De Aveiro a Pequim


O fim-de-semana que passou trouxe-nos o arranque do calendário oficial de futebol em vários dos principais países europeus. Alguns, como França e Alemanha, tiveram mesmo a primeira jornada dos respectivos campeonatos. Na Bundesliga o destaque maior vai para o Wolfsburgo, que sem perder nenhuma pedra fundamental e acrescentando Martins será grande candidato a revalidar o título, até porque o Bayern me parece demasiado remodelado (e o Van Gaal é muito, digamos, imprevisível...). Mas é sempre uma liga com muitas surpresas, boas equipas, e há cerca de seis a oito clubes que podem aparecer sempre como potenciais vencedores. Em França creio que vamos ter uma época interessante, os clubes reforçaram-se bem, sendo que Bordéus e o novo Marselha do histórico Deschamps (uma lenda local), seguidos pelo Lyon, aparecem como favoritos. Destaque ainda para o Paulo Duarte, que, valendo-se da competência mas também certamente de óptimos contactos (a começar pelo facto de ser genro de João Bartolomeu, presidente histórico do União de Leiria), está a conseguir construir uma carreira surpreendente, desde a selecção do Burkina Faso ao Le Mans, que quase bateu o pé este domingo ao Lyon (Lisandro empatou de livre fora de horas).

Contudo, para mim o maior interesse passou por outros destinos, aqueles onde se jogaram as supertaças portuguesa, inglesa e italiana.

Começando pela última, disputada de forma sui generis em Pequim, foi um jogo deveras surpreendente, não só pelo ritmo já apresentado por Lázio e Inter, como pela abundância de oportunidades e jogo aberto, cada vez mais, como sabemos, características arredadas da Serie A. O Inter acabou por perder com muito azar face à avalanche de produção ofensiva que conseguiu, permitindo dois golos contra a corrente do jogo. Mas jogou bem: Etoo enquadrou-se de forma excelente e combinou muito bem com Milito; Stankovic rematou muitas vezes em zonas perigosas; Cambiasso garantiu muita posse de bola a meio campo; a defesa, com a inclusão de Lúcio e com mais rotinas, parece-me poder ser fortíssima, em termos de poder físico o Inter será comparável ao Chelsea, para mim nesse aspecto a equipa mais sólida do mundo. Pontos negativos pareceram-me Thiago Motta - que, pese embora a grande época no Génova nunca achei que tivesse nível para o Inter nem creio suprir o grande défice da equipa, a falta de um criativo a meio campo - e algum afunilamento do jogo pelo centro face ao maior retraímento do Maicon do que é habitual (embora o Etoo tenha compensado algumas vezes porque cai muitas vezes na ala). Se Mourinho tivesse Diego, por exemplo, seria candidato à Champions, assim talvez não. A Lazio, por seu turno, não creio que venha a lutar por mais que pelo apuramento para a Liga Europa: o ataque formado por Zarate e Rocchi, com o apoio de Matuzalém - grande jogo - é bom, mas o resto da equipa banal (à excepção de Pandev, que não jogou, do lateral-esquerdo sérvio Kolarov e o guarda-redes uruguaio Muslera, todos jogadores acima da média).

Em Wembley, Chelsea e Man. Utd reeditaram confrontos recentes, com a lotaria dos penalties a sorrir aos blues desta vez. Não gostei muito do jogo, creio que não foi muito bem jogado, embora a bom ritmo, pelo que ainda é muito cedo para tirar ilações. O Chelsea começou mal, mas melhorou na segunda parte e, se tirar o Mikel da equipa e jogar com Ballack ou Deco (e, já agora, nunca deixar o Bosingwa no banco, preferindo um central adaptado como o Ivanovic) creio ser o grande candidato ao título. Não podem é continuar a sofrer golos decisivos no fim. Pareceu-me também haver bom relacionamento dos jogadores com Ancelloti, visível nos festejos, o que é um bom indicador. Nota também para bons jogos de Nani e Ricardo Carvalho.
Finalmente, o que mais nos diz respeito. A vitória do Porto na Supertaça Cândido de Oliveira, frente ao Paços de Ferreira, que infelizmente os coloca cada vez mais perto do SLBenfica em número de títulos oficiais. Vitória nada fácil, mas merecida, dos dragões. O Paços começou muito bem, podia ter marcado a abrir, mas como tantas vezes acontece com as equipas pequenas -mormente no rescaldo de uma jornada europeia - não conseguiu manter o ritmo durante o jogo de forma constante. O Porto foi tomando conta do jogo, embora sem que o meio-campo tenha garantido de forma sustentada e contínua o controle do jogo, ao contrário do que é habitual: Fernando e Raúl Meireles estiveram abaixo daquilo que sabem, falharam muitos passes, e a fluidez de jogo ressentiu-se.

