O Derby

Bom jogo no Alvalade XXI, ontem à noite. Rico tacticamente (muitas variantes ao longo do jogo), bem disputado apesar do relvado que estava efectivamente muito mauzinho como pude ver in loco. Não houve, é certo, muitas oportunidades, mas também isso é o normal num clássico entre grandes equipas; sinceramente não percebo por que razão hoje apareceram muitos jornalistas e comentadores a criticar tal facto.




Começou bem o Benfica nos primeiros cinco minutos, com personalidade, mas duas perdas de bola em lances praticamente consecutivos, de David Luiz e, creio, Aimar, a possibilitar contra-ataques perigosos, galvanizaram a equipa da casa, que arrancou para uns bons minutos iniciais. Carvalhal surpreendera com a entrada de Adrien para o miolo e a derivação de Miguel Veloso para o flanco esquerdo do meio-campo e de Vukcevic para a direita. Se é certo que "desterrar" Veloso, tão-só o jogador em melhor forma nos leões, para uma ala, retira algum poder organizativo à equipa, a entrada de Adrien permitiu garantir alguma superioridade no meio campo no início da partida (que poderia ter surtido ainda melhor efeito não fora o irrepreensível posicionamento e capacidade de luta de Javi García).

Ainda durante a melhor fase dos leões, que contudo não ameaçavam seriamente a baliza, surgiu a primeira oportunidade da partida, num bom movimento de Cardozo sobre Polga a culminar num remate fraco. Pouco depois, cerca dos 18´, Jesus mexe, retira Aimar da confusão e coloca-o do lado direito, com mais espaço, por troca com Ramires que veio para o centro do terreno. Logo a seguir, o Sporting de rajada cria duas boas chances, primeiro por Polga que falha um golo cantado em excelente posição, e depois por Liedson na sequência de óptimo trabalho individual sobre Sidnei. Valeu Quim a opor-se ao remate do luso-brasileiro.



Após estes dois lances, a alteração táctica de Jesus começou então a provar-se válida. Ramires, autor de grande exibição, tomou literalmente conta da zona central do terreno, apoiando Javi Garcia, Saviola auxiliou também ao recuar mais no terreno, jogando sempre entre linhas, e com isso o Benfica passou a controlar melhor a dinâmica do Moutinho e o jogo na sua globalidade. Além de que Aimar apareceu mais a desequilibrar no flanco direito, por exemplo arrancando um amarelo a Polga.

O SLB arrancou então para 20 minutos de bom nível, jogados no meio campo do adversário, com óptimas trocas de bola e penetrações, mas a boa performance da defesa leonina, o desacerto no último passe (o Benfica esteve muitas vezes nas imediações da área leonina, na sequência de lances bem desenhados, como aquele que deu origem a remate de Ramires em boa posição) e alguma desinspiração, sobretudo de Di María, que nesse período se fartou de estragar lances com más conclusões, inviabilizou que a equipa pudesse ter marcado ou sequer criado uma posição flagrante de remate.

Chegou-se ao intervalo, sem mexidas, e no reatamento a toada do jogo manteve-se durante quinze minutos: sinal + para o SLB, mais posse de bola, vários cantos nessa fase e o incentivo extra de estar a atacar de frente para os muitos adeptos encarnados. O Dí Maria apareceu mais, arrancou cruzamentos perigosos, mas sem seguimento. Sentiu-se também na altura que Adrien (o que é natural dado o pouco ritmo), depois de excelente primeiro tempo, "deu o berro", tal como, em menor grau, aconteceu com o Matías. E isso, claro, ajudava a empurrar o Sporting para trás. De repente, a ficha eléctrica do Sporting - ligada e desligada várias vezes ao longo do jogo - acendeu de novo, com um grande Moutinho a comandar, e ganharam uma série de cantos e segundas bolas seguidas, durante alguns minutos, que acordaram os adeptos do Sporting, me fizeram tremer lá no meu canto do estádio, e se traduziram num par de lances de grande perigo: remate do meio da rua de Miguel Veloso, puxado ao poste, com Quim a assinar defesa portentosa e no canto seguinte novo remate perigoso de ressaca do Moutinho.

