fernandez e Caicedo.

A própria imprensa já não embarca nos elogios desmesurados que fez sempre nesta época ao treinador sportinguista. Noutros tempos, não muito longínquos, estar-se-ia nesta altura a elogiar o sistema de jogo dos leões. "Tacticamente perfeito", "coeso" e por aí fora. Enfim, uma relação profundamente platónica que parecia capaz de resistir a qualquer Bayern de Munique, perdão, quis dizer infidelidade. Agora a exigência é outra, o que só favorece o próprio clube e o campeonato, só não sei até que ponto será benéfico para a actual estrutura do futebol do Sporting.

Por outro lado, deu-se uma mudança de peso ao nível presidencial. Saiu Soares Franco entrou Bettencourt. Dois homens teoricamente da mesma linhagem, mas com modos de estar opostos. Soares Franco era um genttleman, uma pessoa que percebeu bem o futebol português e que não caiu em discursos desfazados da realidade. Bettencourt é mais jovem, dinâmico e dele se espera que devolva a paixão aos sportinguistas que, cada vez mais, se afastam do estádio. O seu grande mal é, a meu ver, ser demasiado populista e impulsivo. Com ele, não duvido que Paulo Bento estará mais permeável, mas também não sei até que ponto isso será negativo.

O primeiro jogo oficial, com o Twente, só dá mais força àqueles que desconfiam das capacidades do Sporting poder este ano discutir o título taco a taco com o Porto e provavelmente também com o Benfica. Em 90 minutos, o onze leonino não conseguiu sequer fazer um golo a uma equipa que, não sendo desconhecida, está longe de poder ser considerada sequer da "classe média" do futebol europeu. Na Holanda, os leões terão de jogar o tudo por tudo para conseguir seguir em frente na qualificação para uma prova que tão importante é para os clubes em termos desportivos e orçamentais.

Mesmo sem querer avançar com conjecturas permaturas, não considero que haja muitas razões para sorrir em Alvalade. Se as piores previsões se confirmarem, adivinha-se uma temporada muito dura para a nova direcção. Mas tudo isto não passam de suposições, ainda que, no caso do Sporting, faça mais sentido do que na maioria dos outros clubes, pois, para aqueles lados, a época já arrancou oficialmente e de forma pouco auspiciosa.

11 Passes de rotura:

Pedro Veloso 1 de agosto de 2009 às 15:30  

Boas Duarte. Bom post e a tocar em várias feridas. Em primeiro lugar, devo dizer que até tenho simpatia pelo Paulo Bento, desde os tempos em que jogava na Luz. E essa simpatia até tem sido reforçada desde que treina o SCP: sendo benfiquista, tem defendido o seu clube de uma forma muito profissional e aguerrida, muitas vezes sozinho. E acho que começou por ser competente tendo em conta as limitações de plantel que tem. Agora, se até à época 06/07, em que quase ganharam o campeonato, o trabalho era meritório, nos últimos dois anos a mediocridade acentuou-se, na minha opinião. Faltam soluções tácticas, a equipa joga sempre da mesma maneira, depende muito de Liedson; e tudo se agrava se, ao contrário dos primeiros tempos de PB, a defesa deixa de ser sólida e comete infantilidades ridículas. A questão que assalta toda a gente é que PB não parece capaz, mesmo se tivesse melhor plantel, de o fazer render. E algumas das escolhas são escolhas pessoais dele, por isso não é tudo desculpa.

Quanto ao JEB, simpatizava com ele por, sendo alguém com muito bom percurso profissional e estar comodamente sentado no CA do Santander, ter corrido o sonho e tido a paixão de ir para o SCP. Mas está a roçar o ridículo, faz comentários parvos sobre o Benfica e tenta puxar como dizes ao populismo sem ter essa veia (por exemplo, PC e LFV podem ser populistas porque têm jeito para isso, está-lhes no sangue) e rio às gargalhadas quando o vejo a escrever no Twitter, terminando as frases com SCP4ever.

Mas acho um erro descartar o Sporting, é um grande clube e além disso a maioria do grupo adora o PB e vai fazer tudo para salvar o treinador, que começa a ser muito criticado

Anónimo 2 de agosto de 2009 às 19:21  

Duarte, tens razão numas coisas claro, mas estás a menosprezar o P.Bento. P.Bento é o treinador que melhor comunica, que melhor se faz entender etc, é certo que é um sistema tático muito previsível,pouco espetacular etc e isso também me preocupa como sportinguista. Falas é do Sporting como se fosse um clube ridiculo e não é, não ganhou o campeonato da mão do Ronny porque estava comprado, não ganhou o do Trap por causa do lance polémico, não ganhou a taça da liga por causa do Baptista e sempre andou muito perto do FCP em termos nacionais, exceptuando 1 ano que ficamos a 20 pontos.