Por outro lado, a linha de ataque da primeira parte é um erro de casting no meu entender, sobretudo em jogos em que o Porto tem que jogar em ataque continuado. Discordo de quem considera que o Varela é solução ao nível de um Porto europeu, pára muito o jogo com piques inconsequentes e não arrancou um único cruzamento decente. Por outro lado, o Hulk não pode estar preso no centro do ataque, porque lhe manieta a capacidade de explosão e ele não é goleador, e o jogo do Belluschi carece, na minha opinião, de um apoio fixo na área. Um ataque com Rodriguez/Mariano, Hulk e Falcao/Farias no eixo será sempre melhor opção na maior parte dos jogos do campeonato português. A defesa continua muito forte, sendo que aqui o Fucile me parece estar neste momento mais vulnerável que o Álvaro Pereira. Gostava de ter visto Valeri, de quem tenho lido excelentes referências. De qualquer forma, o Porto tem grande margem de crescimento, e o seu nível actual, ainda que muito abaixo do que pode vir a ser, é sempre, como alguém disse, um mínimo alto. Quem me dera defrontá-los já, porque à 14a jornada vai estar incomparavelmente mais forte.

Última nota para um aspecto que me entristece, que é o facto de as supertaças italiana e inglesa terem tido casa cheia e em Aveiro apenas 15 mil pessoas terem aparecido. Obviamente posso aproveitar para salientar as diferenças (gigantescas) de capacidade de mobilização dos adeptos benfiquistas face aos outros, mas sinceramente preocupa-me mais este fenómeno de desertificação do futebol português. Ainda ontem estava a visitar este blog de jogos antigos, o Nacional Maior. Além de me deliciar com autênticas pérolas antigas do nosso futebol, desde o meio campo de luxo do Gil Vicente de Tuck, Caccioli (o Lombardo português) e Drulovic ao tempo em que o Salgueiros e Paços de Ferreira tinham carradas de jugoslavos fugidos da guerra e o Farense búlgaros a brilhar no velhinho São Luís às ordens do Paco Fortes, permite ver os estádios sempre cheios em grandes jogos do tipo Salgueiros-Famalicão ou Tirsense-Guimarães. As claques usam muitas vezes o slogan "ódio ao futebol moderno" e neste aspecto tenho que concordar, o futebol perdeu muito do seu encanto puro.

13 Passes de rotura:

Duarte 13 de agosto de 2009 às 00:03  

Excelente análise da Supertaça e das outras supertaças europeias que se estao a disputar!

e agora ....venha de la´ o nosso Campeonato!

Duarte 13 de agosto de 2009 às 00:03  

Excelente análise da Supertaça e das outras supertaças europeias que se estao a disputar!

e agora ....venha de la´ o nosso Campeonato!

Anónimo 13 de agosto de 2009 às 00:40  

Veloso, o Paulo Duarte lol!

Cada vez mais acho que o J.Bartolomeu (ou será P.Costa por trás?) é mesmo muito influente no futebol.

P.Duarte anos e anos na U.Leiria, inclusive Mourinho explica no livro que nc pôde dispensá-lo pq era sogro do presidente, mas era mt bom rapaz.. tudo bem.


Como treinador vai para a U.Leiria onde corre mal, desce de divisão.

Vai para o B.Faso do nada e corre bem os jogos fáceis e mal (o normal) os jogos dificeis, e do nada vai para o Le Mans, da Ligue 1 francesa. Como?

Cá para mim cheira-me a PC que dá referências boas dele ao Le Mans a pedido do Bartolomeu e depois aproveita para vender o J.Paulo.
Aproveito para dizer que o J.Paulo é um belo jogador e tomara eu tê-lo no Sporting, não sei bem em vez de quem, mas é útil.

Tomás

Duarte 13 de agosto de 2009 às 02:19  

Bom post Pedro. À semelhança do Número Dez também eu estou a gozar uns dias de férias pelo que tenho estado ausente.

Das três supertaças em questão confesso que só me foi possível ver a portuguesa pela TV. Não tenho nada a acrescentar. Reforço apenas aquilo que escreveste em relação ao trio de ataque do Porto. Depois do que tenho visto não me sobram quaisquer dúvidas que Jesualdo parece estar a complicar o que é simples. Para mim o trio atacante devia ser constituído por: Rodriguez, Falcao/Farias e Hulk (nas faixas). Simplesmente assim.

Anónimo 13 de agosto de 2009 às 10:11  

Vou só fazer uma afirmação bombástica:

O Hulk, a meu ver, está nos 10 melhores avançados do mundo e será o melhor jogador do mundo,é impressionante.


Sabiam que o Vilas Boas estava a caminho do Braga (para treinador) e P.Costa ameaçou cortar com os empréstimos caso não fosse o treinador que ele escolhesse? E surgiu Domingos, que diz que fará muito melhor que JJ..

Um abraço,boas férias!
Tomás

Pedro Veloso 13 de agosto de 2009 às 12:54  

Lol realmente a ascensão do Paulo Duarte é daqueles mistérios insondáveis do futebol português...comparável só o Abel Xavier que a certa altura acumulava épocas medíocres mas incrivelmente conseguia sempre manter-se à tona de água, leia-se jogar em equipas com algum cartel.