Felizmente este período não durou muito, para o que contribuiu nova intervenção acertada do Jesus, tirando Aimar e colocando Rúben Amorim que entrou muito bem, com a clarividência que se lhe reconhece, o que permitiu ao Benfica recuperar o ascendente e arrancar para vinte minutos finais de muito bom nível. Creio que aí a equipa percebeu que o Sporting, em quebra física, não ia ter capacidade para muito mais e se soltou mais para de facto procurar a vitória. Duas grandes oportunidades, a de Dí María mais uma vez culminada com um remate sem colocação (urge continuar a trabalhar a finalização do argentino, que está péssima, vê-se que ele está já naquela fase em que pensa que vai falhar e por isso chuta de qualquer forma, nem coloca a bola) e depois a do Ramires que ainda hoje não acredito que não entrou. Se havia alguém que, aliás, o merecia, era o Queniano. Além de um remate em boa posição do Rúben, e de cabeceamentos em zona de golo de Cardozo e Coentrão. Creio também que as substituições do Sporting não resultaram; em particular, a saída do Vuk que, pese embora a falta de cultura táctica e excesso de individualismo, sempre assustava a defesa do Benfica com excelentes diagonais.

Chegou-se assim ao final do jogo.



Olhando mais o meu clube, e ao contrário dos idiotas que pensavam que íamos dar 5 ou 6 e que por isso apanharam uma grande desilusão, acabei por sair do estádio bastante satisfeito. Naturalmente não de forma total, porque queria ganhar, e podíamos tê-lo conseguido, mas porque, a par da vitória em Goodison Park com o Everton, foi este o encontro que mais me deu garantias de que o SLB está já numa fase de maturidade que lhe permite ter vários registos. Não só ser aquela equipa espectacular das goleadas em casa (e que, como temos visto ultimamente, vai ser difícil manter, até porque, como disse o Jesus, o efeito surpresa do início de época vai-se diluindo), mas também ser tranquila, fria e matreira para jogar com a classificação, sem entrar em paranóia por não estar a ganhar, até porque se percebeu que estávamos a jogar com um rival que ontem foi isso mesmo, um rival competitivo, sólido, não a equipa péssima destes primeiros meses da época. E um ponto num rival directo nunca é mau.

Ontem a estratégia foi acertada ao longo do jogo, os jogadores estiveram calmos (mesmo aquelas perdas de bola iniciais não foram por estarem borrados) e, malgrado a menor inspiração individual dos artistas, deveríamos ter conseguido a cereja no topo do bolo que seria um golo nos últimos vinte minutos. Aliás, tive o prazer de ver nesta fase o meu clube, que não era quem precisava de ganhar, ser a única que procurou o golo com afinco, carregar e estar perto dele em várias ocasiões. Foi pena não o lograr, mas estou mais convicto da solidez e capacidade da equipa do que depois de dar 8 ao Setúbal, 4 ao Belém, 5 ao Leixões, 6 ao Nacional ou 5 ao Everton, por mais que isso seja muito agradável.




Em suma, e peço desculpa por já me estar a alongar, foi um bom jogo, em que o resultado se acaba por aceitar face ao equilíbrio de oportunidades (qualquer equipa podia ter ganho). No entanto, creio que devíamos ter ganho porque o SLB teve o domínio durante mais tempo, mais posse de bola, mais remates, maior consistência e futebol mais bem jogado. Creio que este último elemento é indiscutível, o Sporting esteve por cima em alguns períodos, mas muito à base de cantos, segundas bolas, não por desenvolver propriamente jogo corrido e lances bem desenhados, o que também não surpreende porque, é um facto, temos mais bons jogadores e de maior capacidade técnica do que o rival.



Última nota para os destaques individuais: do lado encarnado, Ramires (o melhor em campo para mim, sempre a um nível altíssimo em qualquer posição), Saviola, Javi García e Quim, com uma defesa das que ganham jogos; no Sporting, Polga de volta ao seu melhor, Veloso e Moutinho foram os destaques.


19 Passes de rotura:

Tomás Pipa 30 de novembro de 2009 às 01:54  

Veloso não falas da arbitragem sei eu bem porquê. Lol... a tentar branquear!

A ganhar alguém que fosse o Benfica? Então, não brinques comigo..

Pedro Veloso 30 de novembro de 2009 às 02:00  

Lol é para não misturar assuntos nos vários posts.

Quanto à história do vencedor, se negares com argumentos aceito, mas nada do que digo aí é contestável: equilíbrio de oportunidades, mas o SLB teve mais remates, posse de bola, e melhor jogo. Se não concordas que o SLB teve melhores trocas de bola e jogadas corridas do que o Sporting (o que por si só não vale de nada sem golos, é só um critério para aferir quem estava mais próximo dele), então tudo é possível...Mas frisei também que se pode considerar justo o empate.

Tomás Pipa 30 de novembro de 2009 às 02:04  

A rematar por rematar só para poder ganhar na estatística também eu.