Até parece que não te lembras que o Tiui bisou no Jamor, e ganhamos duas supertaças a voces, se achas isso um clube para tirar das contas.

JEB é um homem de mt valor, gostava de saber quantos administradores de Bancos largariam tudo atrás do sonho.
Ele pelo menos tenta, vai a todas, treinos, saraus, natação, judo etc..não o vamos acusar de não ter tentado.
Populismo realmente não lhe tá nas veias, mas eu tiro-lhe o chapéu.

Tomás

Duarte 5 de agosto de 2009 às 13:47  

Tomás, eu também não excluí o Sporting da luta pelo título. Disse, e depois do jogo de ontem digo-o ainda com mais convicção, que o teu clube parte bastante atrás do Porto e do Benfica e faço esta afirmação até por uma questão de lógica. O Sporting passou as últimas quatro temporadas no segundo lugar, sempre com Paulo Bento no comando. Esta época, na equipa de futebol, pouco ou nada mudou. Entrou Matias, e Caicedo veio para suprir o lugar deixado por Derlei. Ou seja na teoria manteve-se tudo na mesma e se com aquilo que tem, o Sporting não foi capaz de chegar a primeiro no passado recente, não é pelo menos lógico que o faça este ano, a menos que o rendimento do Porto fique nivelado por baixo.

Não concordo minimamente quando dizes que o Paulo Bento é o treinador que melhor sabe comunicar. Pelo contrário, é daqueles que maiores debilidades apresenta nesse nível. Como referiste o seu sistema de jogo já se esgotou e ele não o muda ou por teimosia ou porque não sabe trabalhar com mais nenhum, cá para mim é um bocado as duas coisas.

Percebo o teu ponto de vista quando falas na mão do Ronny em 2006/2007. Nesse ano o Sporting mordeu os calcanhares ao Porto até ao fim. No entanto eu posso sempre contrariar esse argumento dizendo que se não fosse a escandalosa arbitragem de Elmano Santos no Leiria 1-0 FCP e o facto do Proença ter feito vista grossa a um fora de jogo de David Luiz na jogada que acabaria por levar ao autogolo do Lucho no SLB 1-1 FCP, o Porto seria campeão mais cedo e não precisava de ter estado até à última jornada para o conseguir. E não, eu não me esqueci do bis do Tiuí no Jamor, mas se aos Sportinguistas chega ganhar uma Taça de Portugal por época, e o ano passado nem isso, então acho que têm de rever a importância que dizem ter dentro do futebol português.

Não me interpretes mal, eu não pretendo ridicularizar o Sporting e afastá-lo já da luta pelo primeiro posto. Aliás, reconheço perfeitamente a importância que o clube leonino teve, nomeadamente na pessoa de Filipe Soares Franco, na luta ao lado do FC Porto para que o Benfica não tomasse de assalto a liga como fez nos tempos em que Cunha Leal era rei e senhor. Porque acredita que se não tivesse havido essa união, muitos mais "Estoril-Benficas" teriam existido.

Anónimo 5 de agosto de 2009 às 18:42  

Certo, eu sei que não chega ganhar a taça por ano. Mas só há um campeonato por ano, uma vez que este é entregue ao Porto, cabe aos outros clubes tentar ganhar a taça e ficar em 2º no campeonato, se temos sido muito superiores ao Benfica todos os anos nestes pontos, não sei porque dar mais valor ao Benfica do que ao SCP.

Também vi o jogo ontem, não jogámos nada eu sei, mas futebol é isto, na maioria das vezes é o Sporting a jogar bem e a perder (e o Twente não joga bem, eles defendem bem apenas).
Ganhou a equipa mais experiente, uma equipa com 3 anos de champions e 1/8 final na época passada, foi natural.
O Liverpool o ano passado também se apurou ao cair do pano.


Tomás

Pedro Veloso 5 de agosto de 2009 às 21:34  

Tomás pareces-me muito mais optimista, ainda ontem achavas que tinha sido a maior vaca já vista no futebol, agora já achas que é a consequência da experiência...

