O Casillas português

Longe vão os tempos em que Vítor Baía era dono e senhor das redes do FC Porto e da selecção, e Preud’Homme defendia a baliza do Benfica. Daí para cá, o marasmo que se instalou em torno da qualidade, ou falta dela, dos guarda-redes da liga portuguesa foi evidente. Um problema que se estendeu à selecção, onde o suplício de ter de ver Ricardo a titular durou dois euros e um mundial.
Hoje, para falar só nos três grandes, no FC Porto, Helton é de uma inconstância tremenda, falhando quase sempre nos jogos chave. O Benfica hesita entre Quim e Moreira para a titularidade. Já o Sporting aposta em Rui Patrício que, à falta de melhores recursos, tenta defender a bola com os olhos.
Ao mesmo tempo, em Matosinhos, há um rapaz, que até foi dispensado do Sporting, que tem mostrado credenciais para ser titular indiscutível em qualquer um destes três clubes. Estou obviamente a falar de Beto, o guarda-redes do Leixões. Já se sabe que o futebol é um jogo colectivo, mas, no plano individual, Beto foi sem dúvida o principal responsável pela excelente época dos homens de Matosinhos.
Agora que estamos em época de defeso, há já quem diga que o seu futuro passará pelo FC Porto, coincidindo com algumas notícias veiculadas a meio da época e que davam o guardião leixonense como reforço dos dragões. Para já, ainda nada está confirmado e pessoalmente não me admiraria se o visse rumar a um campeonato como o russo e o romeno, onde os jogadores são bem pagos, mas normalmente baixam qualitativamente e acabam por se perder, não restando deles por cá, nada mais do que a nostalgia de os rever uns anos depois, numa caderneta de cromos antiga que qualquer um de nós tenha guardada.
Na selecção, Carlos Queiroz lá reconheceu o seu talento, apostando nele num jogo particular, depois de Eduardo ter provado vezes sem conta não estar à altura do lugar. Beto teve uma estreia auspiciosa, na medida do possível, pelo que se espera que tenha convencido definitivamente os responsáveis do Futebol Clube do Porto. Isto porque o Benfica, mesmo estando em busca de um guarda-redes, terá Jesus como treinador que, como é público, não morre de amores pelo agora internacional português e, no Sporting, Paulo Bento manterá a sua teimosia “scolariana” e irá, uma vez mais, apostar em Patrício para a titularidade.
Ao escrever este post veio-me à memória a final da champions de 2002. O título de melhor clube da Europa era disputado entre o Bayer Leverkusen de Lúcio, Ballack, Berbatov e Zé Roberto, e o favoritíssimo Madrid de Figo, Zidane e Raul. O Real acabou mesmo por ganhar por 2-1, mas o Leverkusen vendeu cara a derrota, lançando, mesmo nos minutos finais, uma avalanche ofensiva sobre o seu adversário. É nesta altura que César, o titular da baliza merengue, se lesiona, sendo substituído por Iker Casillas que tinha passado a época inteira a suplente. Casillas aguentou, com apenas 21 anos, a investida alemã, em 5 ou 6 minutos verdadeiramente electrizantes e que devem ter causado vários ataques cardíacos entre os adeptos espanhóis e ao invés, constituído um verdadeiro exame à paciência dos germânicos. A partir daí é o que se sabe, Casillas conquistou definitivamente a titularidade até aos dias de hoje, sendo considerado um dos melhores do mundo, para mim o melhor.
Às vezes é só de uma pequena oportunidade que se constroem grandes carreiras e Beto tem tudo para ter uma belíssima passagem pelo futebol, assim lhe seja dada a tal possibilidade. Para aqueles que dizem que é baixo, a resposta que tenho é tão simples e sucinta como isto: os homens não se medem aos palmos.

Duarte

2 Passes de rotura:

Pedro Veloso 15 de junho de 2009 às 21:25  

Excelente analogia com o Casillas e o seu percurso, Duarte. No entanto, há algo que não consigo deixar de desconfiar relativamente ao Beto, que é uma excessiva tendência para a fotografia. Mas se calhar é embirração minha:)

Duarte 15 de junho de 2009 às 22:36  

Talvez, Pedro. Porém isso é uma coisa que também resulta da falta de experiência num clube com maiores ambições.
O Beto é ambicioso e ainda bem, é possível que às vezes tenha tendência para um certo exibicionismo desnecessário como forma de chamar a atenção. Com o tempo irá mudar, não duvido.