Duarte 30 de novembro de 2009 às 02:05  

O resultado aceita-se perfeitamente. A vitória seria injusta quer para um quer para outro. Dizer-se que o Benfica merecia ganhar e vice versa é puro exagero. O jogo foi mau tecnicamente, o resultado é o espelho disso.

Outra coisa é analisar quem beneficiou mais com o 0-0. O Sporting não foi de certeza, apesar de não ser tão negativo assim porque o título já é uma miragem (recordo que para mim, e como aqui escrevi, já o era antes do arranque do campeonato)e porque está a começar um novo ciclo com um novo treinador.

O Benfica também não deve embandeirar em arco este resultado. É certo que podia ser pior, mas ficou a ideia de que uma abordagem ao jogo mais assertiva poderia ter dado os 3 pontos. Resta saber se para os lados da luz ainda há pernas para isso. É que as equipas de Jesus são conhecidas justamente pelos piques de forma elevadíssimos que depois resultam em descidas abruptas. JJ voltou, a meu ver e à semelhança do que havia feito contra o Vitória para a taça, a ler mal o jogo. O caso mais gritante foi ver o Di Maria em campo os 90 min e a persistência do César Peixoto a titular. Para aqueles que falam na não utilização de alguns jogadores do FCP, eu só pergunto para que foi contratado o Shaffer. Claro que estes erros são admissíveis, JJ é um treinador com um estilo vincado, já fez bons trabalhos noutros clubes, está a ter resultados satisfatórios no Benfica e está a construir o seu curriculum, agora não é, nem nunca será e está anos luz de o ser, o José Mourinho, ao contrário do que alguns dizem convictamente.

Portanto, até ao momento, o único grande beneficiado com este empate foi objectivamente o FC Porto. A ver vamos se a ele se junta o SC Braga.

Tomás Pipa 30 de novembro de 2009 às 02:11  

Duarte, desculpa, mas não podes dizer que JJ está a ter resultados satisfatórios no SLB!! É óbvio que está a ter resultados óptimos, a comparar com o que estamos habituados a ver do SLB...

Duarte 30 de novembro de 2009 às 02:27  

Claro Tomás, tendo o passado do Benfica como background, claro que ele está a fazer muito melhor que os seus predecessores. Agora analisando apenas esta época está, de uma maneira geral, a cumprir com as expectativas. O Benfica está na luta pelo título claramente, já fez excelentes exibições e está praticamente qualificado para a fase seguinte da Liga Europa. Mais do que isto era difícil pedir.

Pedro Veloso 30 de novembro de 2009 às 02:33  

Sim Duarte os resultados do JJ são satisfatórios para um clube como o Benfica, mas em termos relativos, por comparação com o passado recente, têm sido muito bons.

Sobretudo a nível de qualidade de jogo. O ano passado também estávamos bem classificados, mas jogávamos muito pior e pressentia-se a queda (eu sei que vocês este ano também a pressentem, mas é o que querem acreditar porque precisam, não vai acontecer).

Tal como pressentem a tão aguardada melhoria de forma portista, ouço isso desde o empate em Paços, que quando o Porto melhorar é que vai ser, e ainda não vi nada.

Quanto ao facto das equipas de Jesus caírem a pique, não tenho essa ideia sinceramente embora muito se fale nisso (quando tiver tempo hei-de tentar ver a performance das equipas dele ao longo do ano, pelo menos no Belém e Braga, e apresentar aqui), mas pelo menos dizes que é falta de pernas, não chegas ao doping como muitos tipos nos blogs portistas.

Depois, também discordo totalmente de que ele tenha falhado tacticamente, bem pelo contrário, como demonstrei no post. O Di Maria talvez pudesse ter saído, mas com a Naval também se dizia o mesmo e no último minuto arrancou um centro perfeito para o Javi. Quanto ao Shaffer, como se sabe não foi contratado por Jesus (tal como o Patric), pelo que não é da confiança total dele. Por alguma razão pediu o César, que me dá total garantia; não sei porque insistem em dizer mal dele, ainda ontem esteve bem. Além de que o Shaffer tem estado lesionado recentemente.

Duarte 30 de novembro de 2009 às 02:43  

Ainda bem que o César te dá totais garantias, pelos vistos ao JJ também. Espero que ambos continuem a pensar assim durante muitos e bons anos. Eu vejo o César Peixoto dar erros de palmatória, ainda no sábado isso aconteceu em alguns momentos. Não acrescenta nada à equipa, mas ainda bem que pensas o contrário.

