O Campeão Voltou


À 3ª jornada, finalmente os primeiros pontos na Liga. Bom jogo do Benfica, com períodos consistentes a lembrar o melhor SLB da época transacta (desde a equipa até ao 12º jogador, de um apoio inesgotável), numa partida quase saída de um guião de Hitchcock.

O país fazia apostas para saber qual a decisão de Jesus, e ele tomou aquela que, a meu ver, era a mais acertada. Convocou Roberto mas simplesmente deu a titularidade a Júlio César, isto é, procurou dar tranquilidade à equipa mas sem queimar o portero espanhol deixando-o fora dos convocados. De resto, assinale-se a entrada de Salvio para o flanco direito, apresentando assim o Benfica um onze extremamente ofensivo. Um onze...e uma mentalidade, porque desde os primeiros minutos a equipa procurou marcar cedo, o que seria fundamental para recuperar confiança. O golo chegaria mesmo aos 4', na sequência de um cruzamento perfeito de Gaitán para cabeçada certeira de Cardozo.


Estava feito o mais difícil, até porque o Benfica continuou a jogar bem, lateralizava o jogo com facilidade e, sobretudo, atacava pelos dois flancos e não só pelo esquerdo como nos primeiros jogos. Mas o incrível aconteceu aos 23', com aquele disparate do Maxi que o Júlio César deveria ter resolvido de primeira: penalty e expulsão, olhava para o lado e a maior parte das pessoas ria-se de nervosismo perante aquela situação, do género "Que mais nos irá acontecer?". No entanto, passado o choque inicial os adeptos apoiaram desde logo o Roberto - e quão contente fiquei por essa reacção de todos -, como tinham feito com o Júlio César. Acho que não havia um benfiquista que naquele momento, com a pressão enorme do estádio nos ombros do ódio de estimação Hugo Leal e o enorme apoio ao Roberto, não tivesse a certeza que ele ia dar um pontapé no destino. Sentia-se, não sei porquê, como às vezes alguém está na cara do golo e se sente que vai falhar. Defendeu mesmo o espanhol; qualquer amante de futebol, benfiquista ou não, terá certamente naquele momento pensado que o futebol é de facto um desporto único e incrível nas emoções que nos cria, um jogo que é sempre imprevisível e onde o céu e o inferno se tocam de maneira irresistível.

Naturalmente, foi um lance decisivo; o golo do empate obrigaria o Benfica a tentar chegar à vitória com dez, o que seria muito complicado. Assim, a equipa pôde baixar mais o bloco, tendo-se adaptado muito bem à inferioridade numérica: nunca permitimos oportunidades ao adversário (Luisão esteve imperial) e atacámos pela certa, sobretudo com esticões de Gaitán/Coentrão e Aimar (até porque do lado direito já não havia Salvio, sacrificado na expulsão). Como salientou o Jesus, a equipa demonstrou muita cultura táctica, embora também seja justo salientar que o Setúbal foi inofensivo demais. E o golo à beira do intervalo matou o jogo, um cabeceamento fulminante de Luisão (já tinha saudades dos golos de bola parada!!).

O segundo tempo foi mais do mesmo, até porque JJ (esteve acertadíssimo, a meu ver, nas substituições) voltou a completar o meio-campo metendo Ruben Amorim por Saviola, o que permitiu à equipa controlar ainda mais a partida. E ainda no primeiro quarto de hora uma magnífica combinação entre os homens da esquerda ofereceu a Aimar o terceiro. O Benfica geriu depois como quis, sobretudo pela acção do mago argentino. Man of the match, não só pela noite de grande inspiração a nível técnico, mas fundamentalmente pela inteligência táctica e pelo muito que correu - aguentou os 90' a um ritmo que raramente consegue.

Destacaria ainda o regresso do muro Javi, imprescindível para o sucesso deste Benfica, e para o Gaitán, de regresso à boa forma depois da lesão. O Nico pode não ser tão explosivo como o Di María - o que, diga-se em abono da verdade, é quase impossível -, mas é daqueles jogadores que qualquer adepto - desde que ele seja produtivo, claro, e não apenas um brinca-na-areia - adora pela classe que empresta ao jogo. Daqueles que até a andar tem pinta de craque, um pouco como o Belluschi, por exemplo (embora Nico ainda tenha a magia extra de ser canhoto). Fartou-se de distribuir túneis sobre adversários, combinou muito bem com o Fábio e mostrou um cruzamento temível como já fizera na Choupana. Além disso, também mostrou ter disponibilidade para defender. Já havia muitos jornalistas a escrever que não justificava o investimento, estou certo que vão ter que engolir (mais) um sapo.


