O novo Real Madrid

A semana que passou ficou indelevelmente marcada pelas transferências de Kaká e Cristiano Ronaldo para o Real Madrid. Trata-se do regresso esperado da politica de Zidanes e Pavones (bem, até agora só há Zidanes...) que caracterizou a linha de Pérez e Valdano na primeira passagem de ambos pelo Real nos primeiros anos deste século . Muito já se tem falado sobre as verbas astronómicas pagas pelos jogadores, pelo que gostaria de me focar antes no plano desportivo, e fazer um exercício de imaginação sobre o que poderá ser, e como poderá jogar, o novo Real.


O novo técnico, o chileno Manuel Pellegrini, tem uma ideia de jogo, patenteada nos últimos anos no Villareal, baseada num 4-4-2, clássico ou não, com algumas semelhanças com o que a selecção espanhola habitualmente usa. Aliás, dois dos seus ex-jogadores de meio campo, Marcos Senna e Cazorla, são presenças regulares na equipa de Del Bosque. É certo que Pellegrini terá sempre, em face da qualidades dos jogadores contratados, de arranjar forma de os compatibilizar, mas creio que tentará - até por ser um técnico de ideias fixas - enquadrá-los no sistema que mencionei.


Nesse sentido, e começando pela defesa (que não é propriamente, como sabemos, o sector-alvo da filosofia do presidente), já que Casillas é intocável atrás, o Real precisará urgentemente de um central de qualidade para suprir a saída de Cannavaro para a Juventus e fazer dupla com Pepe (ou Metzelder). Tem-se falado mais de um possível ataque a Maicon, não sei se com ideias de fazer derivar Sergio Ramos para o centro. À esquerda, creio que se optará por fazer recuar Marcelo – que com Juande Ramos vinha jogando muito a ala esquerdo – para concorrer directamente com Heinze. Penso contudo que é uma posição em que o Real se deveria reforçar (Valdano já o mencionou), porque Heinze comete frequentemente erros fatais e Marcelo, na linha do típico lateral brasileiro mais habituado a fazer todo o corredor num 3-5-2, ainda ataca muito melhor do que defende.





No meio campo as incógnitas serão talvez ainda maiores. Desde logo porque, com Kaká, o técnico tenderá a abdicar do duplo pivot. Muito provavelmente, teremos uma reedição, com semelhanças óbvias, do velho Real galáctico de Del Bosque. À frente da defesa, Lass Diarra (um clone de Makelele) terá alguma supremacia teórica sobre Mamadou Diarra ou Gago, porque é mais completo do que qualquer um destes dois, ainda que por exemplo perca muito em termos físicos para o seu homónimo. Depois, Kaká fará de Zidane, e resta saber quem serão os dois alas. Um é óbvio (Cristiano, como Figo), para o outro aceitam-se apostas, que eu dispensaria se a contratação de Ribéry já estivesse confirmada. Se o francês chegar Robben vai querer sair, e o Real não se importará muito dado o registo crónico de lesões do ex-pupilo de Mourinho no Chelsea. Se Ribéry não vier, aí Pellegrini poderá escolher um 4-4-2 mais clássico (dois extremos puros) com Robben ou mais conservador com Sneijder ou Van der Vaart a derivar para um dos flancos.


Para a frente, várias dúvidas para dois lugares. Raúl obviamente não sai, mas poderá muito bem não ser primeira escolha se chegar David Villa (será titular de caras). Neste momento ainda temos Van Nistelrooy a regressar de lesão e dois jogadores que muito aprecio, Huntelaar (uma máquina de golos que deveria ser melhor aproveitada) e Higuaín. Destes três o argentino ficará de certeza, e um dos holandeses deverá sair. Provavelmente tentar-se-á combinar um avançado mais móvel com um goleador puro, mas só quando o plantel estiver definido se poderá ter mais certezas.


