O outro Ronaldo

Ultimamente tem-se falado muito de Ronaldo, o português, e até do velho Ronaldo Nazário de Lima, que prossegue o seu excelente regresso a casa com golos , títulos e muita, muita classe ao serviço do Corinthians, mas há um outro Ronaldo, com direito a diminutivo, que voltou ontem também a ser notícia depois de longos e tristes meses afastado dos holofotes que outrora o cobriam a toda a hora.

Falo de Ronaldinho naturalmente. O craque (ou já não...) brasileiro foi intimado por Silvio Berlusconi, no discurso de início de época que o patrão do Milan e PM italiano fez ao plantel rossonero, a ter um comportamento profissional, ser um exemplo para os colegas, e assumir-se como grande referência da equipa durante a época que agora vai começar, mais a mais quando Kaká partiu e nenhum outro craque chegou ainda: haverá Fabiano, mas esse é para facturar, não para comandar a equipa como fazia o novo 8 do Real Madrid.

Pelas declarações que se lhe ouviram, Ronaldinho terá aceite bem o desafio proposto, prometendo corrigir o comportamento, e demonstrou total confiança numa grande época pessoal e colectiva - e até prometeu que dedicará a época a Berlusconi. A questão é...onde é que já vimos este filme?




Parece que já foi noutra vida, mas a verdade é que Ronaldinho ganhou o titulo de melhor jogador do mundo para a FIFA ainda não há muito tempo, 2004 e 2005, pelo que, ainda abaixo dos 30 anos, deveria estar agora até na plenitude das suas potencialidades e maturidade. A verdade é que, após os títulos espanhol e europeu com o Barça em Maio de 2006, a carreira de Dinho nunca mais foi a mesma. Começou logo pelo incrível flop da canarinha no Mundial da Alemanha, onde o brasileiro desiludiu por completo, envolto em equívocos tácticos de Parreira, incapaz de o conciliar com Kaká – aliás como Ancelotti no Milan, mais tarde. Verdade seja dita que, por outro lado, estava também esgotadíssimo depois de uma superépoca, onde jogou a nível altíssimo, pelo que o falhanço era de certa forma natural. O pior foi o que se seguiu. Duas épocas penosas no Barça, cheias de lesões, problemas disciplinares com Rijkaard, múltiplas ausências a treinos devido a compromissos publicitários (qualquer coisa como 80 treinos perdidos por época por causa disso!!!) e uma progressiva degradação da imagem aos olhos dos adeptos blaugrana, para quem Dinho e Deco minavam o profissionalismo da equipa e para quem Leo Messi se tornava cada vez mais a verdadeira menina dos olhos. O destino estava traçado, mais a mais com a chegada de Guardiola, um exemplo de conduta ao longo da carreira e que por isso não tem paciência para vedetismos.

Ronaldinho partia para Milão, não sem antes se despedir, mesmo tendo saído a mal, numa carta memorável aos adeptos (ver link), sendo depois apresentado perante 40 mil tiffosi eufóricos em San Siro. No papel era uma equipa de sonho, com Pato, Pirlo, Kaká, Seedorf, Ronaldinho, etc, e este último começou por fazer uma primeira volta de muito bom nível, parecendo recuperar a aura perdida, com golos e, sobretudo, a sua inigualável visão de jogo e capacidade de pôr uma equipa a jogar. Tudo se esfumou rapidamente, mais uma vez com lesões, mas eu quero acreditar que o talento incrível de Ronaldinho vai, se ele tiver vontade, levá-lo de volta ao topo.

Cristiano é o melhor rematador e jogador mais completo do mundo, Messi o melhor driblador, mas Ronaldinho é, em talento puro, um extraterrestre. Quem não se recorda do golo dele em Stamford Bridge com Cech colado à relva, da sinfonia com direito a ovação no Santiago Bernabéu ou do passe sublime para o Giuly marcar em San Siro nas meias finais da Champions em 05/06? São momentos maravilhosos que eu quero poder ver outra vez. Mas como o Duarte disse no último post, o pior é se ele está mais apostado em se tornar noutro Adriano...

6 Passes de rotura:

Duarte 15 de julho de 2009 às 02:39  

Totalmente de acordo com tudo o que dizes Pedro.

O Ronaldinho é o único jogador que conheço que consegue jogar futebol de praia na relva, tudo como se estivesse no areal de uma qualquer praia do Rio de Janeiro. Esta é a melhor forma que encontro de definir em palavras, a sua qualidade enquanto jogador.

A questão, quanto a mim, é puramente mental e motivacional. O gaúcho do Milan já ganhou tudo o que de mais relevante há no futebol e, lamentavelmente, parece que não tem vontade de ganhar mais ou repetir aquilo que já conseguiu. Foi essa falta de motivação que fez com que o título de campeão espanhol de 2007 fosse entregue pelo Barcelona de bandeja ao Real Madrid de uma forma ridicula.

Só que agora o Milan precisa dele. Sem Kaká e com Gourcuff dispensado, o Milan fica confinado ao seu talento e vou mais longe, para mim a única forma de o Milan ganhar algo este ano é Ronaldinho fazer uma época fora de série. Caso contrário e mesmo reconhecendo as debilidades nos planteis dos seus rivais, o clube rossonero irá passar outra época para esquecer.

Anónimo 15 de julho de 2009 às 03:07  

Veloso, aos momentos de ouro de Dinho em barcelona deixa-me apenas juntar o golo de bicicleta (triciclo, trotinete, o que quiserem) ao villareal salvo erro.

sem mais,

Paulo.

André Seixas 15 de julho de 2009 às 03:34  

Não há espaço para dúvida: Ronaldinho representa a alegria de jogar futebol. É, simplesmente, genial! Também espero que ele recupere a boa forma e a alegria de jogar. Ainda ligando ao "post" de recordação do Duarte, dava mesmo jeito à Série A que o Ronaldinho voltasse a presentear os fãs de futebol com momentos inesquecíveis.

Pedro Veloso 15 de julho de 2009 às 15:08  

Claro Paulo, foi um grande momento. Porém acho que é mais espectacular que genial, acho sempre que nos pontapés de bicicleta a bola vai um bocado para onde calha, claro que o Fernando Aguiar ou o Ronaldinho a fazê-lo dá resultados diferentes, mas é há menos intencionalidade do que noutro tipo de lances

João 15 de julho de 2009 às 16:51  

Belo post Pedro, continua!Qualquer amante de futebol espera que ele "ressuscite", principalmente agora que será à partida o patrão do meio campo. E a pensar que o Moretto defendeu um penalty nos tempos áureos desse Sr! E bem me lembro do salto que deram..
Quanto há maior ou menor intencionalidade nos pontapés de bicicleta, concordo que há imensos factores aleatórios e incontroláveis fora da esfera da intencionalidade e da técnica do jogador, mas o enquadramento,a força e orientação do remate,etc so está ao alcance de alguns.Lembro-me do Puyol a seguir a esse jogo com o Vilarreal referir que o Ronaldinho fazia por vezes golos semelhantes nos treinos. Quem sabe, sabe!Cumps

Numero Dez 16 de julho de 2009 às 01:07  

Ronaldinho é sem duvida um talento que custa acreditar que se tenha "apagado" assim. Pegando no post sobre o calcio, não sei até que ponto não será mau para ronaldinho se relançar, o campeonato italiano sem o fulgor de outras épocas. A ver vamos, mas sinceramente não acredito que tenhamos o ronaldinho de volta...Oxalá me engane.