Essa história do Vilas Boas tem fundo de verdade ou mero rumor? Bem, todos vimos como o Vilas Boas estava decidido que ia sair do Inter - o Mourinho até foi buscar o José Morais para substituí-lo - e de repente "voltou atrás"...

Quanto a isso do Hulk acho um bocadinho exagerado porque é preciso testá-lo mais em jogos oficiais (os números da última época ainda não são especialmente bons), mas acredito que no fim da época concorde contigo (espero que não, seria sinal de uma grande época dele)

Duarte achas que o Porto ainda vai buscar um avançado alto? Não tem ninguém acima de 1,80, fora o Orlando Sá...

Pedro Veloso 13 de agosto de 2009 às 13:08  

Já agora, Duarte e Número Dez, estava a pensar em cada jornada fazer a contabilidade dos pontos perdidos/ganhos pelos três grandes devido a erros (graves) de arbitragem. De forma imparcial. É algo que raramente vejo feito e é sempre interessante fazer-se o balanço acumulado de forma objectiva no fim. Eu escreverei um post com o sumário desses erros depois de cada jornada, e até à jornada seguinte esse post pode ser alterado em função dos comentários e opiniões dos leitores, por forma a ser uma contabilidade o mais isenta e consensual possível.

P.S. Para ser pacífico, um penalty não assinalado vai contar como se fosse um golo mal anulado, mesmo se for a favor do Sporting...:)

Anónimo 13 de agosto de 2009 às 18:16  

Voces podem contar isso, mas atenção:

O Duarte diz que o golo do Petit na luz não entrou. Fala em Supertaça roubada e em tantas mais coisas que só ele viu.

Veloso, vais ver que o Benfica é de longe o mais beneficiado, se fosse a época passada então..!

Tem fundamento tem, vem da boca do irmão do Vilas Boas, o João.
Ele ía mesmo embora, não te lembras que ante de se apresentar o Domingos, apareceu num jornal : "Braga já tem treinador e não é Domingos" , lembras-te? Depois o Domingos re-apareceu..

Anónimo 13 de agosto de 2009 às 18:16  

Voces podem contar isso, mas atenção:

O Duarte diz que o golo do Petit na luz não entrou. Fala em Supertaça roubada e em tantas mais coisas que só ele viu.

Veloso, vais ver que o Benfica é de longe o mais beneficiado, se fosse a época passada então..!

Tem fundamento tem, vem da boca do irmão do Vilas Boas, o João.
Ele ía mesmo embora, não te lembras que ante de se apresentar o Domingos, apareceu num jornal : "Braga já tem treinador e não é Domingos" , lembras-te? Depois o Domingos re-apareceu..

Anónimo 13 de agosto de 2009 às 18:16  

Voces podem contar isso, mas atenção:

O Duarte diz que o golo do Petit na luz não entrou. Fala em Supertaça roubada e em tantas mais coisas que só ele viu.

Veloso, vais ver que o Benfica é de longe o mais beneficiado, se fosse a época passada então..!

Tem fundamento tem, vem da boca do irmão do Vilas Boas, o João.
Ele ía mesmo embora, não te lembras que ante de se apresentar o Domingos, apareceu num jornal : "Braga já tem treinador e não é Domingos" , lembras-te? Depois o Domingos re-apareceu..

Pedro Veloso 13 de agosto de 2009 às 21:45  

"se fosse a época passada então..!"

???? lol tas a dizer que ha coisas que so o Duarte viu, mas olha que tu tb...

alias, se queres que te diga a minha ideia ao fazer isto foi desmistificar a ideia dos coitadinhos - leia-se scp - que são sempre prejudicados. Vou-te abrir os olhos:)

Sim lembro-me disso, mas na altura falou-se que esse treinador era o...Quique, nunca tinha ouvido do Vilas Boas. Mas acredito

Anónimo 14 de agosto de 2009 às 11:24  

Agora vamos mesmo contabilizar, e digo-te:

Penalty do Lisandro no Dragão contra o SL Bisca Lambida não conta, é um lance polémico, dá para os dois lados, tal como a mão do M.Vítor na Luz contra o Nacional, são lances polémicos e temos que dar o benefício da dúvida ao árbitro.
O Paulo então disse que o lance do M.Vitor é tudo menos mão, é preciso ser faccioso.

E mais, Veloso, vais ver, neste campeonato, o Sporting será campeão com 10 pontos de avanço pelo menos.

Tomás

Pedro Veloso 14 de agosto de 2009 às 13:26  

"é um lance polémico, dá para os dois lados"

porra tomás o ódio ao SLB cega-te

"o Sporting será campeão com 10 pontos de avanço pelo menos"

O que vale é que eu sei que não acreditas nisso. Olha vê lá é se o teu clube deixa de fazer figuras tristes como ser gozado pelos dirigentes do são paulo