À partida, isto é um plantel de sonho (com Ribéry e Villa então...), embora claramente muito mais forte do meio-campo para a frente do que para trás. Como sempre, o Real começou a construir a casa pelo telhado. Mas este telhado pode ser tão mais forte do que o dos outros que chegue e sobre. Pellegrini é um excelente treinador, mas terá que conseguir resultados desde o início, até por ser muito menos consensual do que os também falados Mourinho ou Wenger. Dos clubes europeus históricos, o Benfica é o maior cemitério de treinadores desde 2000. Adivinhem quem se segue neste ranking peculiar (visualizar aqui)...aguardemos.


Pedro Veloso

5 Passes de rotura:

Duarte 15 de junho de 2009 às 01:29  

Excelente post, Pedro. Uma análise total ao actual Real Madrid. Poupaste-me a esse trabalhão e estou-te imensamente grato:)
Acho contudo, para me debruçar sobre o conteúdo do teu comentário, que a legião holandesa sairá na sua quase totalidade. Van der Vaart pouco ou nada jogou e não será surpresa se for vendido, o que para mim é incompreensível (merecia esse prémio, quanto mais não seja pelo facto de ter uma mulher deslumbrante=)), Huntelaar ainda mal tinha aterrado em Barajas, em Janeiro, e já a Marca dizia que ele podia sair. Já Sneijder e Robben devem funcionar como moedas de troca nos negócios galácticos de Florentino, e que moedas diga-se de passagem. De Drenthe não falei já, porque concordarás que tem o destino traçado. Resta Van Nistelrooy, esse deve ficar, a menos que o City faça uma boa proposta, como já ouvi uns zumzuns.
Não concordo quando dizes que Kaká funcionará como novo Zidane. O brasileiro não é um médio ofensivo como era o francês, alias no futebol actual excluindo Riquelme, Deco e eventualmente Ballack, poucos são os médios ofensivos puros. Vejo muito mais Kaká como segundo avançado, jogando nas costas do ponta de lança, vagabundiando pelo terreno, sem ao mesmo tempo perder influência na zona de construção.
Não me admiraria se no meio campo, Lass e Guti fossem os eleitos, isto se não houver reforços para este sector.
Na defesa a quase certa chegada de um lateral direito, seja Maicon, Albiol ou outro qualquer, fará com que a dupla de centrais seja formada por Pepe e Sergio Ramos.

Numero Dez 15 de junho de 2009 às 01:46  

Muito bom post pedro! Exelente mesmo! Bem vindo ;)

Pedro Veloso 15 de junho de 2009 às 10:18  

Obrigado a ambos:)

Duarte, perfeitamente de acordo. O Kaká é muito mais, como dizes, um segundo avançado capaz de aparecer na área e marcar muitos golos, por contraponto ao jogo mais cerebral,de nº10, de Zidane. Só acho que com a abundância de avançados puros (que Kaká não é, embora marque mais que muitos), mais a mais se chegar mais alguém, o treinador vai ser "forçado" a recuar o brasileiro para uma zona mais de construção, por isso o coloquei ali

Pedro Veloso 15 de junho de 2009 às 10:18  

Obrigado a ambos:)

Duarte, perfeitamente de acordo. O Kaká é muito mais, como dizes, um segundo avançado capaz de aparecer na área e marcar muitos golos, por contraponto ao jogo mais cerebral,de nº10, de Zidane. Só acho que com a abundância de avançados puros (que Kaká não é, embora marque mais que muitos), mais a mais se chegar mais alguém, o treinador vai ser "forçado" a recuar o brasileiro para uma zona mais de construção, por isso o coloquei ali

João 25 de junho de 2009 às 19:01  

Gostei imenso do artigo como já sabes!Continua a divertir-te e a escrever;) Fiquei um bocado decepcionado pela situação do Villa, que "sonhava" ver no Real, mas espero para ver quem vai mais entrar nas posiçõs ofensivas. Abraço!