Duarte como bom portista gostas muito do Soares Franco, eu também gostava se fosse portista: um gajo que, desculpem a rudeza, baixa as calças e engole sapos do FCP (lembram-se quando o PC lhe chamou bêbado indirectamente e ele depois lá estava sentado à direita do papa no Dragão?) só porque odeia o Benfica e em troca das migalhas (leia-se benefícios da arbitragem para ficar em 2º lugar). E olha que os sportinguistas verdadeiros pensam exactamente o mesmo, não são cegos. Mas de facto o mal do futebol português é o Estoril-Benfica e o tenebroso Cunha Leal, o resto é tudo boas pessoas e campeonatos limpos...e o meu pai é o Pai Natal

Duarte 5 de agosto de 2009 às 22:21  

Pedro, se Soares Franco baixou as calças ao Porto, que dizer de Dias da Cunha com o Benfica? Recordo-me daquele fabuloso manifesto que manietou publicamente o Sporting até ao final daquele campeonato.

Nos tempos de Soares Franco, Porto e Sporting mantiveram sempre boas relações e uma espécie de pacto de não agressão que só beneficiou o futebol português, pena é que Luís Filipe Vieira estivesse mais interessado em garantir a verdade desportiva, particularmente aquela que mais conviesse ao Benfica.

De resto, eu vi várias vezes o Filipe Soares Franco a ver derbys com o SLB ao lado de LFV e a tampa só saltou aos responsáveis sportinguistas depois daquela famigerada final da Taça da Liga.

Duarte 5 de agosto de 2009 às 22:36  

Quanto ao último parágrafo do teu comentário, obviamente que o Cunha Leal não é o único crápula do futebol português e se calhar nem é dos maiores porque não lhe foi dado tempo para isso. Mas aquela época de 2004/2005 ficou manchada por situações no mínimo escabrosas que aconteceram ou por sua iniciativa ou com a sua conivência.

Pedro Veloso 5 de agosto de 2009 às 22:46  

Duarte, não acho que o Dias da Cunha tenha manietado alguma coisa, tanto que o Sporting quase o ganhou.

Eu fui longe demais na expressão "baixar as calças" aplicada ao Soares Franco: peço desculpa por isso, mas de facto acho que foi muito subserviente face ao PC. Não mexeu uma palha para o processo Apito Dourado ter resultados. Fora isso, até o elogio no aspecto de se destacar, pela preparação, elegância e capacidade de gestão, da maioria dos dirigentes do futebol português

Pedro Veloso 5 de agosto de 2009 às 22:55  

Eu não tenho problemas em admitir que o Benfica foi beneficiado em alguns jogos nesse campeonato (o mais escandaloso o mergulho do Karadas em casa com o Estoril), embora discorde totalmente, até pelos antecedentes que existem no futebol português, da tese conspirativa do jogo com o Estoril. Mas olha que foi prejudicado noutros tantos jogos, a começar pelo golo do Petit ao Porto anulado pelo Benquerença e a terminar pelo festival do Proença em Penafiel. No deve e haver, se calhar até fomos beneficiados, mas é normal, porque em ano de Apito Dourado muitos árbitros passaram a ter medo e a tender para o lado benfiquista para disfarçar

Duarte 5 de agosto de 2009 às 23:09  

Totalmente de acordo em relação ao jogo em Penafiel, quanto ao eventual golo do Petit não sou burro, posso usar usar óculos com lentes azuis e brancas, tal como tu usas com lentes vermelhas, é uma questão de preferência:). Por isso, se me mostrares uma imagem com a bola toda dentro da baliza do Vitor Baía, render-me-ei à evidêncoa, até lá mantenho a minha tese: não consigo hoje dizer se o esférico entrou totalmente ou não e se ainda hoje eu, como muitas outras pessoas e não só portistas, não conseguem, não seria o árbitro que naquela fracção de segundos conseguiria.

De resto, não me esqueço de alguns goloso conseguidos miraculosamente nos últimos minutos precedidos de faltas inexistentes como no Benfica 1-1 Leiria, não sei se te recordas. E no Estoril x Benfica não foi apenas escandaloso o sítio em que se realizou, a arbitragem do Hélio Santos foi também ela anedótica.

Pedro Veloso 5 de agosto de 2009 às 23:26  

Lembro-me desse golo do Mantorras ao Leiria, mas não me lembro da falta que o originou, a sério:)