Se o Shaffer não tem a confiança do Jesus, então os responsáveis do Benfica não se deviam ter posto a contratar jogadores antes de contratar o treinador.

Duarte 30 de novembro de 2009 às 02:43  
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Veloso 30 de novembro de 2009 às 03:00  

Eu gosto do César, de facto. É competente e, algo que valorizo bastante, um jogador bastante calmo, não stressa, o que nestes jogos grandes ajuda. Além da polivalência. Mas são gostos claro. Com o Jesus já somos dois a gostar dele, talvez o Manú se junte.

Quanto à questão do Shaffer, é um velho debate, se deve haver autonomia da direcção em contratar jogadores; é verdade que no caso do Shaffer e Patric (para já) não deu resultado, mas, em contraponto, conseguiram um jogador da craveira do Ramires. Se tivessem ficado à espera do Jesus tinham perdido um craque.

Manú 30 de novembro de 2009 às 06:21  

duarte nao percebo porque dizes (tu e mais algumas pessoas, incluindo o numero 10) que o cesar peixoto nao justifica jogar.
vejo-lhe bastante experiencia como ja aqui comentei noutro dia, tem qualidade de passe e nao se deixa passar com facilidade.
é um bom defesa esquerdo, nao percebo essa insistencia que ele nao tem valor para jogar.

António Lopes da Costa 30 de novembro de 2009 às 12:19  

O Benfica merecia tanto o pontinho em Alvalade como o Rio Ave também o "merecia" no jogo de ontem no Dragão.

Pedro Veloso 30 de novembro de 2009 às 12:44  

António, com todo o respeito, fica-vos mal essas leituras, parece que viram um jogo diferente. A não ser, claro, que aches que o Rio Ave teve tantas chances como o Porto, o que não me parece ser o caso...Mas cada um vê o jogo com as lentes que quer.

Tomás Pipa 30 de novembro de 2009 às 13:10  

Veloso, explica-me sff, se o Polga não toca no Aimar nem faz jogo perigoso, porque é que há de ser falta?

Manú 30 de novembro de 2009 às 14:21  

eu percebo que queiram levantar a moral apos a crise que passaram, mas nao acho bem isso de dizerem que o sporting foi a unica equipa que quis ganhar e que o benfica nada fez por merecer a vitoria. as oportunidades foram praticamente as mesmas para os dois lados. o benfica esteve por cima do jogo tanto tempo quanto o sporting.

alias, a equipa titular do sporting, ainda que sendo com o intuito de ganhar o meio campo ao benfica tendo la mais unidades, foi mais defensiva que o normal e em muitos momentos do jogo estiveram encostados a defenderem muito bem

António Lopes da Costa 30 de novembro de 2009 às 19:12  

O Rio Ave teve sorte em não ser goleado no Dragão. Mas criou algumas oportunidades.
O Benfica teve alguma sorte em não ter perdido em Alvalade. O Sporting teve mais oportunidades flagrantes. Claro que, em hora e meia, o Benfica criou uma ou outra oportunidade.
Daí a comparação que fiz.
O Benfica teve a sorte de empatar. O Rio Ave teve a sorte de perder pela margem mínima.

Manú 30 de novembro de 2009 às 20:45  

antonio, diz me quantas vezes apareceram jogadores teus em situaçao de finalizar em frente ao gr e quantas apareceram os nossos. olha que a diferença nao é assim tao grande.
o benfica teve grande parte do jogo por cima e fez boas jogadas em que apenas faltava o ultimo passe, o sporting carregou mais atraves de bolas paradas e recuperaçoes de bola.

acho que estao a querer embandeirar em arco e a ganhar moral com uma exibiçao que, tendo sido melhor que o costume esta epoca, nao foi claramente para nos ganhar

Pedro Veloso 1 de dezembro de 2009 às 00:59  

Manú a verdade é só a que escrevi: equilíbrio em oportunidades, em futebol (não em cantos ou bola na frente e fé no levezinho) jogado a superioridade do SLB foi evidente. Mas eles querem-se convencer do contrário, cada um acredita no que quer.

"O Benfica teve alguma sorte em não ter perdido em Alvalade"

O que eu acho incrível é dizer-se isto quando se teve a vaca da vida no falhanço do Ramires.

Manú 1 de dezembro de 2009 às 12:32  

sim o falhanço do ramires e as varias vezes que o benfica chegou com qualidade dentro da area adversaria em posiçao de ter finalizado de melhor forma. quem nao quer ver nao ve mesmo.