Pela negativa, apenas mais umas faltas desnecessárias do David Luiz, que dão livres aos adversários. Àqueles de que gostamos exige-se sempre tudo, e a um jogador da categoria dele eu não posso aceitar aqueles erros, não pode querer disputar todos os lances como se fosse o último! Calma!

Agora vem a paragem das selecções, e a seguir uma jornada muito importante, com uma deslocação difícil a Guimarães e um Porto-Braga. Só posso desejar a continuação da consolidação da equipa e que os árbitros sejam um pouco mais competentes (estou a ser irónico no adjectivo, claro) do que o demonstrado nesta jornada. Ainda que haja sempre um lado positivo: pelo menos este ano até agora ninguém disse ou escreveu que o Benfica está a ser levado ao colo...

5 Passes de rotura:

Mac 31 de agosto de 2010 às 03:48  

Grande crónica concordo com tudo!

Só espero que tenhamos ganho um guarda-redes naquele lançe!

Ao David Luiz vai fazer bem o fecho do mercado para ver se se concentra só no Benfica! Que ele é um craque já todos sabemos mas alguém tem de lhe dizer que tentar golos dos meio campo e marcar livres não vai dar! Tá com uns tiques de vedeta mas espero que o JJ trate disso!

Tenho muita pena que o Hleb não venha! Era o ideal! O ano passado tinhamos Ramires que ajudava mais a defender e Di Maria para desiquilibrar. Se viesse o Hleb ficavamos com uma coisa parecida mas com os lados trocados, com Salvio na direita e Hleb na esquerda! Na minha opinião tacticamente ainda seria melhor, já que o Coentrão é muito mais ofensivo que o Maxi! Ainda por cima perdemo-lo para o Birmingam, sinceramente não percebo, mas lá devemos ter as nossas razões!

Tenho também pena que não venha mais niguém, parece-me que fica a faltar claramente alguém para o lado esquerdo! Em ultimo caso que viesse um lateral!

Pedro Veloso 31 de agosto de 2010 às 11:31  

Obrigado Mac.

Percebo e concordo com a ideia dos "lados trocados", mas ainda assim o Hleb é bastante mais ofensivo do que alguma vez o Ramires foi, é um jogador que pensa sobretudo em atacar (embora seja competitivo e ajude a defender). Eu tenho dúvidas é que o Salvio se sinta bem como médio-ala, ele que na Argentina sempre foi avançado. Preferia talvez Hleb à direita e Gaitan à esquerda.

Alguns blogs ainda insinuam que poderá haver algum volte-face e ele vir (mas os jornais dão-no certo no Birmingham infelizmente), ou então o Granero, de que eu também gosto.

Pa o Birmingham agora tem lá um milionário asiático a mandar também, acho que ele queria 230 mil euros de salário e o nosso tecto é 150 mil.

JUSTICEIRO DE ALFARVES 31 de agosto de 2010 às 18:32  

Dói, não doi, oh Pedro Veloso? É bom para sentires na pele o que os "OUTROS" sofreram na época passada; AGUENTA.

Pedro Veloso 31 de agosto de 2010 às 22:40  

Na época passada? Sofreram golos e mais golos...

Mac 31 de agosto de 2010 às 23:56  

Sim, obviamente que o Hleb é muito mais ofensivo que o Ramires. Mas se ele viesse, era sem dúvida o médio ala que melhor defendia do plantel. Acho que era o que faltava para equilibrar o meio-campo.

Pois talvez Hleb á direita e Gaitan á esquerda fosse mais forte mas continuo a achar que era mais útil equilibrar a equipa pelo lado esquerdo.

Se não vier ninguém tá-se mesmo a ver que por exemplo Lyon e Schalke fora vai ser Gaitan e Amorim. Gosto muito do Amorim, mas para mim ainda é um suplente de luxo. E faltam-lhe alguns rasgo e velocidade para ser indiscutivel na direita.